domingo, 3 de junho de 2007

Revista de blogues (3/6/2007)

  1. «Algures na história de uma qualquer internacional os intelectuais deixaram de ter paciência para os operários. Por todo o mundo nasceram os blocos de esquerda. Partidos, grupos, tendências de gente com formação universitária, fortemente doutrinados e intelectualizados. Do outro lado ficaram os operários e o campesinato. Esta dicotomia encontra expressão se compararmos o Bloco de Esquerda com o Partido Comunista Português. Ideologicamente as diferenças não são assim tantas. Mas de um lado está o professor universitário Louçã. Do outro o operário Jerónimo de Sousa. De um lado estão os meninos universitários que leram e correram mundo. Do outro a massa da festa do Avante que nunca saiu do Seixal. De um lado está um partido cheio de ideias e sem músculo. Do outro um partido cheio de músculo e sem uma única ideia. Sim, isso mesmo, a esquerda caviar e a esquerda do coirato. A síntese é quase impossível. (...) Os intelectuais querem a revolução em nome dos operários e dos campesinos mas toleram com dificuldade a companhia das massas e não aceitam a partilha de poder. Afastam-se. Isolam-se. A revolução pelas massas sem o apoio das massas torna-se numa incongruência ideológica que consome lentamente o esforço revolucionário até ao seu desaparecimento. (...) Talvez os ortodoxos estejam mesmo certos. Não há revolução dentro do sistema. E não há caminho para o socialismo sem revolução. Tudo o resto é uma vagarosa concessão à social-democracia.» («Crónica final: o caminho para o socialismo tem muitas bifurcações», no 31 da Armada.)
  2. «O recente debate na blogosfera em torno do outdoor da JS, comemorativo do Dia Mundial da Luta contra a Homofobia, é mais um exemplo do falso liberalismo da direita blogosférica. A direita presente em blogs como: "O Insurgente", "31 de Armada" ou "O Blasfémias" consegue mesmo ser mais autoritária e conservadora do que a direita partidária portuguesa. São vários os debates que o têm demonstrado. A IVG, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o divórcio a pedido de um dos cônjuges ou mesmo o debate sobre o salazarismo constituem exemplos paradigmáticos do ultra-conservadorismo e também do autoritarismo destes falsos liberais. Desenganem-se aqueles que achavam que os liberais portugueses só existiam na blogosfera. Pelo menos, não nestes blogs. O mais recente debate sobre o cartaz da JS é bem elucidativo disto. Usando a mesma técnica que o «Insurgente» já tinha usado a propósito da apologia encapotada do salazarismo, este blog e mais uma vez o "Insurgente" disfarçam a sua homofobia criticando, vejam bem, o direito à liberdade de expressão de uma organização política. (...) Bem sei que dirão que não estavam a atacar o direito à liberdade de expressão da JS, mas antes o facto deste ser exercido através de financiamento público. Ignoram que só parcialmente o financiamento dos partidos é público, mas para o caso este facto é irrelevante. Não percebem, ou melhor, não querem perceber que o exercício da actividade política numa democracia por parte de partidos políticos exige que estes recebam financiamento público. A alternativa ao financiamento público é o financiamente privado. Mas não foi por acaso que o financiamento privado por parte de empresas foi proibido. Foi para garantir uma maior independência dos partidos políticos face a interesses particulares.» («Os falsos liberais da blogosfera», no Ladrões de Bicicletas.)

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