Mas o melhor comentário a esta curiosa medida do Scanner corporal encontra-se aqui («O mundo enloqueceu, e eu tenho a prova»).
"Uma escuta aqui, uma escuta ali"
Há 2 horas
«entre le fort et le faible, entre le riche et le pauvre, entre le maître et le serviteur, c’est la liberté qui opprime, et la loi qui affranchit.»
(Lacordaire)
25 comentários :
Também acho que não nos vamos entender sobre este tema. Eu, para sentir que voo seguro (tirando os acidentes imponderáveis), se - pardon my french - tiver que mostrar o pirilau, mostro. Se tivermos que nos despir todos para evitar atentados, dispamo-nos, pois. A roupa é uma mera convenção social - viemos todos nus ao mundo.
O problema aqui não está na nudez, mas no sintoma que isso representa.
Ouvir conversas, cruzar todo o tipo de dados, vigiar as comunicações por internet, todo o tipo de invasões da privacidade. Verem-nos nús é só mais uma.
O próprio conceito de privacidade é uma convenção social. A meu ver útil, pois quando acarinhado protege as pessoas do poder, em última análise do totalitarismo.
A desculpa hoje são os terroristas, mas muito pouca gente morre em atentados. É um absurdo arriscar a liberdade dessa forma, pela qual morreram muitos mais.
Se para nos sentirmos todos seguros, tivermos de permitir uma "full body cavity search", feito por um agente aeroportuário de luva de látex em punho, o Filipe Moura aceita isso?
Eu concordo com o Filipe. Há imensas coisas tenebrosas neste mundo novo, em que a privacidade acabou, e parece-me que dos atentados todos à privacidade e à intimidade que a era Bush nos impos, a nudez é a única coisa que não me incomoda.
A nudez em si não me incomoda nada. A minha nudez talvez incomode os outros, mas isso é outra coisa...
O que a mim me incomoda é andarem a despir pessoas quando o acréscimo de segurança é desprezável.
Penso que se as pessoas soubessem qual é a real eficácia destas máquinas na redução da ameaça terrorista muitas delas pensariam duas vezes antes de se sujeitarem ao escrutínio anatómico e sentir-se-iam obrigadas a fazer algo que não querem.
Estas medidas parecem cada vez mais pura cosmética para fingirem que há maneira de controlar o terrorismo por via securitária.
recomendo a cena da chegada a marte no total recall para colocar as coisas em perspectiva. isto pode tornar-se num processo completamente inócuo e não-invasivo, de simples despistagem, e sem colocar em causa qualquer liberdade individual.
da eficácia dos acutais scanners e da real capacidade dessa tecnologia, isso já seria outra discussão...
Respondendo ao Francisco Burnay, começo por esclarecer que nunca, jamais, em tempo algum dois alunos da LEFT se devem tratar por você, ok? (A não ser que um deles seja o Horácio Fernandes, que foi da LEFT por engano.)
Se a questão é a eficácia desses procedimentos, pois muito bem, ponham-na. Mas ponham-na desse modo, e não como um mero atentado à liberdade individual (pode ser que eu vos apoie, se me convencerem disso). O mundo está cheio de atentados à liberdade individual e totalitarismos; este seria só mais um.
Respondendo à tua pergunta directamente, Francisco: desde que TODA a gente (o Barack Obama, o José Sócrates...) fosse assim inspeccionada, poderia ser que me incomodasse. Mas se me garantissem que era necessário, não teria problemas em aceitar.
O que verdadeiramente me revolta, enquanto pessoa de esquerda, são situações como as que envolveram dois veículos do estado português na Avenida da Liberdade, em Lisboa, no mês passado. São situações de privilégio.
Filipe Moura,
A questão é que há sempre um custo associado à renúncia das liberdades individuais que não se prende somente com um decréscimo da segurança. A liberdade não é um bónus da segurança.
Estamos a falar de prescindir da liberdade de não ser despido e tratado como um suspeito. Isto é um preço elevado demais só para garantir que eventuais terroristas talvez não levem algumas gotas de combustível para dentro de um avião.
Imagina então que o Governo pretendia aplicar o recolher obrigatório, suspender o habeas corpus e permitir rusgas e escutas sem mandado judicial para impedir um determinado grupo terrorista de fazer um ataque. Era garantido que eram apanhados. Aceitavas? Pela tua última resposta, desde que te dessem garantias de sucesso, parece-me que devias aceitar.
E se souberes que há alternativas a usar body scanners para aumentar a segurança, continuas a aceitá-los?
"A liberdade não é um bónus da segurança."
A segurança também não pode ser um bónus da liberdade. Muito menos a igualdade pode ser um bónus da liberdade. Lê o lema deste blogue, por baixo do título. (Sabes entretanto que a extrema direita americana é o Partido Libertário, correcto?)
Caramba, esta é uma discussão muito mais profunda que a dos orçamentos de estado...
"Era garantido que eram apanhados. Aceitavas? Pela tua última resposta, desde que te dessem garantias de sucesso, parece-me que devias aceitar."
Não respondo a questões retóricas, Francisco. Sabes bem que esse tipo de garantias de sucesso não podem ser dadas, pelo que essa questão não se põe. Não quero com isto fugir às tuas questões, mas põe-me questões realistas.
"E se souberes que há alternativas a usar body scanners para aumentar a segurança, continuas a aceitá-los?"
Lê bem o que eu escrevi por favor. Se souber que tais alternativas existem, que venham tais alternativas. O problema é que quem protesta contra os scanners nunca apresenta essas alternativas: só fala na estafada liberdade individual. Isso a mim não me diz nada. Vivemos cheios de restrições à liberdade individual (no fundo, a maior parte das leis são restrições à liberdade individual; a maior parte das leis são totalitárias). E ainda bem.
Filipe:
É sintomático que esta conversa tenha chegado ao ponto em que afirmas que a luta pelas liberdades individuais não te diz muito.
Tinhas razão, não nos vamos entender sobre este tema, que curiosamente me é muito caro.
«permitir rusgas e escutas sem mandado judicial»
Escutas sem mandado judicial já são toleradas pelo governo (ou, talvez, «ordenadas»), quando feitas pelos serviços «de informações». De vez em quando, há securitocratas que se gabam disso nos jornais, e o Alberto Costa já chegou a defender que se alterasse a constituição para legalizar o que «já se faz».
Se os cidadãos não se revoltam, voltaremos ao tempo da PIDE. Com outro nome, mas com o mesmo género de pessoal.
«Se os cidadãos não se revoltam, voltaremos ao tempo da PIDE.»
Pois...
Mas a palavra "terorista" parece ser suficiente para evitar essa revolta. E as coisas a acontecerem diante dos nossos olhos.
E quando a PIDE começou, também havia «terroristas»: a «Legião Vermelha» (nunca se soube muito bem quem eram, curiosamente).
Caro Filipe Moura,
Fiz como aconselhaste e li de novo o teu comentário anterior. Fiquei com isto atravessado:
«O mundo está cheio de atentados à liberdade individual e totalitarismos; este seria só mais um.»
Só mais um? Então é assim que nós decidimos? Como há abusos no mundo, mais um crime não tem importância?
A pergunta que te fiz não era assim tão retórica. Em 1870, o governador da Carolina do Norte impôs a lei marcial, suspendeu o habeas corpus e mandou vir um miliciano que reuniu 300 pessoas para caçar membros do Ku Klux Klan. Estas coisas às vezes acontecem mesmo...
«O problema é que quem protesta contra os scanners nunca apresenta essas alternativas: só fala na estafada liberdade individual. Isso a mim não me diz nada.»
Não é uma questão de alternativas. Eu não me importo em encontrar alternativas para a tortura nos interrogatórios - quero simplesmente que acabe, porque é um atentado aos direitos humanos.
Mas se a "estafada liberdade individual" não te diz nada, nem sei como argumentar mais...
Filipe,
Se a liberdade individual está «estafada», defendes o quê? A ditadura da maioria? O histerismo mediático-político enquanto meio de decisão?
Francisco e restantes comentadores, eu não disse que não dava nenhum valor à liberdade individual. Disse simplesmente que não lhe dava um valor absoluto.
O texto do João Vasco, bem como muitos outros textos que se escrevem sobre este assunto, é que elevam a liberdade individual a patamares absolutos, como se não houvesse mais nada, ou nada mais importante. Já disse: se querem argumentar contra os scanners corporais, argumentem com dados concretos. Só porque é um atentado à liberdade individual não convence ninguém. Em particular não me convence a mim (mas a mim não me convence conscientemente). Vivemos rodeados de totalitarismos e atentados à liberdade individual. A proibição de fumar em lugares públicos. A obrigatoriedade de peões atravessarem na passadeira e automobilistas usarem o cinto. E ainda bem. Ainda bem, repito.
Ricardo, os casos de que falas também me preocupam a mim (escutas). E, convenhamos, não têm nada a ver com o que pretendia discutir: a segurança de um passageiro num avião.
Quanto à pergunta que me fazes: em assuntos privados, defendo a liberdade individual. Em assuntos públicos, defendo que as minorias se submetam as maiorias. Se quiseres chamar a isto "ditadura da maioria", chama. Eu, a cada dia que passa, tenho mais saudades do primeiro mandato do Sócrates.
"Sabes entretanto que a extrema direita americana é o Partido Libertário, correcto?"
Só queria lembrar-te, Filipe, que,
1 ao contrário do Partido Democrata, o Partido Libertário teve e tem posições extremamente firme contra a guerra do Afeganistão e do Iraque. Desde sempre, incluindo o dia 12 de Setembro de 2001 , esteve firmemente contra intervenções bélicas dos eua no estrangeiro.
2 o Partido Libertário, ao contrário dos Democratas, é pela legalização das drogas leves.
3 o Partido libertário é contra a criminalização da prostituição e dos costumes ( homossexualidade, etc.)
4 o Partido libertário opôs-se firmemente ao Bail-Out dos grandes bancos e ao estado apoiar os Fat-Cats capitalistas
5 O partido libertário opõe-se firmemente à promiscuidade entre Igreja e Estado. É provavelmente o partido mais laicista dos EUA.
Este tipo de gráfico que já tem aparecido neste blogue e demonstra como é errado o conceito embrutecedor de "extrema-direita" aplicado assim.
Se há coisa que este blogue tem o mérito de fazer é um esforço para esclarecer os seus leitores.
Tendo em conta que o conceito de "extrema direita" é abominado em Portugal como equivalente a direita conservadora, securitária, beligerante e racista, parece-me que o teu objectivo foi confundir o discurso para o teu interlocutor e os outros leitores.
Caro Filipe,
De facto os dados são parte da discussão. Mas a passividade com que as pessoas aceitaram estes equipamentos sem se questionarem é, como diz o João Vasco, alarmante.
Repara que só se conhece a eficiência de um método de segurança depois de já ter sido aplicado. Esse tipo de testes não é, no entanto, passível de ser aplicado a técnicas que põem em causa a privacidade das pessoas.
É a própria TSA que diz que existem problemas de privacidade em relação aos raios X de retrodifusão. A imagem é muito detalhada, digital, pode ser guardada por tempo indefinido e tem sempre de ser censurada a posteriori. A falta de detalhe da imagem deste post é lá colocada depois...
Podes achar que é um exemplo retórico mas eu chamo-lhe um bom exemplo: pôr escutas sem mandado levariam, certamente, à incriminação de muitas pessoas. Mas isso não é aceitável. Por alguma razão os tribunais rejeitam provas, mesmo que irrefutáveis, se não tiverem sido obtidas dentro da lei.
A liberdade individual, afecta às escolhas individuais, é um bem absoluto se não puser em causa a liberdade dos outros. Mas nesse caso já não estamos perante escolhas puramente individuais.
Filipe,
é evidente que tem de haver regras no espaço público, e que vão muito para além do ordenamento do trânsito. É o preço que se paga para a liberdade de cada um não interferir com a liberdade de todos.
Agora, os atentados à privacidade, que as pessoas aceitam cada vez mais facilmente, diminuem a liberdade de cada um sem aumentar a liberdade de todos.
Por exemplo, estes scanners corporais. Servem para quê? Para ver se vamos misturar explosivos no estômago? É que diminuem a liberdade sem representarem um aumento de segurança.
Ricardo, repito mais uma vez: este assunto não tem nada aver com escutas e intrusão na vida privada, que também me preocupam.
Francisco, repito mais uma vez: se querem fazer um post que me diga alguma coisa, argumentem com dados científicos que os scanners corporais não servem para deixar um passageiro de um avião mais tranquilo relativamente a ataques terroristas. Os argumentos puramente baseados na liberdade individual não me tocam nem me comovem. Sou assim. É a minha liberdade individual... :)
Grande João, o que referes confirma mais uma vez o que no blogue de que fazes parte se sabe há muito tempo: as causas ditas fracturantes não são necessariamente de esquerda (o que não quer dizer que não sejam justas).
Gráficos há muitos. Eu prefiro este: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Political_chart.svg
Estou entre o verde e o rosa (coordenadas (-1,0), se normalizarmos o quadrado a 1 - ah, como é bom poder discutir com gajos do Técnico!). Os libertários estão nas coordenadas (1,-1). Bem longe de mim.
Extremas direitas há muitas (x=1, y a variar entre -1 e 1: basta olhares para o Insurgente, que apesar de tudo é um blogue bastante diverso). Extremas esquerdas também há muitas (x=-1, y a variar entre -1 e 1: basta olhares para o Cinco Dias, que também é um blogue bastante diverso). Esquerda é igualdade, e não se pode estar mais longe da igualdade que o Partido Libertário. Vivi no s EUA, conheço o Partido Libertário e não tenho a menor dúvida em classificá-lo como de extrema-direita.
O problema é que podem existir dois eixos considerados esquerda-direita.
Num caso, esquerda-direita corresponde à protecção da propriedade privada (o eixo horizontal do diagrama exposto pelo Filipe).
Noutro caso, o eixo esquerda-direita está rodado 45º, começando na esquerda libertária e acabando na direita autoritária. Muitas pessoas usam este eixo devido ao historial que tivemos (uma ditadura em que a propriedade privada era significativamente protegida, que levou a que as pessoas com mais propensão libertária simpatizassem mais com ideias económicas de menor protecção da propriedade privada e vice versa, de tal forma que os dois tipos de ideias acabaram por ficar tão associados que foram para muita gente indistinguíveis - a "liberdade" era uma ideia de esquerda, nesse contexto). Foi neste contexto, em que o eixo orientador da política na prática era este, que se cunhou o termo "extrema direita" como estado associado ao fascismo, e até mesmo a ideias racistas.
Mas, como esse esquema está tão dependente de um contexto histórico que cada vez menos condiciona a nossa política, a protecção da propriedade privada e a atitude face à liberdade individual vai estando cada vez mais dissociada, concordo que é mais adequado pensar no "esquerda-direita" como sendo o eixo horizontal.
Nesse caso, apesar da conotação histórica que deverá desaparecer, dizer que alguém é de extrema direita não corresponderá necessariamente a qualquer associação com o racismo ou defesa de alguma forma de totalistarismo.
Olha Filipe,
na meia dúzia de vezes que fiz o «Political Compass», ficava sempre no verde, mas mais longe do centro no eixo «libertário» do que no eixo «esquerda».
Mas já fiz um teste que me colocou na extrema-direita:
http://esquerda-republicana.blogspot.com/2006/02/dvida-lancinante-serei-um-conservador.html
«ficava sempre no verde, mas mais longe do centro no eixo «libertário» do que no eixo «esquerda».»
É como eu :)
Na região verde (i.e. y<0, x<0) toda a gente fica (até o Pedro Lomba e o Pedro Mexia ficaram); o interessante neste teste de facto é relacionar y com x (a recta y=x serve assim de fronteira). Embora o meu y e o meu x fossem sempre claramente negativos, sempre tive y>x. Pouca diferença, mas y>x. Pelos vistos com vocês é o contrário.
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