Tal como a generalidade dos cidadãos, tive estima por Fernando Nobre até ao dia 17 de Fevereiro de 2010. Foi há dezasseis mesitos apenas. Nesse exacto dia, escrevi que «dificilmente [votaria para PR] em alguém que nunca foi eleito para um cargo político, nem nunca exerceu um cargo no Governo ou nas autarquias». No dia seguinte, notei a incongruência das suas convicções monárquicas com a candidatura a Presidente... da República, e acrescentei que nos arriscávamos «a perder um bom activista humanitário ganhando um mau Presidente». À época, muitos à esquerda assobiaram para o lado e hesitaram (ou até apoiaram). Mas, à medida que foram fluindo os discursos e as entrevistas, as contradições e a postura grandiloquente começaram a ser reconhecidas como oportunismo e demagogia. Todavia, no dia 23 de Janeiro de 2011 e apesar dos episódios caricatos da campanha presidencial, 580 mil portugueses e portuguesas votaram em Nobre misturando apreço pela AMI, rejeição dos partidos e do Parlamento, e ressentimento contra as pontes que Alegre corporizava à esquerda. Seguiu-se, em Abril, o convite de Passos Coelho, que Nobre aceitou com a condição de «ser Presidente da Assembleia da República». O episódio chegaria para caracterizar ambos os personagens envolvidos, mas tinha que haver um epílogo: Nobre tentou duas vezes e duas vezes foi rejeitado como Presidente do Parlamento, um cargo prestigiado para o qual se exige alguém com experiência parlamentar. Finalmente desiludido, Nobre tomou ontem a única decisão sensata desde que entrou na política: ficar no Parlamento. Contradiz uma promessa da campanha das legislativas, eu sei, mas esta é a única contradição que facilmente se lhe perdoa: porque agora pode sentar-se no Parlamento e mostrar o que vale, trabalhando na labuta parlamentar, como qualquer outro neófito da política, Nobre ou não.
Há conclusões a retirar desta odisseia. Primeira: desconfiar de quem quer ser político falando contra a política. Segunda: a independência não é necessariamente virtude. Concretamente, não o é se não estiver comprometida com valores e causas. Terceira: Passos Coelho promete o que não pode dar.
Há conclusões a retirar desta odisseia. Primeira: desconfiar de quem quer ser político falando contra a política. Segunda: a independência não é necessariamente virtude. Concretamente, não o é se não estiver comprometida com valores e causas. Terceira: Passos Coelho promete o que não pode dar.
4 comentários :
http://www.youtube.com/watch?v=-5eFfbdAb1M&NR=1
Ao menos no fim desta trapalhada toda elegeu-se a primeira mulher presidente da Assembleia da República.
A nobre odisseia da vertigem política
até o odisseus fazia títulos melhores
e o gajo era analfabeto
e inda por cima era grego
e tinha sempre a barca rota
uma desgraça nunca vem só
viva a Obama portubuesa
já Abana um pouco a mais
mas patiença
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