quinta-feira, 22 de julho de 2010

Dos consensos

Desde sempre que fui um fã do "sistema parlamentar holandês", um parlamento com um grande número de partidos que força a existência de coligações governamentais. Reduz a erraticidade legislativa e governativa, força debates sérios, força consensos, obriga os partidos a cederem e a sair das masmorras ideológicas. Em Portugal, em 36 de democracia, nunca vimos as esquerdas a negociar seriamente por exemplo.
Neste sentido, não posso deixar de discordar das várias críticas que têm sido feitas ao PS e PSD por estes aprovarem medidas que contrariam as suas tomadas de posição anteriores. Se queremos que a democracia não se resuma à ditadura da maioria, leia-se maiorias absolutas, é preciso consensos e cedências. Apenas lamento que estes consensos estejam a ser construídos daquele lado.

8 comentários :

André Carapinha disse...

Acho que está claramente a falhar o alvo do disparo. Já alguma vez viu o PS (ou o PSD) com vontade de construir "consensos alargados" que incluam o BE ou o PCP, em matéria de revisão constitucional, ou quase todas as outras?

JDC disse...

Como pode o PS construir um consenso alargado com BE e PCP se estes (principalmente este último) não abdicam nem um milímetro das suas posições?

Ricardo Alves disse...

Há culpas de parte a parte, mas Portugal deve ser o único país da Europa ocidental em que a esquerda só se reagrupa para as eleições presidenciais. E mesmo aí, nem sempre.

André Carapinha disse...

O BE e o PCP representam o eleitorado de esquerda em Portugal. Mais uns 5% de votantes PS, e isto a ser simpático. Felizmente, e sem ironia nenhuma, que há tanto eleitorado de esquerda em Portugal.
Não percebo a mania de querer, quase à força, que estes partidos façam "aproximações" de governo ao PS. Querem o quê, que também o BE o PCP deixem de ser de esquerda?

João Vasco disse...

André:

Se a seu ver a esquerda apenas representa cerca de 20-30% do eleitorado, então para que não se limitem a fazer discursos e passem algumas políticas de esquerda à prática terão mesmo de se aliar às restantes forças que, estando à direita, estão menos longe.

Senão é a opção entre amaldiçoar o eleitorado que temos que continua sem ser "de esquerda" e com as políticas que nesse caso limitam-se a reflectir a vontade do eleitorado; ou realmente forjar alianças e fazer cedências, para conseguir também resultados.

Miguel Carvalho disse...

André,

em que parte do meu texto é que eu disparo contra alguém especificamente?? Em parte alguma! Por que diz então que falho o alvo??

As críticas a que me refiro têm vindo de todos os partidos, de comentadores, jornalistas, bloggers, tudo. Não de um grupo em particular.
Eu critico um modo de fazer política, não um grupo em si.

Miguel Carvalho disse...

André.
curiosamente até tinha em mente algumas críticas do PS ao PSD e do PSD ao PS quando pensei escrever. Mas repito, é uma crítica ao modo de ver a política...

O desencontro das esquerdas em Portugal era apenas um exemplo.

André Carapinha disse...

Com certeza que defendo que é possível governar à esquerda em democracia, e que a base eleitoral da esquerda em Portugal é suficientemente ampla para que surjam soluções de governo que a integrem. O que eu contesto é essa ideia de que convergir com o PS seja como que uma obrigação da esquerda para que surja como "responsável", e não seja apenas "de protesto". Nas matérias em que essa convergência é possível (aborto, casamento homossexual), essa convergência foi feita. No resto, que é grande, grande parte do que define um programa de governo, como é possível convergir com este PS? E com que custos para a criação de uma verdadeira alternativa à esquerda?
Parta-se o PS ao meio, livremo-nos da escória neoliberal e dos apparatchiks, e depois falaremos. Hipótese, de momento, académica, é bom de ver.
Respondendo ao Miguel, e admitindo que talvez me tenham escapado algumas subtilezas do post, a verdade é que em matéria de revisão constitucional o PS e o PSD sempre fizeram os seus consensos e ignoraram todos os outros partidos. O ónus da responsabilidade em não criar consensos deve ir inteirinho para esses dois partidos.
E a propósito, o facto de eu afirmar existir à volta de 30% de eleitorado claramente de esquerda em Portugal não significa que o resto seja de direita. Eu diria 30 para a esquerda, 30 para a direita, e o resto para o famigerado "centrão" (conceito, diga-se, muito equívoco).