- «O que eu já não compreendo, nem apoio, é que o PS e o Governo entendam, do mesmo passo, introduzir uma outra inaceitável discriminação contra os homosexuais: e é isso o que acontecerá, se for aprovada a inclusão no Código Civil da interdição de adoptar, para homosexuais que se casem. (...) E assim, ficará em causa a coerência política desta iniciativa do PS. Até porque, além de inconstitucional, esta discriminação é duplamente injusta, se tomarmos em conta que a lei hoje não proibe cidadãos homosexuais, solteiros ou casados, de adoptarem crianças. É injusta para os homosexuais que, se quiserem adoptar, terão se se manter solteiros ou entrar em casamentos heterossexuais de fachada. E é também muito injusta para os milhares de crianças institucionalizadas no nosso país, que desesperam por famílias de acolhimento.» (Causa Nossa)
- «O abominável comentador das neves está que não pode. Imagine-se que o governo Sócrates permite e abençoa que "(...) um homem [possa] abandonar a família para fugir com a mulher de outro". Isto contra os verdadeiros sentimentos da sociedade, que só por apatia não sai à rua de barba furibunda e pedra em punho. Não muito perto do seu habitat natural mas também escondidos nas montanhas da Ásia, há uns cavalheiros que continuam a bater-se pelos mesmos ideais do comentador do DN. E que, tal como ele e apesar dos séculos, mantêm uma confiança absoluta na sua própria rectidão e no direito divino de a impor aos outros. Desgraçadamente, só não partilham da mesma fé em referendos.» (Verdade ou Consequência)
"Uma escuta aqui, uma escuta ali"
Há 59 minutos
13 comentários :
«O que eu já não compreendo, nem apoio, é que o PS e o Governo entendam, do mesmo passo, introduzir uma outra inaceitável discriminação contra os homosexuais»
Eu compreendo perfeitamente.
Não faz sentido do ponto de vista ético e legal, mas faz sentido do ponto de vista político.
E essa é uma cedência que compreendo, parece-me aceitável. Vivemos em democracia, e sem esta cedência possivelmente não se teria chegado tão longe.
Percebo que os políticos dos partidos com ambição de poder queiram, a este respeito, dar um passo de cada vez.
Do ponto de vista político, é uma medida prudente demais. Poderia até dizer «cobarde». Mas que é apoiada pela generalidade dos movimentos de homossexuais, tanto quanto vejo.
De qualquer modo, trata-se de criar uma discriminação, o que só vai arrastar o problema no tempo.
Não me parece prudente de mais. Por incrível que pareça, conheço muito poucas pessoas acima dos 40 que falem a favor do casamento homossexual. Mesmo pessoas de esquerda.
E que falem contra, não tenho ouvido outra coisa da parte de gente dessa idade.
Claro que isto é a heurística da assessibilidade, teria de ver estatísticas para ver se corresponde à realidade. Mas não é por acaso que esse casamento é permitido em tão poucos países, e até vamos ser algo pioneiros. É realmente uma medida politicamente difícil.
Sou não consigo é compreender porquê.
As sondagens que vi indicam uma maioria estreita no contra. Mas eu diria que as pessoas contra, salvo uma pequena minoria, são muito menos militantes e emocionais nesta questão do que, por exemplo, no caso da IVG.
E a questão da adopção vai colocar-se fatalmente, logo a seguir. O que só prolonga esta questão.
Ricardo:
O PS pode aprovar o casamento sem adopção, porque era o que constava do programa eleitoral.
Como adopção estava fora da equação, a questão do casamento não dominou a campanha eleitoral, e o PS não perdeu muitos votos à custa desta problemática.
Se o PS tivesse proposto a adopção, podia ter tornado este assunto num assunto mais importante, e isso além de poder custar a maioria ao PS, poderia mesmo custar a maioria à esquerda (duvido, mas não é impossível).
Claro que um partido não deve pensar só em função dos votos, e estou disposto a penalizar um partido que o faça. Mas também não sou ingénuo: não esperaria que um partido, para tentar avançar mais rápido nesta questão, fosse correr sérios riscos de perder as eleições.
Pareceu-me um compromisso perfeitamente aceitável.
As eleições já passaram. Foi eleita uma maioria parlamentar apoiante do casamento (explicitamente) com componentes favoráveis à adopção (BE, deputados do PS...). Não creio que fosse uma traição ao eleitorado o PS apoiar agora a adopção.
Esse é um bom argumento.
Mas aí ficava mais delicado recusar o referendo.
Na circunsância actual essa recusa é perfeitamente defensável.
Mas afinal (esquecendo o compromisso eleitoral), qual é a razão de fundo para os casais homossexuais não poderem adoptar? É assim tão importante que leve a que:
a) o casamento apareça sem adopção nos programas eleitorais;
b) se o casamento passa a incluir a adopção, isso dá direito a referendo?
«Mas afinal (esquecendo o compromisso eleitoral), qual é a razão de fundo para os casais homossexuais não poderem adoptar? »
Não me parece que exista nenhuma razão fora do domínio das estratégias eleitorais.
«É assim tão importante que leve a que:
a) o casamento apareça sem adopção nos programas eleitorais;
b) se o casamento passa a incluir a adopção, isso dá direito a referendo?»
Eu não acho que dê direito a referendo.
Eu acho que quem o recusasse nessa circunstância (e deveria fazê-lo, obviamente) estaria numa situação mais frágil.
"O abominável comentador das neves". Épico :)
a mim o que me irrita nestas questões é que vamos pé ante pé com medo de ferir susceptibilidades conservadoras e retrógadas e demoramos 10, 20 anos para fazer um punhado de alterações legislativas que se podiam discutir e fazer numa ou duas semanas... porque depois falta a adopção e depois a eutanásia e depois não sei que mais, e chega a 2020 e ainda andamos nisto... seeeeca.
Ricardo Alves, muito bom este vosso blogue, canudo, e ninguém me dizia nada, sou sempre o último a saber. Pois faço-me seguidor, inclui-o na minha lista de blogues que é obrigatório ver!
saudações republicanas
Também me parece de uma cobardia injustificável proibirem as adopções.
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