sexta-feira, 30 de julho de 2010

2010 poderá ser o ano mais quente registado

Dados do instituto americano National Oceanic and Atmospheric Administration mostram que o mês de Junho deste ano foi o Junho mais quente desde que se regista a temperatura média da Terra (temperatura combinada dos oceanos e dos continentes). O mesmo sucedeu com o mês de Maio, o mês de Abril e o mês de Março. Ou seja, Junho foi o quarto mês consecutivo que registou a temperatura da Terra mais alta de sempre. Junho foi também o 304º mês consecutivo cuja temperatura ultrapassou a média de temperaturas do século XX. A última vez que um mês apresentou uma temperatura média inferior à do século XX foi o mês de Fevereiro de 1985. Finalmente, se considerarmos as temperaturas médias de todos os primeiros semestres registados até hoje, o primeiro semestre de 2010 foi o mais quente de sempre. As zonas em que se registaram as temperaturas mais elevadas em relação à época foram a zona do Peru, do centro e do leste dos EUA e as extremidades leste e oeste da Ásia. Os Jogos Olímpicos de Inverno deste ano realizados em Vacouver no Canadá ocorreram quase sem neve, quase exclusivamente à custa de neve artificial. No entanto, temperaturas mais frias que o normal ocorreram no sul da China e Escandinávia e a Europa teve um Inverno entre os mais frios das últimas duas décadas.




Imagens de satélite realizadas desde 1979 mostram que a cobertura de gelo do Árctico correspondente a Junho deste ano foi a menos extensa jamais registada para um mês de Junho. No entanto, é apenas em Setembro que se regista o mínimo de cobertura de gelo do Árctico antes do início do Outono. A ilustrar a tendência deste ano para as altas temperaturas um dos maiores glaciares do Árctico, o Glaciar Jakobshavn Isbrae, perdeu 7 quilómetros quadrados – um pouco mais que a área de Gibraltar – durante uma noite, tendo sido um dos maiores desmembramentos de glaciares jamais registados em tão curto espaço de tempo.

Os 10 anos mais quentes de sempre ocorreram durante os últimos 15 anos. Um relatório científico de 2009, o Diagnóstico de Copenhaga, indica que o aquecimento global poderia estar a seguir a via dos piores cenários projectados para as próximas décadas. Infelizmente, as medidas de 2010 em conjunto com as medidas realizadas nas décadas precedentes parecem confirmar a tendência do Diagnóstico de Copenhaga.

Se dúvidas existiam, temos agora motivos mais fortes que nunca para implementar com urgência as políticas de combate ao aquecimento global antes que o aumento da temperatura global atinja os 2º C, estimado como o aumento de temperatura a partir do qual os nossos esforços para controlar o clima poderão perder efeito.

17 comentários :

Luís Lavoura disse...

O facto de os Jogos Olímpicos de Vancouver terem ocorrido com neve artificial não me parece surpreendente: Vancouver tem um clima extremamente parecido com o do Porto, basicamente não neva em Vancouver num ano normal. É claro que perto de Vancouver há montanhas de 2.000 metros nas quais neva, mas em Vancouver propriamente dito não neva, a temperatura basicamente não cai abaixo de zero.

Vancouver, de facto, tem um dos climas mais agradáveis e moderados que se pode imaginar.

no name disse...

mas ao que parece, junho 2010 foi mais fresco do que junho 1998...

http://motls.blogspot.com/2010/07/how-likely-it-is-for-2010-to-be-warmer.html

e se o gelo no ártico diminuiu, o mesmo não parece ser o caso no antártico, pelo contrário

http://motls.blogspot.com/2010/07/global-sea-ice-anomaly-is-positive.html

de tal forma que a cobertura global se mantém a níveis de 1980...

como repito regularmente por aqui, as razões políticas para iniciar mudanças de paradigmas energéticos devem ser baseadas na sustentabilidade e na independência em relação a importações, e não em fenómenos científicos complexos que ainda estamos no processo de entender completamente.

Rui Curado Silva disse...

Ricardo Schiappa:

Ainda confio mais nos dados do NOAA (National Oceanic and Atmospheric Administration) do que no blogue do Motl, que é um blogue que alimenta os delírios da tendência política do presidente checo Klaus, aquilo que há na Europa mais próximo da Palin e da extrema-direita do Partido Republicano. Obviamente para esses indivíduos o aquecimento global não existe e bem vistas as coisas o darwinismo é coisa de comunistas. Já tive oportunidade de ter uma troca de emails com esse indivíduo onde ele me demonstrou uma desonestidade científica que me chocou. E terminou com ele a apelidar-me de perigoso comunista. Lembro que tanto o Motl como o presidente Klaus consideram o Vaclav Havel como um perigoso esquerdista...
Se o Motl acha que tem razão, só tem que publicar as contas que fez numa revista com arbitragem pelos pares. O que fazem os cientistas do NOAA há várias décadas.

As considerações sobre o Antárctico são típicas da desonestidade e/ou ingenuidade da argumentação do Motl. O Antárctico é demasiado extenso e moderado por uma massa oceânica demasiado importante para poder ser usado como referência. O Antárctico é muito menos sensível às alterações do clima do que o Árctico. No dia em que as temperaturas ou a cobertura do Antárctico variar muito é porque já estaremos a atingir um descontrolo extremo. Isto mesmo é referido no relatório publicado pelo IPCC em 2007, mas o Motl gosta de atirar areia aos olhos da malta.

Discordo com a tua conclusão. São fenómenos complexos, é certo, mas os dados que já temos hoje publicados nas melhores revistas da especialidade (milhares de publicações nas melhores revistas científicas, centenas na Nature, Science, Journal of Climate, etc.) são eloquentes e não foram contrariados por outras publicações (onde estão os trabalhos científicos que fundamentam as opiniões do Motl?). Toda essa informação representa uma situação de risco elevado (>90% de probabilidade do aquecimento ser causado pelo homem) a nível planetário que não pode ser ignorado. Um risco bem superior, por exemplo, ao de alguém colocar uma bomba no teu próximo voo de avião. Porque temos os raios X nos aeroportos e não agimos em relação ao clima?

Rui Curado Silva disse...

Luís Lavoura,

obviamente, tal como nos jogos de Turim, há uma diferença considerável entre as médias registadas na cidade e nas montanhas circundantes.

no name disse...

rui, curiosamente a tua resposta ilustra tudo o que há de negativo na climatologia: a incapacidade crónica de distinguir ciência e política. o que interessam as posições políticas do lubos para o caso? há tanta coisa tão errada, no que diz respeito a falar sobre ciência, no teu primeiro parágrafo que nem vale a pena comentar em demasia --- apenas para dizer que, nesse aspecto, conheço pessoalmente o lubos há muitos anos e se considero abomináveis as posições políticas que ele defende, é também verdade que não há muito por onde pegar nas suas habilidades científicas (em particular, não tenho qualquer dúvida que ele não saiba o que é uma capacidade calorífica, e a indicação de temperatura diz respeito a uma medição por satélite...).

mas muito do que o lubos publica no blog são comentários a apontar para trabalhos científicos publicados nas revistas da especialidade, precisamente os mesmo que apontas. é falso que esses trabalhos não existam (e nesse caso posso acusar-te também de desonestidade científica, como fazes em relação ao lubos). eu próprio já li alguns desses artigos por curiosidade (mcintyre, shaviv, os trabalhos da cloud, etc). acho que se calhar devias ter uma atitude mais ponderada e fazer o mesmo.

good churrasco ó auto de café.... disse...

como já foi notado
generalizações são perigosas
o ano está a meio
July 15, 8.37 million square kilometers , which is 1.62 million square kilometers below the 1979 to 2000 average, BUT 360,000 square kilometers above July 15, 2007, o mínimo desde 1980 e provavelmente o mínimo de sempre
antes de 1980 a fotografia aérea
era o único meio de cartografar o gelo
e devido às más condições, nem sempre eram feitos , não sei o que são lubos)mas mesmo estas coisas mcintyre, shaviv, são muito duvidosas

good churrasco ó auto de café.... disse...

shaviv é um astrofísico, tem trabalhos interessantes mas em termos de climatologia eu nem lhe cuspia em cima, cépticos que aldrabam dados
são como os gajos da fusão fria
observam apenas o que querem ver

Filipe Moura disse...

Bom texto, Rui.

Ricardo Schiappa, quem está a entrar em contradição és tu. Se achas (e bem) que não se deve misturar política e ciência, então não achas que deverias arranjar outro contraexemplo que não o Lubos? Ou achas que o Lubos não mistura as duas? Se calhar não mistura, mesmo: o que ele faz é política pura... Ou acreditas que há mesmo "ciência" nos dois posts do Lubos que lincaste?
A afirmação do Rui nos comentários ao texto do João Vasco é forte, mas pode ser falsificada. É provável que haja literatura cética do antropogenismo do aquecimento global, mas será comparável, em termos de quantidade e qualidade, com a em sentido contrário?
Dizem que estes climatólogos "são todos uns políticos"? Também há quem diga o mesmo da física de altas energias, a propósito da área em que eu ou tu trabalhamos, sem reconhecerem o mérito científico nem a avaliação dos pares. Cada vez mais, estes céticos do aquecimento global parecem-me o Lee Smolin ou o João Magueijo a falarem da teoria de cordas.

no name disse...

filipe, se eu menciono vários nomes e até uma experiência científica em curso, como raio estou a dar um único contra-exemplo? o trabalho do mcintyre é de tal forma "irrelevante" que "apenas" tem centenas de citações e até o ipcc deixou de falar no hockey stick em consequência. assim sendo "...É provável que haja literatura cética..." sem saberes ou te dares ao trabalho de saber é que é da onda smolin...

Filipe Moura disse...

Ricardo, o Lee Smolin e infelizmente o João Magueijo também publicam artigos em bons jornais. A climatologia tem exatamente a mesma credibilidade da teoria de cordas: é aceite pela maioria (no caso do aquecimento global antropogénico esmagadora) dos especialistas da área. Os céticos do aquecimento global, repito, têm na comunidade científica a mesma credibilidade do Lee Smolin e do João Magueijo.

Ricardo Alves disse...

Filipe,
a credibilidade de uma teoria científica não vem do consenso da «maioria» dos especialistas. Por essa ordem de ideias, o criacionismo um dia foi «credível»...

Filipe Moura disse...

Ricardo, estás a cometer o erro de julgares épocas diferentes com o critério da nossa época. Durante muito tempo não havia ciência. O criacionismo hoje não pode ser visto como era o criacionismo há 500 anos.

Não vejo melhor critério para um leigo (como tu, eu e o Schiappa somos nesta matéria) do que confiar nos especialistas. Em quem vamos confiar então? Em meia dúzia de iluminados? Poderíamos, se esta não fosse uma matéria que diz respeito a todos. Ao planeta todo. Não pode haver liberdade aqui.

no name disse...

filipe, se preferes ler artigos do maldacena em vez do smolin, porque "são aceites pela maioria" isso parece-me querer apenas dizer que não percebes o que está lá escrito... a ciência não é um conjunto de consensos, nem uma proto-democracia, é um conjunto de resultados, sem opinião própria.

João Vasco disse...

Ricardo Shchiapa e Ricardo Alves:

Claro que o criacionismo foi credível.

A ciência não é feita por consenso, mas também não é feita nas caixas de comentários dos blogues.

Um cientista avalia qual a teoria que melhor encaixa nos dados conhecendo em detalhe as teorias, o trabalho publicado, os dados. Nós, os não especialistas não conhecemos em detalhe nenhuma dessas coisas. Por isso, só existe uma atitude sensata, uma heurística adequada: seguir o consenso.

Pode estar errado? Claro. Mas com a informação que temos, é a maneira mais eficaz de chegar à resposta certa. E é uma heurística tão eficaz, que vocês nem se dão conta que a usam em TODAS as ciências nas quais não são especialistas. Por exemplo, em história há N discussões, mas vocês aceitam as opiniões em relação às quais existe consenso como sendo as certas.
Se o consenso mudar: porque surgem novas provas, novos argumentos, novos dados, etc., vocês mudam a vossa opinião.

Por isso, eu acho que em termos políticos devemos confiar nos especialistas para nos dizerem como funciona a realidade, em particular no que diz respeito aos efeitos do CO2. Se novos argumentos científicos fizerem com que o consenso mude, eu mudo a minha posição. Até lá não vou ignorar as conclusões da maioria das pessoas que tem acesso a mais dados e conhecimentos sobre o assunto.

Parece-me claramente pouco sensato.

Rui Curado Silva disse...

Ricardo:

em primeiro lugar referi-me ao que uso como fonte. Confio mais num instituto como o NOAA, cujas publicacoes sao verificadas pelos pares do que o blogue do Motl que aborda tanto ciencia como politica. Tal como nos fazemos aqui no Esquerda e como eu faco no Klepsydra. O Motl pode escrever la o que quiser e seleccionar os comentarios que publica (ja fez isso com comentarios meus que eram simples perguntas a factos concretos).

Em segundo lugar nao critico o trabalho cientifico do Motl, o da sua area de especialidade, que nada tem a ver com o aquecimento global. Confio nos pares do Motl que revem os seus artigos. E nao tenho duvidas que ele é muito bom no que faz.

Em ultimo lugar o Motl aponta para trabalhos cientificos, tal como o fazem tantos outros optimistas do clima, mas nao sao trabalhos que em si coloquem em causa alguma coisa de fundamental sobre a ciencia do suporte do relatorio do IPCC. Sao questoes como a do hoquey stick (forma do grafico da evolucao da temperatura), que teve uma publicacao na Nature a contrariar alguns aspectos do grafico, mas que foi ultrapassado por publicacoes posteriores que reforcam o hoquey stick e incluem as correccoes dessa publicacao. Alem disso o grafico da evolucao da cobertura de gelos total (polos e glaciares de montanhas) e o grafico da evolucao do nivel do mar confirmam o hoquey stick. Esses trabalhos fazem parte daquilo que eu acho que e´a ciencia. Ha publicacoes, a seguir surgem outras que corrigem as anteriores e assim sucessivamente e a teoria vai sendo apurada. O problema do Motl é que ele nao tem duvidas nenhumas que o aquecimento global nao existe e mesmo que exista nos vamo-nos adaptar sem problemas. Ele nao tem ciencia que fundamente esta posicao. No minimo, se ele fosse serio poderia ter duvidas, poderia por exemplo referir que a estimativa do IPCC é exagerada (a da probabilidade >90%) por este ou aquele motivo baseado nesta ou naquela publicacao. Por exemplo, ele escreveu ha mais de um ano que nao havia problema em o nivel de CO2 estar acima dos 360 ppm (nos ultimos 600 mil anos nunca ultrapassou os 300 ppm). Hoje sabe-se que a concentracao elevada de C02 esta a alterar o PH da agua dos oceanos, a acidifica-la, e que ha ja regioes do oceano onde a fauna e a flora estao a desaparecer. Com que bases cientificas é que ele podia afirmar que 360 ppm eram inofensivos? Foi essa a pergunta que lhe coloquei, que ele nao publicou e a qual me respondeu por email que eu era um comunista, entre outro palavreado que me chocou.

Rui Curado Silva disse...

Ricardo Schiappa:

nao é uma questao de consenso ou de maiorias. Quando tens milhares de trabalhos em todas as areas que te apontam para uma probabilidade superior a 90% de o aquecimento verificado ser provocado pelo homem, para que eu duvide destes trabalhos todos tenho pelo menos trabalhos muito significativos que contradigam o essencial destes milhares de trabalhos. Nao é necessario que sejam tambem milhares. Podem ser apenas 5 ou 6 em varias areas, escritos por 8 ou 18 cientistas, desde que expliquem porque é que os outros trabalhos todos estao errados ou porque falham no que tentam explicar. Onde estao esses 5 ou 6 trabalhos que me vao fazer mudar de opiniao? É esta a minha eterna pergunta aos optimistas do clima.

Filipe Moura disse...

RicardoS, seguramente quando optei pela nossa área de investigação considerei os resultados obtidos na mesma, de forma a ter futuro. Dado que a maioria dos cientistas são pessoas inteligentes, a maioria dedica-se a investigar coisas com futuro. Essa tua dicotomia "ciência-democracia" nos países desenvolvidos não faz muito sentido. Em Portugal faz algum, por conhecidos atavismos. Mas isso não se aplica à climatologia e ao aquecimento global, que são estudados internacionalmente.

Rui, só um reparo: o Lubos Motl, infelizmente, já não faz ciência (é político profissional - apesar de a opinião dele sobre o ramo da sua especialidade ter muito valor). É uma pena, mas foi a opção dele.