quinta-feira, 26 de abril de 2007

Revista de blogues (26/4/2007)

  1. «(...) E o meu recado é simples: a democracia é coisa que está sempre em obras, o que é uma chatice. Mas mais vale viver entre andaimes do que entre grades sejam de ferro ou tão só tecidas de medo. E é isso que não é fácil de ensinar a quem nessa altura tinha dez, doze quinze anos para já não falar nos outros ainda mais ovos. E todavia foi por eles, para eles que alguns se arriscaram. Não estou a pedir grande meditação sequer um minuto se silêncio. Prefiro mesmo que o dia tenha sido passado como qualquer outro feriado porque isso é o verdadeiro sinal da vitória: viver na normalidade. (...)» («missanga a pataco 10», no Incursões.)
  2. «Então perto dos 30 de idade, cheguei a 1974 cansado de fascismo. Levei porrada de polícias, andei corrido de escola em escola, meteram-me processos disciplinares, fizeram-me dormir em Caxias, riscaram-me artigos em jornais, escutaram-me conversas e leram-me cartas, vigiaram a forma como namorava, fiz-lhe a guerra nos pântanos da Guiné, recusaram-me empregos por informação policial. Mas enfiei panfletos proibidos, pintei muros e paredes com gritos de rebeldia, mandei à merda oficiais militaristas, li livros e jornais que eles não permitiam, vi filmes clandestinos, conspirei, gritei liberdade e abaixo a guerra colonial frente aos seus focinhos, atirei-lhes com pedras arrancadas da calçada, dei guarida a revolucionários profissionais clandestinos, paguei-lhes como pude. Enfim, levei e dei. Cansado deles, ganhei-lhes quando ainda não estava à espera. Quando Abril chegou, estava tão cansado do fascismo que entrei na festa. Andei na festa (pois se lhes tinha ganho!). Abusei até me cansar dos entorses e descaminhos que só estragavam a festa, acabando por, mais tarde, agradecer aos que derrotaram disparates em que alinhei. Passados 33 anos, não estou cansado da liberdade e da democracia. Tanto que delas quero mais, exijo mais. (...)» («Amanhã, 25», no Água Lisa (6).)

Sem comentários :