sexta-feira, 22 de junho de 2007

O problema polaco

  • «Enquanto a elite católica e liberal que fez a transição de 1989-90 e os pós-comunistas que depois a renderam se reviam num modelo político-cultural europeu, o PiS e a extrema-direita católica denunciam a "Europa ímpia, laica e apátrida" que ameaçaria "a alma da Polónia" católica. Esta inflexão inscreve-se numa deriva populista que visa liquidar a anterior elite e, mesmo, promover uma mudança de regime - a "IV República", um "Estado forte" assente nos "valores tradicionais polacos". Esta operação passa pela relativamente fracassada "lei da purificação" (visando antigos colaboradores da polícia política comunista) ou pelas sucessivas provocações do ministro da Educação, Maciej Giertych, líder da extrema-direita, que ora ameaça os homossexuais, ora se propõe retirar dos programas escolares autores como o alemão Goethe, o russo Dostoievski ou o judeu Kafka. Giertych quase nada representa, mas "é notícia" e projecta uma imagem deformada da Polónia.» (Jorge Almeida Fernandes no Público de hoje.)

A Áustria de Haider foi isolada internacionalmente por muito menos do que isto. Começa a ser evidente que a entrada de alguns Estados da Europa de Leste na União Europeia foi precipitada.

2 comentários :

""#$ disse...

Ricardo: Começa a ser evidente para ti.
Para a generalidade dos políticos europeus, parece que não.

Pessoalmente já detesto a Polónia.
O nacionalismo polaco é do mais irritante que existe.

cãorafeiro disse...

não acho que tenha sido uma questão de precipitação, mas outra:

não houve da parte dos estados da europa ocidental uma estratégia minimamente bem pensada para lidar com o desaparecimento dos regimes comunistas na europa de leste.


há tb a influência do neo-liberalismo e neo-conservadorismo importado dos EUA.

que é enorme porque na Europa ninguém teve a mínima atenção e deixou os eua preencherem o vazio.

as pessoas nem sonham com o cheiro do peixe podre made in usa que lhes foi vendido sob o rótulo de democracia ou liberalismo. note-se que em certos países a elite política pertence à geração dos menos de 40. malta que era muito jovem em 1989 e a quem deram bolsas para os eua para irem aprender a brincar às democracias. e que foram alvo de uma lavagem cerebral gigantesca... mas muito bem remunerada.

não admira que agora o nacionalismo esclerosado seja visto pelas populações como uma boa alternativa ao neo-liberalismo selvagem. não podemos exigir que as pessoas nestes países tenham um entendimento claro do que é a democracia e a tolerância, quando andaram a dizer-lhes que democracia era a merda com que eles levaram durante os anos 90: o enriquecimento espectacular das elites através de privatizações impostas pela UE como condição prévia à adesão, por exemplo. ou o discurso dos sacrifícios necessários, que que agora também nos andamos a levar, por exemplo.

particularmente problemáticos dois casos:

a Checoslováquia e a Polónia.

no caso da Checoslováquia as coisas não correram mal por causa da liderança política e porque se puderam agarrar à memória de terem sido uma democracia. ainda assim, o nacionalismo provocou a divisão do país entre R. checa e Eslováquia.

no caso da Polónia, os seus líderes políticos apostaram desde 1989 em explorar os complexos de culpa dos outros países. a estratégia de vitimização tem a ver também com o poder da ICAR na Polónia, mas a razão por que esta estratégia pegou tem a ver com a dimensão do país: economicamente, a Polónia era o único país que as empresas da UE tinham interesse em que entrasse para a UE.

se os critérios de adesão tivessm sido respeitados, a polónia não teria fechado as negociações no final de 2002, porque não preenchia os requisitos económicos. acresce que a postura da polónia durante as negociações foi a de prima donna.

mas, dada a falta de estratégia dos estados dos »15», a solução tem sido, desde 1992, empurrar com a barriga a ver se tudo se resolve por si mesmo.

resultado: em 2002, ninguém quis assumir o ónus de deixar entrar países como a Eslovénia, a r.checa, ou a Hungria, que eram os únicos que estavam mesmo preparados, e excluir a Polónia.

mas as negociações estavam a arrastar-se há tempo demais,

daí a decisão de deixar entrar todos (menos a Bulgária e a Roménia, que entraram mais tarde, mas mesmo assim cedo demais).

é um pouco a mesma coisa que aconteceu com a adesão de Portugal e Espanha: Portugal podia ter entrado mais cedo, mas ninguém tinha interesse em deixar entrar um pequeno e deixar o grande à espera.

a diferença é que nessa altura o processo de integração estava numa fase mais inicial, e muito menos complexa...

mas a questão essencial é a mania de se darem passos maiores do que as pernas.

se a menor visão de longo prazo, sem ter em conta as implicações das decisões que se tomam. navegando à vista, e ainda assim mal.

note-se que eu até nem vou muito à bola com as teorias de integração, ou com aquela coisa chamada doutrina dos pequenos passos.

mas as elites políticas europeias revelam uma enorme incompetência na forma como seguem a cartilha.

e sobretudo revelam estarem-se nas tintas para a questão da defesa de um núcleo básico de valores democráticos.

como se vê na táctica de fugir aos referendos...

ou a maneira como as pessoas que se declaram descontentes com rumo do processo de integração são rotuladas de euro-cépticas...