terça-feira, 7 de junho de 2011

O Bloco tem futuro?


Pela blogosfera e pelo Facebook, circulam duas teses opostas explicativas da derrocada do BE: ou o BE errou ao apoiar Alegre (tese favorita da esquerda mais radical), ou o BE errou ao derrubar Sócrates (tese preferida pelos próximos do PS). Embora contraditórias, ambas as teses podem estar simultaneamente certas (para diferentes segmentos do eleitorado).

O Bloco cresceu, entre 1999 e 2005, a partir de um eleitorado de extrema-esquerda que valia menos de 2%, a que acrescentou os descontentes com o conservadorismo de facto do PS. Que tenha crescido significativamente em 2009 (nas europeias e, percentualmente menos, nas legislativas), mostra como algum eleitorado de esquerda e/ou flutuante acreditava que o BE poderia desempenhar, à esquerda, o papel de que o CDS tanto beneficia à direita. Para além da IVG e dos casamentos de homossexuais, o BE mostrava-se menos entrincheirado que a CDU, mais atento a novos movimentos sociais e muito popular entre os jovens.

Mas o problema do Bloco não é o programa, e nem sequer a ideologia explícita: é a estratégia. Pelo que julgo perceber, cada uma das diferentes facções que o constituem tem a sua: uma (minoritária), defende a aliança com o PCP; na direcção nacional, uma prefere a colaboração com o PS, enquanto outra quer que o BE substitua o PCP (e a terceira não sei). Posso não ter nada com isso, porque nunca tive partido. Mas sempre disse neste blogue que prefiro um governo de esquerda a um governo do PS sozinho. E, como muitos, pensei que o Bloco poderia desbloquear a esquerda. Por toda a Europa, dos Verdes alemães à Itália e à França, diversos pequenos partidos de esquerda conseguem colaborar com os socialistas locais sem que percam a honra ou o eleitorado. Mas são, ao contrário do BE, partidos unitários.

Admito que o ano da tróica seria o pior para o fazer, mas o BE poderia ter dito explicitamente que queria ser governo e acrescentado onde e como marcaria a diferença. É possível que o PS nunca o quisesse, o que a ser verdade deveria ser assumido de uma vez por todas pelo maior partido da esquerda. De qualquer modo, a próxima legislatura será terrível para o BE: o PCP dominará o protesto de rua, com os «seus» sindicatos e a sua experiência de manifes, e o PS denunciará a corrupção da direita e defenderá os serviços públicos. O espaço do BE será menor do que nunca, o que será mau para a esquerda como um todo, porque significa que um PS que nunca se esforçou por ocupar o espaço à sua esquerda só voltará ao governo ou com uma nova maioria absoluta episódica, ou em mais uma experiência minoritária e (portanto) precária.

3 comentários :

João Vasco disse...

«uma (minoritária), defende a aliança com o PCP; na direcção nacional, uma prefere a colaboração com o PS, enquanto outra quer que o BE substitua o PCP (e a terceira não sei)»

A minoritária é o Ruptura/FER.

E na direcção? Imagino que o Política XXI prefira a colaboração; mas em relação às outras, não sei qual é aquela em relação à qual desconheces, e aquela que quer que o BE substitua ao PCP (UDP?).

João Vasco disse...

A mesma indefinição estratégica que lhes foi útil no passado tinha o problema de não se poder manter indefinidamente.

Por tentarem te-lo feito - a questão que referes do ano da troika ser má altura explica que o tenham tentado - acabaram por sofrer de ambos os lados.

E isso responde à pergunta do Miguel Carvalho neste mesmo blogue.

Ricardo Alves disse...

Posso estar enganado, mas a minha percepção é que a UDP se coloca como objectivo substituir o PCP. Quanto ao PSR, a verdade é que a perspectiva dos trotsquistas é menos linear.

«A mesma indefinição estratégica que lhes foi útil no passado tinha o problema de não se poder manter indefinidamente.»

Exacto.