quarta-feira, 29 de junho de 2011

«Matareis os vossos animais com crueldade e mutilareis as vossas crianças»

Não me indigna nem me entusiasma a proibição do abate ritual de animais (kosher ou halal). Se concordo que não anestesiar um animal antes de o matar é uma crueldade desnecessária (ainda pior quando se reza aos ouvidos do pobre bicho enquanto se lhe corta o gasganete), parece-me um exagero sentimentalista a ideia de que os animais de outra espécie que não a nossa têm direitos inalienáveis. Todavia, por princípio não aceito que um grupo de indivíduos se reclame o direito de fazer qualquer coisa que me é proibida por lei só porque seguem uma religião, seja ela qual for. Portanto, estou a favor. Porque, embora resolutamente antropocêntrico, não entendo por que a religião ou a tradição hão-de ser fonte de direitos, como pretende certo reaccionarismo pós-modernista.

E mais: como temem alguns judeus, ficaria realmente entusiasmado se se proibisse a circuncisão, sem motivo médico, de menores de idade. A integridade dos órgãos sexuais das crianças parece-me mais importante do que qualquer fantasma de «anti-semitismo» ou «islamofobia» que se queira invocar. Apedrejai-me, clericais.

[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]

16 comentários :

Luís Lavoura disse...

Portanto, o Ricardo Alves está a favor da lei apenas porque é a lei, e apenas porque quem discorda da lei o faz por seguir uma religião.

São argumentos muito fracos.

Ricardo Alves disse...

Luís Lavoura,

há duas partes.

1. Porque aceito esta lei (sem grande fervor): «(...) concordo que não anestesiar um animal antes de o matar é uma crueldade desnecessária (...)».

2. Resposta a uma objecção habitual: «(...) não aceito que um grupo de indivíduos se reclame o direito de fazer qualquer coisa que me é proibida por lei só porque seguem uma religião, seja ela qual for (...)».

Luís Lavoura disse...

Ricardo Alves, a sua frase crucial é, precisamente, "não aceito que um grupo de indivíduos se reclame o direito de fazer qualquer coisa que me é proibida por lei".

Quer isto dizer que, qualquer coisa que seja proibida por lei, o Ricardo Alves acha muito bem e não protesta, e fica chateado se algum grupo de indivíduos violar essa lei. Ou seja, o Ricardo Alves é sempre a favor de todas as probições legais, ainda que eventualmente elas sejam estúpidas ou injustificáveis.

Anónimo disse...

Segundo percebi, aquilo a que o Ricardo se opõe é o direito à excepção com base na filiação religiosa.

Eu também me oponho a isso, seja a lei idiota ou não. A lei é igual para todos.

Porfirio Silva disse...

Ricardo,
Acho pouca piada a textos que argumentam como se salivassem. Mas isso é apenas uma questão de gosto. Quanto a eu ser reaccionário, ou escrever reaccionarisses, admito que seja uma questão de opinião, embora ache um pouco triste essa mania de ler de forma simplista o que os outros escrevem. Já quanto a eu escrever coisas pós-modernas, aí acho que o delírio passa os limites da credibilidade que um autor deve exigir de si mesmo.
Cumprimentos.

JDC disse...

Não sendo este texto um exemplo, a proibição de certas práticas só porque são práticas religiosas é, em si, a imposição de uma concepção do mundo. Basta olhar para o que se passa no PAN e perceber que, não sendo uma religião, assume exactamente os mesmos contornos.

Semisovereign People at Large disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Semisovereign People at Large disse...

isso da integridade dos orgãos sexuais das creanças

soia ser uã frase do Michael Jackson?

Ricardo Alves disse...

Porfírio,
não sei onde é que há saliva. O tema não me entusiasma. E foi o Porfírio quem enveredou pela caricatura dos «iluministas» mauzões que são contra a tradição. Fazer isso equivale a defender... a tradição pela tradição.

Ricardo Alves disse...

Exacto, Francisco.

Ricardo Alves disse...

JDC, o líder do PAN é também presidente da União Budista portuguesa. Espanta-me que as pessoas não tenham compreendido isso.

JDC disse...

Só o espanta se achar que o budismo é uma religião, que não é. No budismo não há Deus. É, quando muito, um misticismo... Além disso, o programa do PAN pode ser defendido sem recorrer ao budismo, embora eu ache os argumentos inválidos ou fracos.

Ricardo Alves disse...

É evidente que todo o programa do PAN pode ser defendido por um não budista. A maior parte dos vegetarianos nem sequer são budistas. Mas o budismo é uma religião. Até tem esse estatuto reconhecido por lei...

dubbub disse...

E o panteismo, Ricardo Alves? Também é uma religião?

Ricardo Alves disse...

Há várias religiões panteístas, como há várias religiões monoteístas.

JDC disse...

Ricardo,
O budismo pode ser reconhecido legalmente como religião, mas é uma religião sem deus. É assim uma religião ateia, vá. É uma filosofia de vida com fundamentos que vão para lá daquilo que pode ser cientificamente comprovado e, por isso, necessita de fé. Fala-nos de reencarnação e de um Nirvana final, tudo ideias muito místicas e não verificáveis.
Mas tirando a visão estritamente biológica da vida, todas as correntes de pensamento têm os seus "saltos de fé". O comunismo, por exemplo, acredita num super-homem, num objectivo final, numa superação do ser humano quando nada na evolução de Darwin nos diz que a evolução das espécies se faz segundo uma linha condutora mas sim sempre em adaptação ao meio.