Hoje vou-me atirar para fora de pé. Com a minha vincada tendência apolítica e eczema súbito sindical, não esperaria de mim própria ver-me aqui a redigir um manifesto a favor dos abastados.
Mas ontem, estando muito entretida a assistir à conferência de imprensa com o nosso novo PM (rapaz em quem depositei o meu voto de confiança, devo confessar), assisti à colocação de uma velha questão acerca do sistema de saúde em Portugal.
Perguntava um qualquer jornalista se iríamos assistir a alguma reforma no actual sistema das taxas moderadoras no sentido de as classes mais favorecidas pagarem mais pelos serviços de saúde.
Optando pela resposta politicamente correcta, Pedro Passos Coelho referiu que era cedo para avançar com respostas definitivas mas que lhe parecia justo onerar as classes mais favorecidas para poder assegurar o atendimento a quem menos pode.
Ora isto pode parecer justo num sistema democrático. Mas irrita-me. Primeiro porque as classes mais abastadas pagam uma percentagem de impostos alarvemente superior à das classes desfavorecidas, facto que, em si, já lhes deveria permitir entrar no Hospital de Santa Maria pela porta grande. Depois porque, não encontrando resposta no sistema nacional, vêem-se obrigadas a recorrer a seguros de saúde que obrigam a uma valente renda adicional mensal.
Na prática (digo eu do alto dos meus sapatos burgueses), as classes favorecidas só recorrem ao serviço público quando a coisa está tão preta e a emergência é tão grande que não lhes resta outra alternativa. E, se a assistência só é prestada em casos de vida ou morte, parece-me que o mínimo que o governo podia fazer era dar-lhes uma borla.
Mas isto digo eu que não percebo nada de política, mas que estou farta de pagar a crise.
(Francisca Prieto, Albergue Espanhol)
4 comentários :
oi??
Acho que devemos agradecer à Francisca Prieto a sua frontalidade. Todos fossem assim frontais.
Temos mais a agradecer à Francisca Prieto.
Apesar dos argumentos que usa serem abjectos, ela está a defender uma causa cara à esquerda: o SNS deve ser gratuito para todos. Todos, mesmo os ricos, mesmo a classe média.
Sem entramos na lógica do Coelho, que ela critica - e bem, mas pelas razões erradas - «ah e tal é muito bonito os ricos pagam quando usam o SNS, tão justo», não tarda a classe média também paga («há quem precise mais»), e já que é assim dá-se menos financiamento ao SNS, diminui-se a capacidade porque agora como estes têm de pagar preferem os privados, e há menos gente a recorrer ao SNS, financia-se cada vez menos, e no fim figa um serviço miserável para miseráveis e o resto da saúde privatizada.
JV, é claro que no fundo eu e tu defendemos o mesmo que a FRancisca Prieto defende, mas por motivos bem diferentes. Como diz um comentador André diretamente no post dela (transcrevo aqui o comentário),
"A Francisca, com todo o respeito, nao percebe muito do que esta a falar, mas chegou a conclusao correcta.
Ha duas formas de financiar o SNS: indirectamente, atraves dos impostos ou directamente, pelos co-pagamentos.
1) Se for financiado por via indirecta, quando se precisa de ir ao hospital e se compara publico vs privado, mais pessoas irao escolher o publico (porque nesse momento é gratuito).
2) Se for financiado por via directa, entao a diferenca entre ir ao publico e ao privado sera muito menor e muito mais gente ira ao privado. Mas como as pessoas que passam a ir ao privado sao as mais abastadas, o publico perde a maior parte do seu financiamento e colapsa.
Por isso é que Passos Coelho esta errado.
Cumprimentos"
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