segunda-feira, 11 de junho de 2007

Pensamento e Acção - II

A conversa entre o Joaquim e o Matias parece absurda, por várias razões - uma das quais é o Matias ser suficientemente alienado para duvidar da existência de pobreza. Mas a sua argumentação falaciosa é frequentemente usada.

Existem três aspectos fundamentais na sua argumentação que merecem ser discutidos:


a) O facto de Joaquim ter razão, ou não, quanto à existência de pobreza, não tem nada a ver com a sua atitude perante essa realidade.

b) O facto de Joaquim acreditar, ou não, na existência da pobreza, deve apenas ter a ver com o facto de ter razão em acreditar nisso, e nunca deverá ter a ver com as consequências pessoais que adviriam de tal crença.

c) Será questionável criticar Joaquim pelas suas omissões se, acreditando no mesmo que Joaquim, não se estivesse disposto a sacrificar muito mais que Joaquim (e mesmo neste caso a crítica não está necessariamente legitimada).


Ou seja:

a) Matias devia ter acreditado na existência da pobreza apenas baseado nos indícios e provas a esse respeito. A atitude de Joaquim é completamente irrelevante para aferir se existe pobrez ou não.

b) O facto de Joaquim acreditar em algo que, a ser verdade, possa fazer surgir deveres onde não existiam - quer ele os cumpra, quer não - passíveis de o prejudicar, é sinal que resistiu ao enviesamento cognitivo que nos faz ter maior tendência para acreditar que aquilo que é bom para nós, é bom para todos.

c) Caso Matias acreditasse no mesmo que Joaquim, estaria disposto a fazer muito mais? Se não, a sua legitimidade para criticar Joaquim pelas suas omissões é um tanto dúbia...

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