quarta-feira, 18 de abril de 2007

Ainda a aplicação do mesmo critério

No artigo em que analisei as habilitações académicas de José Álvaro Machado Pacheco Pereira, o leitor Ferreira Tadeu deixou o seguinte comentário (os sublinhados são meus).
  • «(...) Pacheco Pereira é Professor Auxiliar Convidado do ISCTE, o que é um facto extraordinário por se tratar de alguém que já estava na carreira docente, na mesma escola que o convidou! Como se convida alguém que já está dentro é um mistério das Universidades portuguesas, mas talvez Pacheco Pereira um dia nos ilustre, até pelo seu conhecimento de causa. A posição de Professor Auxiliar requer o doutoramento, coisa a que Pacheco Pereira se eximiu, não por falta de capacidade, vou adivinhar, mas talvez porque tivesse coisas mais importantes em que pensar, como escrever os posts do Abrupto e participar no Flash-Back. Creio ser aceitável - consideradas as fragilidades da protecção social aos docentes universitários que não pertençam ao quadro - que, esquecida ou adiada por incapacidade ou desinteresse a prestação da prova de doutoramento, se mantenha o vínculo entre escola e docente pelo recurso à figura de convidado desde que igualmente se mantenha a categoria. O que não consigo que me façam entender é que se receba como recompensa pelo seu desinvestimento objectivo na promoção na carreira uma posição de Convidado em categoria superior (com reflexos, está bom de ver, no seu vencimento salarial, que passa a ser de 82% do de um Professor Catedrático, em vez dos 64% que auferiria como Assistente).»

A ser correcta esta informação, o licenciado em Filosofia Pacheco Pereira é portanto Professor Auxiliar Convidado no departamento de Sociologia do ISCTE. Note-se que a posição de Professor Auxiliar é habitualmente reservada a doutorados. Ignora-se porque passou a Professor Auxiliar, se pelos méritos como investigador se pela sua carreira enquanto docente. Registe-se o que o próprio Pacheco Pereira afirmou, sobre as suas capacidades de docência, numa entrevista de 1994:

  • «Andei de escola em escola, fiz aquela diáspora dos professores, estive em Coimbra, em Trás-os-Montes, no Porto, mas, francamente, acho que não era bom professor.»

Pacheco Pereira não ocupa qualquer cargo político mas, enquanto mediocrata, tem mais poder do que alguns ministros. Não está desmentido que tenha escrito a sua própria página na wikipedia.

9 comentários :

P Amorim disse...

Em geral acho que dizer que "não está desmentido que" ou equivalente é uma má informação. As negativas são por demais usadas no nosso "jornalismo" para confundir os leitores e penso que, embora de certeza sem essa intenção, a figura devia ser aqui evitada.

Ricardo Alves disse...

O uso desse «não está desmentido» é, evidentemente, irónico. ;)
Todo o caso «Sócrates» tem sido construído com informações que «não estão desmentidas» mas também não estão, rigorosamente, confirmadas.

no name disse...

parece-me que a razão de ser da posição de "convidado" tem precisamente a ver com a falta de doutoramento. para se ser professor auxiliar, este é um requerimento. mas para se ser professor auxiliar convidado, já não é. com tantas preocupações relativas ao brain drain nacional, não percebo porque, em vez de fazer retornar os cérebros, as universidades nacionais se enchem de gente acéfala, que não consegue identificar as contradições dentro dos seus próprios discursos... (suspiro)

Anónimo disse...

Atento ao óbvio, falhou completamente a identificação do problema, Ricardo S Carvalho, talvez por não lhe ter dedicado tempo suficiente de análise. Tento ajudá-lo: o problema é o de se ser convidado para uma categoria superior a que não se acedeu por não ter, no seu percurso académico, cumprido os requisitos regulares de avaliação da carreira. Depois de exalado o suspiro, e se não reconhece - aqui sim - a contradição, pode explicar-nos a lógica desta peculiar meritologia?

no name disse...

ft, parece-me que está bastante confundido... o comentário era precisamente em relação ao pp, e à falta de sentido da sua posição. naturalmente que existem casos em que paux convidado faz sentido para quem não tem doutoramento, e.g., arquitectos famosos etc. mas neste caso, não faz qualquer sentido, atendendo ainda mais às razões extra que apontei anteriormente. mais claro?

Anónimo disse...

Claríssimo. Mea culpa, agravada por lhe atribuir a si um erro que era meu.

Ferreira Tadeu

Anónimo disse...

Não vejo grande relevância nessa questão das qualificações académicas de Pacheco Pereira, nem encontro sequer disparidade alguma entre a sua posição no caso Sócrates e o que aqui vejo escrito.

Além do mais, há uma diferença muito significativa, claro: é que Pacheco Pereira não desempenha qualquer cargo político de relevo, ao que sei, enquanto José Sócrates é SÓ o PM de Portugal! E como pode alguém que é o nº 3 da hierarquia do Estado falar em exigência e rigor quando patentemente não utiliza para si próprio os mesmos critérios?!

É que o facto de PP merecer ou não credibilidade por se apresentar como mais do que aquilo que é não nos deve causar grande mossa, enquanto o mesmo já não se passa quanto ao PM e o seu prestígio interno e externo. A este propósito, mesmo que a controvérsia até abrande... do que duvido!... a dúvida está lançada e continua ainda por esclarecer.

E atenção, que não se deve subestimar o poder mortífero e desmoralizador de uma dúvida que desmentidos e esclarecimentos patéticos não fazem senão aumentar!!!

Ricardo Alves disse...

«Pacheco Pereira não desempenha qualquer cargo político de relevo»

Tem mais poder do que qualquer secretário de Estado.

Anónimo disse...

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