Paulo Portas e Francisco Louçã aproveitaram a ocasião para fazerem um comício em direto: vivem da política; são dois animais políticos. Mas não creio que fosse essa a ideia do programa.
Incrível a forma como Paulo Portas impôs tratar o apresentador do programa por tu, e que o apresentador o tratasse por tu também. Parece que o tratamento por tu na Lapa é dado ao povo (e para a criadagem, já agora); o tratamento por você é reservado para quem realmente se estima, como a família (mesmo pais e filhos). é incrível como o apresentador (um tal de “boinas”) não confrontou Portas com esta suposição. É incrível como o apresentador, que naturalmente tendia a tratar Portas na terceira pessoa, aceitava ser sempre corrigido por este (“trata-me por tu!”) e nunca lhe respondeu dizendo-lhe a verdade: “desculpe, eu não o conheço de lado nenhum!”
Pedro Passos Coelho e Nilton estavam ótimos um para o outro: o homem que escolheu Fernando Nobre para cabeça de lista do PSD em Lisboa e o mandatário para a juventude do mesmo Nobre candidato a presidente. Uma autêntica tertúlia da direita não cavaquista: entrevistador e entrevistado revelaram uma grande empatia e falavam com grande naturalidade de idas ao ginásio e empregadas domésticas. Parece que é isto que o povo português quer, ou é com isto que o povo português sonha.
Aos líderes do PS e do PCP ficaram reservados os melhores apresentadores. Na entrevista a Fernando Alvim, Sócrates voltou a confirmar as suas qualidades enquanto político, mas mostrou as suas limitações para além disso. Isso foi patente na forma impressionada como falou de um Berlusconi que lhe dava recomendações sobre os fatos de dois e três botões, com a autoridade de quem “já tinha sido alfaiate”. Noutras circunstâncias, se por um completo acaso Sócrates tivesse nascido em Itália e fosse italiano, provavelmente deixar-se-ia (como a maioria dos italianos deixou) seduzir-se pelo Cavaliere. A falta de cultura política dá nisto. Não que Passos Coelho seja melhor.
Falta de cultura política também é provável que Jerónimo de Sousa tenha, mas compensa-a com uma genuinidade que nenhum dos outros candidatos tem. Jerónimo foi o único que não falou de política nenhuma e foi ao programa, muito bem conduzido por Filomena Cautela, falar de si próprio, sem fazer de si o centro do universo. É já um hábito, quase um lugar comum, dizer-se isso do líder comunista, mas esta entrevista confirmou-o mais uma vez.
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