À semelhança da Grécia, em Portugal a factura da crise económica vai ser paga pelos sectores mais vulneráveis da sociedade. Com o típico encolher de ombros dos conformados, os comentadores ditos “sensatos” e que apoiam a contragosto o PEC dizem que “não há alternativa: o défice tem de ser reduzido, e já!; não vão os mercados finaceiros expulsar-nos do paraíso”.
Deixando de lado dúvidas sobre a viabilidade e sensatez de tal plano (economistas como David Blanchard e Paul Krugman afirmam que cortes drásticos na despesa pública em plena recessão podem comprometer a retoma económica), queria debruçar-me sobre as consequências sociais do PEC do governo socialista. Os cortes no Rendimento de Reinserção Social e noutros programas de ajuda aos maus vulneráveis deixaram os socialistas João Cravinho, João Pedroso e Pedro Adão Silva (entre outros) em estado de choque. E com razão. Portugal ocupa já o segundo lugar no ranking dos países da OCDE com as maiores desigualdades sociais. Com o PEC, Portugal vai seguramente disputar o primeiro lugar aos Estados Unidos.
Mas mais do que chocantes, estes cortes revelam uma miopia política extraordinária.
Como revelaram os epidemiologistas britânicos, Richard Wilkinson e Kate Pickett no seu estudo The Spirit Level: Why More Equal Societies Almost Always Do Better; (London: Allen Lane, 2009), as desigualdades sociais são a causa da recessão. Estas desigualdades são também contraproducentes, pois afectam a qualidade de vida de toda a população a todos os níveis.
Os países mais desiguais da OCDE (Estados Unidos, Portugal e Reino Unido) partilham entre si uma série de problemas: taxas elevadas de insucesso escolar, de homícidios, de doenças cardiovasculares, de obesidade, de depressão, bem como uma menor esperança média de vida e fraca mobilidade social. Estas sociedades têm também uma elevada proporção da população encarcerada, e o maior número de adolescentes grávidas do mundo desenvolvido, revelam Wilkinson e Pickett no seu estudo. Mais. Estes problemas não afectam apenas os mais pobres destas sociedades; afectam toda a gente. Os bilionários norte-americanos têm vidas mais curtas, mais ansiosas e menos saudáveis do que as dos seus comparsas finlandeses.
No Reino Unido, o estudo de Wilkinson e Pickett foi levado a sério por todos os partidos políticos. Seria bom que em Portugal o governo e a oposição fizessem o mesmo antes de se lançarem nos cortes selvagens aos serviços públicos.
Os países mais desiguais da OCDE (Estados Unidos, Portugal e Reino Unido) partilham entre si uma série de problemas: taxas elevadas de insucesso escolar, de homícidios, de doenças cardiovasculares, de obesidade, de depressão, bem como uma menor esperança média de vida e fraca mobilidade social. Estas sociedades têm também uma elevada proporção da população encarcerada, e o maior número de adolescentes grávidas do mundo desenvolvido, revelam Wilkinson e Pickett no seu estudo. Mais. Estes problemas não afectam apenas os mais pobres destas sociedades; afectam toda a gente. Os bilionários norte-americanos têm vidas mais curtas, mais ansiosas e menos saudáveis do que as dos seus comparsas finlandeses.
No Reino Unido, o estudo de Wilkinson e Pickett foi levado a sério por todos os partidos políticos. Seria bom que em Portugal o governo e a oposição fizessem o mesmo antes de se lançarem nos cortes selvagens aos serviços públicos.
3 comentários :
"não vão os mercados finaceiros expulsar-nos do paraíso"
Eu parece-me que não se compreende bem, nesta frase, o que está em causa. O que está em causa é que Portugal vive de pedir dinheiro emprestado ao estrangeiro. Não se trata portanto de alguém nos expulsar do paraíso, trata-se apenas de pessoas decidirem, com toda a legitimidade, que não estão dispostas a emprestar-nos mais dinheiro.
Se a Eunice vai a um banco pedir um empréstimo para financiar a compra de um carro e o banco lhe diz que não empresta, a Eunice não dirá que a estão a expulsar do paraíso - dirá simplesmente que o banco decidiu conforme o seu melhor julgamento.
Ninguém é obrigado a emprestar dinheiro a outrem, e ninguém se pode queixar de que os outros não lhe emprestam dinheiro.
Luís Lavoura
A Eunice presume, a meu ver erradamente, que o Rendimento Social de Inserção e medidas análogas diminuem as desigualdades. Eu diria que escassamente fazem tal coisa. O RSI é apenas um paliativo para as desigualdades. O RSI apenas elimina os casos mais gritantes de pobreza, mas não cura em geral a desigualdade, a qual radica numa educação deficiente e na falta de produtividade das pessoas. A sociedade permanece desigual, apenas a miséria mais gritante é colmatada.
Luís Lavoura
Outra excelente estreia.
Bem vinda, Eunice!
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