- «Os promotores da romagem à campa dos homens que mataram o rei Dom Carlos voltam a homenagear os regicidas no próximo domingo, este ano com fortes críticas ao programa do centenário da República por excluírem o regicídio das comemorações. (...) A romagem realizar-se-á um dia antes da efeméride, a 31 de Janeiro, altura em que "todos os actores dos factos ocorridos se encontravam vivos e aptos a modificarem as suas opções". "Não deixo de reconhecer que a morte é sempre passível de ser condenada, por isso comemoramos o acontecimento no dia 31 de Janeiro, porque festejamos a vida e não a morte. Deixamos a morte para ser comemorada por aquelas instituições que acreditam no transcendente. Nós, não", disse Luís Vaz.» (Associação Promotora do Livre Pensamento, no Público)
Romagem à campa dos regicidas em 1911.
Imagens espalhadas por Lisboa em 2008 (via Nadir dos Tempos).
Sobre o regicídio, ler na Associação República e Laicidade, e neste blogue: Para compreender o regicídio, Manuel Buíça e Alfredo Costa, Centenário dos atentados da Praça do Comércio.
24 comentários :
São posts como este que me fazem ter vontade de me tornar monárquico. Felizmente, consigo resistir e continuo republicano.
António Parente,
nunca me viu fazer o elogio do homicídio.
Pois não. Referia-me à romagem de homenagem às campas dos regicidas.
Já estou como o António. Estas idiotices jacobinas dão-me vontade de ser monárquico (mas, tal como o António, continuo a resistir, que remédio).
Celebre-se o terrorismo e qualquer dia alguém faz o mesmo ao Cavaco.
Que tristeza de post.
Resistam, se fazem favor... e moderem a vossa indignação. O mundo não é preto e branco.
:o) O D. Nuno Alvares Pereira foi canonizado por ter assassinado o Conde Andeiro (que também tinha família, ideais, razões,etc.) e agora ninguém pode prestar homenagem as estes dois pobres homens que, pelo menos no entender deles, deram a vida por um mundo melhor, num gesto de coragem e generosidade que não deve ser ignorado.
As pessoas falam do João Franco e do rei D. Carlos como se eles fossem dois anjos que se bateram pelo país e pela comunidade toda a vida. O rei D. Carlos andava pelo estrangeiro a dizer que Portugal era uma piolheira. E depois, quando chegava, mandava a conta das passeatas e das comezainas ao povoléu que ele desprezava publicamente.
Filipe
Os argumentos do seu último comentário são fracotes ;-)
“Vejo que o crime político é sempre fascista, que quando a Esquerda mata dialoga com o fascismo e com mais ninguém, absolutamente mais ninguém, que a liquidação da vida é um jogo fascista como o tiro aos pombos e que isto passa-se entre eles, entre assassinos. Vejo que o crime, seja ele qual for, releva da estupidez essencial do mundo, a da força, da arma, e que a maior dos povos temem e veneram esta estupidez como o próprio poder. Que a vergonha é isto.”
DURAS, Marguerite – Verão 80. Lisboa: Livros do Brasil, 1990, p. 23
Caro DR,
qual é a sua opinião sobre o atentado contra Salazar? E o atentado contra Hitler?
Caro Filipe Castro,
"As pessoas falam do João Franco e do rei D. Carlos como se eles fossem dois anjos que se bateram pelo país e pela comunidade toda a vida. O rei D. Carlos andava pelo estrangeiro a dizer que Portugal era uma piolheira. E depois, quando chegava, mandava a conta das passeatas e das comezainas ao povoléu que ele desprezava publicamente"
Depois disto não diga a mais ninguém que o mundo não é preto e branco...
:o) O que eu queria dizer, agora a sério, é que os monarcas do princípio do século XX jogaram um jogo muito perigoso com as populações de alguns países. Foram-se apoiando nas polícias políticas e continuando vidas públicas faustosas que enviavam uma mensagem de distância e arrogância muito clara. E as pessoas, que viviam desesperadas, sem futuro, com horários de trabalho desumanos e sem nada para dar de comer aos filhos, viram o fim da monarquia como um acto de legítima defesa, daqueles que vêm consagrados na Bíblia.
Um rei não deve, nunca, dizer a um jornalista estrangeiro que "Portugal é uma piolheira", mesmo que todos tenham de comer no seu reino. O que não era o caso. Vejam o filme do Bertolucci 'Novecento'.
Ao Ricardo Alves:
Tenho exactamente a mesma posição da Marguerite Duras, em relação a tiranos ou democratas, pobres ou ricos. A morte não é a solução para nada.
Ao Filipe Castro
Cite-me, por favor, a fonte (no caso, a entrevista) onde D. Carlos chamou piolheira a Portugal. Transcreva-me a passagem. Eu, que domino relativamente as fontes históricas desse período só encontro versões pela boca de opositores ao rei.
O grande Afonso Costa e os restantes republicanos levaram uma vida mui pouco faustosa comparados com o grosso da população!!!! Que argumento mais triste.
NR,
poucas horas antes de morrer, Carlos 1º tinha condenado dezenas de pessoas a uma morte pouco menos do que certa.
Tinha?
Mais uma vez, mostre-me o decreto de execução. Enfim, a lavagem cerebral é tal que é preciso reconstituir a História toda do século XIX e do século XX em Portugal. Como qualquer um pode ser Historiador e como os verdadeiros historiadores têm sido maniqueístas, só existem estórias a circular. Factos, é o que eu peço.
NR,
à época, o degredo para as colónias era praticamente equivalente à pena de morte.
Já agora:
«Art. 1.° - Os indivíduos pronunciados por alguns dos crimes compreendidos no art. 1.° do decreto de 21 de Novembro de 1907, poderão, quando os interesses superiores do Estado assim o aconselharem, e por virtude de deliberação do governo, tomada em conselho de ministros, ser expulsos do reino ou transportados para as possessões ultramarinas, nos termos do art. 10º, da lei de 11 de Abril de 1892»
Note-se: «deliberação do governo» (e não dos tribunais).
http://esquerda-republicana.blogspot.com/2008/02/para-compreender-o-regicdio.html
Corrija pena de morte por degredo, então. As palavras devem aplicar-se correctamente. Não diga coisas que deseja sérias, mas não pretendem se não para propagandear os seus ideais. Dizer que o degredo era, na época, equivalente, à pena de morte, é o mesmo que dizer que quem é mandado para as cadeias pode morrer. A afirmação vale o que vale.
E já agora, continuo à espera da entrevista de D. Carlos e da transcrição da sua afirmação sobre o facto de Portugal ser uma piolheira.
«NR»,
não tenho que corrigir nada porque usei as palavras correctamente. O «NR» é que parece não conseguir (ou não querer) compreender o que escrevo.
Quanto à substância, informe-se sobre a taxa de sobrevivência, à época, às penas de degredo. Descobrirá que não era comparável à taxa de morte nas prisões actuais (portuguesas).
Já percebi que não quer comentar o facto de as penas serem decididas pelo governo e não pelos tribunais...
Ao justificarmos o assassínio do Rei como uma libertação de um povo oprimido estamos, ao mesmo tempo, a justificar a invasão do Afeganistão por parte dos EUA como forma de defesa dos seus cidadãos assassinados no 11 de Setembro. É esse caminho que queremos seguir?
Comento sim. Julga que é invenção do reinado de D. Carlos a aplicação de sanções com base em ameaças à autoridade do Estado? Oh, o Ricardo deve ser inocente para imaginar que os estados republicanos, laicos, socialistas e (ou) libertários em que acredita não contornam os tribunais para aplicar penas exemplares. E fosse essas passassem só Guantanamo até estamos mais ou menos bem. O pior é quando se encomendam uns desaparecimentos, daqueles que não saem em Diário do Governo. Até prova em contrário D. Carlos não mandou matar os tais «revoltosos». Mas tivesse mandado e continuaria a não ver justificação para o regicídio.
«NR»,
denunciou-se com o último comentário. Diz que se Carlos 1º «tivesse mandado [matar]», «continuaria a não ver justificação para o regicídio». Pois. Contradisse o que afirmara mais acima, com a Duras e tal...
Fui ver o seu blogue, e não tem qualquer identificação. Há quem goste assim. Diz lá também que não quer ser «nem objectivo, nem rigoroso, nem imparcial». Já tinha percebido.
Quanto aos «estados republicanos, laicos, socialistas e (ou) libertários» em que afirma que «acredito», não sei do que está a falar. Mas já percebi que não vale a pena tentar perceber.
Passe bem.
JDC,
pode haver causas justas para uma guerra. A auto-defesa, por exemplo. Não sei se a ocupação do Afeganistão se encaixa nessa categoria, mas sei que quando o regime dos talibã terminar, qualquer lágrima que eu verta será de alegria...
Não me denunciei não.
Não sou a favor da pena de morte, muito menos de homicidas ocasionais, por muito se estribem em pretensos ideais de liberdade. Já lhe digo que não defendo monarcas homicidas ou equivalentes (curiosamente foi durante a monarquia constitucional que a pena de morte foi abolida). Mas continuo a dizer o mesmo, não se justificam homenagens ao Costa e ao Buiça. A imparcialidade a que se refere no meu blogue e que acintosamente deslocou do contexto tem a ver com o facto de nenhum de nós pode asséptico nas suas opiniões, como sou.
Está sempre a frisar as minhas iniciais, como se eu escondesse algo. Não escondo. Chamo-me Nuno Resende, e nos muitos anos que uso estes espaços nunca dirigi um comentário anónimo a ninguém.
Se não quer tentar perceber, não perceba, está no seu direito.
Cumprimentos
Nuno
Nuno,
Mesmo que o D. Carlos não tivesse dito que Portugal era uma piolheira (estou com um pé no estribo para ir a reunião e não tenho tempo para ir à procura desta história na biografia do D. Carlos que tenho aqui na bibliotecada universidade. mas repito:
O que eu queria dizer, agora a sério, é que os monarcas do princípio do século XX jogaram um jogo muito perigoso com as populações de alguns países. Foram-se apoiando nas polícias políticas e continuando vidas públicas faustosas que enviavam uma mensagem de distância e arrogância muito clara. E as pessoas, que viviam desesperadas, sem futuro, com horários de trabalho desumanos e sem nada para dar de comer aos filhos, viram o fim da monarquia como um acto de legítima defesa, daqueles que vêm consagrados na Bíblia.
Não foi só o D. Carlos que se tramou.
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