quarta-feira, 14 de julho de 2010

Censura ou não censura

Impedir a divulgação de uma mensagem, seja de que forma for, é censura. A censura pode ser legítima: já apaguei comentários deste blogue (concretamente, insultos em calão). No caso da Playboy, seria também legítima, pois trata-se de uma entidade privada. Mas qualquer dos casos configura uma limitação à liberdade de expressão e de informação.

Creio que o meu amigo Ludwig Krippahl subestima a importância de casos como o da Playboy. Porque nem sempre a censura vem do Estado: a liberdade de informação pode inexistir por uma combinação de decisões privadas (e legítimas, sublinho). No caso das famosas caricaturas de Maomé, terá havido países em que não foram publicadas sem que os governos tivessem pressionado nesse sentido.

Como os casos de censura são como as cerejas (quando se começa nunca mais se pára...), vamos a outro: descobri hoje que, em Guimarães, num edifício que pertence e é gerido pelo Estado (o Paço dos Duques de Bragança, do Instituto dos Museus e da Conservação), foi desmontada a instalação artística que se pode apreciar (parcialmente) na fotografia de baixo.
Como é evidente, a instalação pretendia evidenciar as complacências e cumplicidades do papa Pio 12 com o nazismo (ver mais fotografias e a explicação do artista). Mas os visitantes protestaram, e o director do monumento nacional decidiu encerrar a instalação um mês mais cedo. As razões do protesto prenderam-se com a circunstância de o local da instalação ser arquitectonicamente uma capela, e com a mensagem transmitida pela instalação artística em si. Refira-se que aquele espaço não é utilizado para o culto católico nem está, portanto, «sacralizado». E que pertence ao Estado. E que o artista tem o direito de divulgar a sua opinião desta forma, para mais num museu do Estado.

No meu entender, este caso é, não apenas censura, mas uma limitação grave da liberdade artística. E, por vir de uma instituição estatal, é perfeitamente escandaloso.

9 comentários :

Tá na laethanta saoire thart-Cruáil an tsaoil disse...

Paço dos Duques de Bragança, em Guimarães, decidiu encerrar, um mês antes do previsto, uma instalação PROVOCATÒRIA A UMA MAIORIA CATÒLICA E CONSERVADORA QUUE UTILIZA/frequenta ESSE ESPAÇO inspirada nas relações entre a Igreja Católica e o regime nazi, óbvio que a exposição foi mal recebida pelos visitantes, o que motivou a medida, mas o artista que concebeu a obra fala num caso de censura.

Comentário: Tudo o que comprometa a ICAR tem indignação....

Tá na laethanta saoire thart-Cruáil an tsaoil disse...

Assi proteger as receitas é um acto censor??
É....porque o artista não expôs no sul de portugal ou de espanha, mais tolerante a desmandos contra a igreja, dura câteva momente

eu se aqui vier dizer que hitler era o messias da nova ordem, não seria apagado se juntasse a isto As mensagens puramente insultuosas ou com calão desadequado poderão ser apagadas
mines până când censuriul?

Ricardo Alves disse...

Senhor Aiden,
se começamos a só aceitar as produções culturais que não chocam a maioria, perde-se grande capacidade de inovação.

Pense que «O crime do padre Amaro» deve ter chocado a maioria. Ou «O Evangelho Segundo Jesus Cristo». Estaríamos melhor se não tivessem sido publicados?

dorean paxorales disse...

http://www.kunsthauswien.com/en/exhibitions-archive-2010/controversies

exposição dedicada a fotografias polémicas (todavia, acabou no mês passado).
a mais engraçada era um daguerreótipo de mil oitocentos e coiso em que o daguerreotipógrafo se auto-daguerreótipografou enquanto vítima de afogamento. quase levou a técnica a ser proibida em frança tal a opinião geral de que os daguerreótipos desvairavam os artistas, levando-os ao suícidio pela sua arte.

Luís Lavoura disse...

"o artista tem o direito de divulgar a sua opinião desta forma, para mais num museu do Estado"

Quer isto dizer que qualquer pessoa que se autointitule "artista" fica ipso facto com o direito de manifestar as suas opiniões da forma que entender em qualquer museu do Estado?

Ena pá, se isto é assim, vou passar a intitular-me artista! A minha liberdade de propalar as minhas ideias aumentará consideravelmente! Passarei a dispôr de todos os museus do Estado ao meu serviço!

Ricardo Alves disse...

Luís Lavoura,
o artista em causa parece ter obra e expôr regularmente em galerias privadas. O que se passou neste caso foi que um museu do Estado lhe impediu a exibição de uma instalação artística por razões de ordem religiosa. Certo?

E qual é a sua opinião, já agora?

Filipe Castro disse...

Aqui nos EUA é assim: ou estas coisas prejudicam efectivamente alguém, ou é proibido proibi-las. Ponto. Proibir manifestações artísticas, ou opiniões, ou fotografias, ou filmes, ou pinturas, ou o que for, só porque estas alegadamente ofendem um grupo de pessoas, é SEMPRE um acto de estupidez repugnante.

Unknown disse...

A questão aqui não tem nada que ver com uma suposta liberdade de expressão, ou falta dela, mas sim com a transmissão de uma ideia absolutamente errada que só pretende alimentar a ânsia anticatólica, seja a que custo for, até mesmo através da alimentação da ignorância. Qualquer pessoa minimamente formada em História, está suficientemente esclarecida quanto ao papel do Papa nessa situação, absolutamente essencial para salvar muitos milhares de Judeus. Querer camuflar as verdades históricas só para satisfazer caprichos canhotos, é repugnante e, como é lógico, deve ser combatido. Pois claro, o Estado deve prover a cultura e o ensino, não miseráveis alienações de ignorâncias.

Ricardo Alves disse...

Tem direito a ter a sua opinião sobre Pio 12, como o artista tem direito a ter a sua. Não acho bem é que se impeça alguém de manifestar a sua opinião.

Obrigado por comentar um post com mais de 5,5 anos. ;)