quinta-feira, 8 de abril de 2010

Referendar a igualdade? E a liberdade também?

Os patuscos do PPM querem referendar o regime. Oh vida. Poderiam propor que se referendasse também a anexação militar dos territórios a sul do Tejo pelo Condado Portucalense, a secessão de Espanha em 1640, o fim da Inquisição, a necessidade de existir uma Constituição, a independência das colónias ou o nome «Portugal» (que poderia ser mudado para «Ratugolp» ou outra coisa qualquer).

Seriamente: não se referenda a forma republicana do Estado como não se referenda a democracia, a igualdade de direitos ou a liberdade. Não se referendam direitos fundamentais, e a República é inseparável de vários, particularmente da igualdade de todos os cidadãos e da liberdade de cada um participar na gestão da cidade. Não se referenda a obrigação de o chefe de Estado fazer exames ao ADN para comprovar que descende do usurpador Miguel ou de outro chimpanzé tagarela qualquer. Acho eu.

(Evidentemente, a proposta é uma jogada de afirmação de um grupo que até entre os monárquicos, pelo menos aqueles que constituem cerca de um terço da audiência deste blogue, parece ser minoritário. Mas, curiosamente, o novo líder do PPM apoia a candidatura presidencial de Fernando Nobre, o «independente». Ai-ai. Um candidato independente apoiado por um partido. E um partido monárquico que apela ao voto para a presidência da República. Coerência, onde estás?)

Nota final: uma sondagem recente encontrou  72% de republicanos, 11% de monárquicos e 17% de indiferentes ou sem opinião.

8 comentários :

Anónimo disse...

O PPM está entregue à bicharada. Tanto quanto sei, já não são muitos os monárquicos que se sentem representados por esse partido. Até mesmo alguns dos fundadores. Só assim se explica que tenha o presidente de partido que tem.

Agora é só um clube de marialvas...

dorean paxorales disse...

diz o tacho para a sertã...
então começas por explicar, e bem, que igualdade e liberdade não se referendam (embora confundas tudo com a forma de chefia do estado, mas o que conta é a intenção) e que a vontade da maioria transitiva tem de está abaixo de certos valores para depois acabares com um argumento de maioria transitiva, ainda que de sondagem?
está mal, está mal...

Ricardo Alves disse...

A sondagem só lá está para mostrar como os portugueses, diga-se o que disserem, compreendem isto na sua esmagadora maioria...

João Moutinho disse...

Já não é a primeira visto que vejo esta vossa aversão ao referendo da República/Monarquia quando a República nunca foi eleita. Na altura do 5 de Outubro de 1910 o Partido Republicano era claramente minoritário.

Lamento mesmo esta atitude em particular quando vejo que colocam a questão em termos de democracia e direito humanos.

Eu vejo ao contrário acredito que o referendo seria um voto de maturidade, mesmo que o resultado seja esmagador a favor do actual sistema.

Sei que já é chavão mas se virmos os países escandinavos (excluindo a Finlândia que é uma República) são um exemplo de estados sociais em que a produção de riqueza surge a par da distribuição da mesma, ou o próprio Japão. Esse países são monarquias - em alguns casos mesmo Estados confessionais.

Não, não aprecio essa postura de não discutimos isto e aquilo.

Sei que a diferença é abismal mas o António (que já não é do meu tipo) achava que não podia discutir a pátria ou a família porque só ele sabia cuidar dela.

Acho bem que defendam as vossas ideia com unhas e dentes mas deixem os outros defenderem as deles.

João Moutinho disse...

Quando disse que o António não era do meu tipo queria dizer tempo, é o que dá querer escrever tudo duma vez.

Não conheço o Ricardo Alves pessoalmente mas espero que entenda isto como um desabafo perante (aquilo que considero) a vossa intransigência excessiva.

Ricardo Alves disse...

João Moutinho,
o seu primeiro comentário surpreendeu-me porque não é o seu registo habitual. Li agora o segundo, em que recua um bocado.

Deixe-me dizer-lhe que aceito discutir tudo: a democracia, a liberdade, a independência nacional, a República, a existência de Deus ( ;) ), a liberdade de expressão, a pena de morte e tudo o resto.

O que eu escrevi neste post foi que a República não se referenda. Mas discute-se porque não se referenda, e tanto se discute que foi isso que fiz neste post.

João Moutinho disse...

Bom Dia Ricardo,
Acordei numa manhã de Sol e aquela sexta-feira à noite já passou.
É verdade que estamos aqui a discutir a República.
Mas a Res- Publica também pode ser defendida em Monarquias.
E quanto o referendo lembro-me de no Brasil ter sido realizado e o resultado foi aquele que se esperava.
E a Monarquia tem alguns pontos a favor, no Carnaval os Pais vestem as menina de Princesas mas não de filhas de Presidente da República.

Há no entanto algo que já não seria tão bom, o D. Duarte teria de se coibir de fazer certas declarações sobre certos assutos, e aí já seria uma pena.

Anónimo disse...

Por acaso, tanto quanto sei, houve câmaras municipais onde se votou favoravelmente a implantação da República.