Pela blogosfera e pelo Facebook, circulam duas teses opostas explicativas da derrocada do BE: ou o BE errou ao apoiar Alegre (tese favorita da esquerda mais radical), ou o BE errou ao derrubar Sócrates (tese preferida pelos próximos do PS). Embora contraditórias, ambas as teses podem estar simultaneamente certas (para diferentes segmentos do eleitorado).
O Bloco cresceu, entre 1999 e 2005, a partir de um eleitorado de extrema-esquerda que valia menos de 2%, a que acrescentou os descontentes com o conservadorismo de facto do PS. Que tenha crescido significativamente em 2009 (nas europeias e, percentualmente menos, nas legislativas), mostra como algum eleitorado de esquerda e/ou flutuante acreditava que o BE poderia desempenhar, à esquerda, o papel de que o CDS tanto beneficia à direita. Para além da IVG e dos casamentos de homossexuais, o BE mostrava-se menos entrincheirado que a CDU, mais atento a novos movimentos sociais e muito popular entre os jovens.
Mas o problema do Bloco não é o programa, e nem sequer a ideologia explícita: é a estratégia. Pelo que julgo perceber, cada uma das diferentes facções que o constituem tem a sua: uma (minoritária), defende a aliança com o PCP; na direcção nacional, uma prefere a colaboração com o PS, enquanto outra quer que o BE substitua o PCP (e a terceira não sei). Posso não ter nada com isso, porque nunca tive partido. Mas sempre disse neste blogue que prefiro um governo de esquerda a um governo do PS sozinho. E, como muitos, pensei que o Bloco poderia desbloquear a esquerda. Por toda a Europa, dos Verdes alemães à Itália e à França, diversos pequenos partidos de esquerda conseguem colaborar com os socialistas locais sem que percam a honra ou o eleitorado. Mas são, ao contrário do BE, partidos unitários.
Admito que o ano da tróica seria o pior para o fazer, mas o BE poderia ter dito explicitamente que queria ser governo e acrescentado onde e como marcaria a diferença. É possível que o PS nunca o quisesse, o que a ser verdade deveria ser assumido de uma vez por todas pelo maior partido da esquerda. De qualquer modo, a próxima legislatura será terrível para o BE: o PCP dominará o protesto de rua, com os «seus» sindicatos e a sua experiência de manifes, e o PS denunciará a corrupção da direita e defenderá os serviços públicos. O espaço do BE será menor do que nunca, o que será mau para a esquerda como um todo, porque significa que um PS que nunca se esforçou por ocupar o espaço à sua esquerda só voltará ao governo ou com uma nova maioria absoluta episódica, ou em mais uma experiência minoritária e (portanto) precária.
3 comentários :
«uma (minoritária), defende a aliança com o PCP; na direcção nacional, uma prefere a colaboração com o PS, enquanto outra quer que o BE substitua o PCP (e a terceira não sei)»
A minoritária é o Ruptura/FER.
E na direcção? Imagino que o Política XXI prefira a colaboração; mas em relação às outras, não sei qual é aquela em relação à qual desconheces, e aquela que quer que o BE substitua ao PCP (UDP?).
A mesma indefinição estratégica que lhes foi útil no passado tinha o problema de não se poder manter indefinidamente.
Por tentarem te-lo feito - a questão que referes do ano da troika ser má altura explica que o tenham tentado - acabaram por sofrer de ambos os lados.
E isso responde à pergunta do Miguel Carvalho neste mesmo blogue.
Posso estar enganado, mas a minha percepção é que a UDP se coloca como objectivo substituir o PCP. Quanto ao PSR, a verdade é que a perspectiva dos trotsquistas é menos linear.
«A mesma indefinição estratégica que lhes foi útil no passado tinha o problema de não se poder manter indefinidamente.»
Exacto.
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