sexta-feira, 13 de abril de 2007

pequeninos, mesquinhos e rasteiros

"We see in politicians what we see in rats: creatures so free from conviction, so totally dependent on the temptations and conditioning of their immediate environment, that to understand them requires nothing more complicated than a look at geography and a list of campaign contributors."

Jim Follows 1971

"It is a shame that 90% of the politicians give a bad reputation to the remaining 10%"

Henry Kissinger

É fácil criticar os políticos. Contudo, nunca ninguém critica os jornalistas. E as citações de Follows e Kissinger aplicam-se, cada vez mais, a essa escumalha sem alma nem ideologia, tão desprovida de coluna vertebral, inteligência, consciência, ou moral, que não se pode analisar o seu comportamento sem se sentir a necessidade irreprimível de ir tomar um banho a seguir.

Eu vejo os partidos como organizações formadas algures num lugar geométrico situado entre a ambição, a ganância e a erudição (menos o PP, onde a erudição nunca entrou na equação).

E julgo que nunca foi lícito esperar que os políticos nos dissessem a verdade – os gregos e os romanos escreveram muitas e belíssimas páginas sobre este problema.

Mas há períodos na história em que os princípios e os ideais falam mais alto do que a ambição mesquinha dos políticos e a competição estéril entre vaidades.

Desde o final dos anos setenta, contudo, a concentração da riqueza num pequeno grupo de oligarcas e a destruição da classe média têm vindo a transformar o mundo da política num esgoto para onde drenam os residuos mais abjectos que a sociedade produz. Bush, Berlusconi, Blair, Barroso, Butiglioni, Bolkestein, Wolfowitz, Rove, Cheney, Rice... são todos produto de um processo de filtragem que retira aos políticos qualquer centelha de dignidade, bondade e empatia para com o mundo, os seus habitantes e o ambiente.

Ao pé deles Sócrates é um menino de coro, o capuchinho vermelho, com o seu diploma da Farinha Amparo no cestinho, para ir mostrar à avó... mas os jornalistas descobriram que publicar escândalos vende muito mais publicidade e dá incomparavelmente menos trabalho do que escrever sobre coisas sérias.

4 comentários :

Anónimo disse...

Melhor: queixam-se depois de estarem a ser "usados" numa manobra de distracção!

A entrevista na RTP foi tão bem conduzida que até deram oportunidade ao Sócrates de citar o Abrupto...

dorean paxorales disse...

"Desde o final dos anos setenta, contudo, a concentração da riqueza num pequeno grupo de oligarcas e a destruição da classe média".

Tendo em conta que a classe média e a riqueza nacionais eram praticamente inexistentes nessa altura, não estamos a falar de Portugal, pois não?

Filipe Castro disse...

Estamos. Entre 74 e 82 a classe media em Portugal cresceu e a justica social aumentou, ou seja, dimunuiu o fosso entre ricos e pobres. Os economistas usam um indice (o rendimento medio dos 20% mais ricos a dividir pelo rendimento medio dos 20% mais pobres) que da uma boa ideia da desigualdade. Foi com Guterres que a coisa comecou a descarrilar.

dorean paxorales disse...

Caro Filipe,

E entre 82 e qualquer data até hoje, ela diminuiu alguma vez?
A classe média é um produto da universalização do crédito ao consumo (habitação incluida) e nenhum primeiro-ministro é directamente responsável por temos começado a consumir mais do que produzimos.
A não que se lhe peça para sair da zona euro e aumentar vertiginosamente as taxas de juro. Mas aí estará o governante, de facto, a "destruir" a classe média.