segunda-feira, 11 de junho de 2007

Revista de blogues (11/6/2007)

  1. «O nome que se deve apelidar a este tipo de liberalismo é dúbio, liberalismo ortodoxo é o que melhor o descreve, por indicar a crença em princípios inalteráveis e a inflexibilidade típica de um ortodoxo. (...) Mas, porque é que esta forma de “liberalismo” é um falhanço? Em primeiro lugar é obviamente um falhanço em termos políticos, ao recusar-se a fazer política real. (...) Apesar de pregar a liberdade, a utopia liberal ortodoxa é por natureza uma antítese de um estado democrático. (...) A única forma de se manter um estado anarco-capitalista é via a eliminação da democracia, e Hayek já o sabia, tendo proposto alternativas institucionais à democracia e não negando que um governo autoritário poderia ser baseado em princípios liberais (New Studies, 1978). (...) O terceiro ponto, extremamente relevante, é que, em democracia, a vontade popular tem demonstrado claramente, ao longo dos anos, que não deseja o fim do Estado. (...) Não desprezável é também, ao contrário do que afirma a retórica liberal ortodoxa, que o Estado, controlado, tem sido historicamente um garante da liberdade. (...) A ironia é que em 2007, o país que talvez se pareça mais com o ideal liberal ortodoxo, é a China. Neste país, não existem sistemas de segurança social como conhecemos por cá, não existe um sistema nacional de saúde gratuito (foi desmantelado) e a economia de mercado está já mais desregulada que em qualquer países ocidental, não existindo, nem salários mínimos dignos desse nome nem regulamentações ambientais ou de saúde relevantes (...)» («O Falhanço do Liberalismo Ortodoxo / Anarco-Capitalismo», no Speaker´s Corner Liberal Social.)
  2. «Na manhã soalheira de Setúbal, encenou-se a peça pátria costumeira a 10 de Junho. Na deriva da portugalidade, a corveta presidencial, com um Cavaco de semblante sério como que encarnando a pesarosa alma lusa, atravessou a foz do Sado para, perante a jóia da Coroa NRP Vasco da Gama e da “dama de festas” NRP Sagres, desembarcar o presidente “de todos nós”. O fito era ali comemorar o dia de Portugal, de Camões e das Comunidades. (...) Não obstante a demonstração de força, entendeu quem organizou semelhante "comemoração da pátria" que o BMW de Cavaco deveria, ainda, ser acompanhado por guarda costas, de óculos escuros, em passo de corrida junto da viatura. Este "american touch" foi, pouco depois, temperado por uma bem mais lusitana prece dita aos militares e povo, ali em comemoração do dia do laico (??) estado português, na voz do Bispo das Forças Armadas, devidamente anunciado ao gentio "Sua Excelência Reverendíssima D. Januário Torgal Ferreira". (...) A celebração da Portugalidade, em pleno século XXI, não deveria constituir desculpa bastante para, nem mesmo por um dia, se institucionalizar o fascismo de Estado. Se as comemorações são, como todas as celebrações, simbólicas... então talvez não devesse ser o Portugal militarista, bolorentamente entregue a preces e demonstrações de força de uma vacuidade atordoante que deveria ser celebrado. Ao invés de se orgulhar do sangue dos egrégios avós derramado "pela Pátria", quem manda neste "solo jucundo" deveria entregar o 10 de Junho à concretização das melhores esperanças dos netos.» («A paródia nacionalista», no Devaneios Desintéricos.)

4 comentários :

cãorafeiro disse...

este comentário não tem a ver com o post, mas há alguns dias o filipe castro falava de como a acção dos think tanks americanos minou o pensamento progressista nos EUA.

por isso resolvi enviar-lhe este link, que encontrei por acaso numa das minhas pesquisas:

http://www.soros.org/resources/events/piereson_20060921/

http://www.soros.org/resources/events/piereson_20060921/piereson_20060921.pdf

João Gomes disse...

Caros amigos,

Não tenho muito gosto em andar a promover o meu blog. Mas nos últimos dias tenho lançado uns textos sobre "Políticos de combate". E gostava que participassem na discussão e divulgação dos mesmo, se fosse possível.

Abraço!

""#$ disse...

Bem Ricardo, grande operação de charme que te está a ser lançada pela JS.
Mas que desespero em que eles estão......
Extraordinário. Jotinhas à solta e da faculdade de direito de Lisboa ainda por cima...

Estou impressionado...

João Moutinho disse...

Olá Ricardo Alves,
Anda a fazer como Bento XVI quando cita os outros para falarem pos si? :-)
Gostei muito do primeiro texto, sem Democracia, debate, liberade de impressa não vamos a lado nenhum.
Ou seja, não há ditaduras boas.
Quanto ao Reverendíssimo, não há problema as armas estavam descarregadas.