terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Paranoia securitária

Na Jugular, li isto:

«No dia 6 de Janeiro, Paul Chambers estava preocupado com o encerramento do aeroporto, devido ao mau tempo que assolava a Inglaterra, donde planeava voar no dia 15 de Janeiro. Resolveu ventilar essa preocupação no Twitter de uma forma que considerou humorística:. "Robin Hood airport is closed. You've got a week and a bit to get your shit together, otherwise I'm blowing the airport sky high!!"

Aparentemente a polícia inglesa não achou muita piada ao tuite e, uma semana depois, Chambers foi detido, interrogado durante quase sete horas, preso mais uma hora e só depois libertado sob fiança. Agora aguarda, até 11 de Fevereiro, informação sobre se será acusado de conspiração para criar uma ameaça de bomba. Entretanto, os detectives que o interrogaram confiscaram-lhe o i-Phone, o portátil e o computador de casa. Chambers foi ainda suspenso do seu trabalho enquanto aguarda uma investigação interna e foi, alegadamente, banido para o resto da sua vda do aeroporto de Doncaster.»


Apesar do mediatismo, o terrorismo é um fenómeno que não justifica a velocidade com que estamos a abdicar das liberdades, direitos, e até do bom senso.
Morrem muitas mais pessoas em acidentes viários num dia, no mundo inteiro, que em atentados terroristas num ano. Não vendamos a liberdade por tão pouco.

13 comentários :

Anónimo disse...

Sempre que entramos em pânico, os terroristas vencem um pouco.

Wyrm disse...

A definição do que é "terrorismo" irá ser cada vez mais abrangente.

Filipe Moura disse...

A liberdade também é uma responsabilidade, João. Para que serve a liberdade de fazer twitadas imbecis, podes dizer-me? Se o mesmo autor dessas twitadas, para se divertir, porque não tinha nada melhor para fazer (e em nome da sacrossanta "liberdade individual", claro) decidisse telefonar para a polícia a dizer que ia pôr uma bomba no aeroporto, também achas que não deveria ser responsabilizado?

Anónimo disse...

Liberdade igual a responsabilidade É uma questão de bom senso, ele só pretendia viajar no dia 15 e escreveu uma bacorada no dia 6; agora não tem cumputador nem emprego e vai viajar de comboio, pois claro, teve liberdade e agora tem responsabilidade.

João Vasco disse...

Filipe, existe mesmo uma divergência de valores aqui.

Aquilo a que chamas prejorativamente "sacrossanta liberdade individual" deveria de facto ser defendida.

Se eu no café, furioso com a incompetência das senhoras da secratria, disser "apetecia-me rebentar aquilo" não espero que a polícia me leve para a esquadra para me interrogar.

Não é uma questão de eu prezar a liberdade de dizer que quero rebentar coisas - como dizes, se fosse uma ameaça credível era diferente - mas sim por mero bom senso.
Se a paranoia securitária que faz com que a polícia perca meios, tempo e dinheiro com esta palhaçada não te impressiona nem com este exemplo caricato, vejo que podiam mesmo fazer aquilo que quisessem em nome da "sacrossanta luta contra o terrorismo".

A luta contra o terrorismo, não é de agora, sempre facilitou os projectos totalitários. Se nós aderimos acriticamente a todas estas paranoias (caramba, o que aconteceu ao homem por causa de um twit inofensivo) as "sacrossantas" liberdades que custaram tanto esforço (vidas, mesmo, provavlmente mais que aquelas que os terroristas ceifam) não vão durar muito.

Filipe Moura disse...

"Filipe, existe mesmo uma divergência de valores aqui."

João, é provável que sim. E não há problema nenhum nisso! O meu objectivo principal na blogosfera sempre foi debater com pessoas que valham a pena.

Repara, há que distinguir o twitter ou um blogue do Facebook, por exemplo. Se eu publicar uma "piada" dessas no Facebook, apesar de tudo é algo privado: só os meus amigos, as pessoas que eu escolhi adicionar, a lerão. Eu não conheço bem o twitter (nunca me atraiu), mas tanto quanto sei é público. Tal como o que tu escreves no blogue. Mandar essas "piadas" em privado é uma coisa; em público é outra.

Não digo que não haja aqui um exagero nisto tudo, atenção. Mas o tipo em questão não me desperta simpatia nenhuma.

Anónimo disse...

A liberdade é uma coisa. A responsabilidade é outra. E a questão coloca-se justamente ao contrário - não há nenhum quid pro quo entre a responsabilidade e a liberdade.

Nós exigimos responsabilidades a pessoas que têm à sua disposição todas as faculdades para o ser. Mas essas pessoas sempre foram livres, com ou sem essas faculdades.

Não ser totalmente livre pode aliviar-me de algumas responsabilidades. Mas ser reconhecidamente livre não me prende às noções alheias de responsabilidade.

Filipe Moura disse...

Não, Francisco. Liberdade e responsabilidade são uma e a mesma coisa. Se as pessoas não PODEM assumir uma responsabilidade, então não são realmente livres (por muito que se julguem). Se as pessoas não QUEREM assumir uma responsabilidade... são irresponsáveis. Nos EUA, onde predomina a ética protestante, de que eu gosto, as pessoas são mais responsáveis. Um tipo quando exige liberdade sabe que também exige responsabilidade. Já nas sociedades europeias (principalmente do sul, de matiz católica) pós Maio de 68 predominam os irresponsáveis. (O Maio de 68 é o triunfo da irresponsabilidade.) O grande problema, a meu ver, está aqui: nas nossas sociedades exige-se liberdade de uma forma irresponsável.

Anónimo disse...

Filipe,

Se os homossexuais forem livres de se casar, qual é a nova responsabilidade que adquirem? A de se casarem responsavelmente?

Tu tiveste a liberdade de escolher o teu curso. Qual é que a responsabilidade associada? Tens a responsabilidade de escolher um curso?

Tens a liberdade de te vestires como quiseres. Por acaso tens de te vestir de forma responsável? Isso nem sequer faz sentido.

Tens liberdade de opinião e pensamento. Lá por isso tens a responsabilidade de ter opinião, ou de ter opiniões responsáveis? O que é isso?

Tens a liberdade de escolher a tua dieta. Mas só o podes fazer de forma responsável?

Tens a liberdade de te suicidar. Ou será que não? Se calhar isso é irresponsável, ou então podes suicidar-te desde que te suicides responsavelmente...

Talvez estejas a usar o termo "responsabilidade" no sentido de "atribuição de causa" mas responsabilidade é mais do que isso. Significa dever ou obrigação, também. E eu não tenho o dever, obrigação ou responsabilidade de escolher a cor da minha roupa ou do meu clube de futebol, a minha religião ou o meu partido político.

Ricardo Alves disse...

«Se os homossexuais forem livres de se casar, qual é a nova responsabilidade que adquirem? A de se casarem responsavelmente?»

Francisco,
adquirem a responsabilidade de não deixarem o cônjuge cair na miséria, por exemplo. Salvo erro, tal responsabilidade mantém-se mesmo depois do divórcio.

Anónimo disse...

Ricardo,

Responsabilidade esse que surge do facto de terem celebrado um contrato. Mas não é a liberdade de se casarem que lhes dá essa responsabilidade.

Filipe Moura disse...

Francisco, dizer que "liberdade e responsabilidade são uma e a mesma coisa" talvez seja de facto um pouco forte. Há que distinguir o público do privado. Mas não faltarão ocasiões para retomarmos este assunto.

Ricardo Alves disse...

«não é a liberdade de se casarem que lhes dá essa responsabilidade»

Pois não.