– Muita pobreza, mas muita preguiça – considerou duramente o padre Natário. Em muitas fazendas sabia ele que havia falta de jornaleiros, e viam-se marmanjos, rijos como pinheiros, a choramingar padre-nossos pelas portas. – Súcia de mariolas! – resumiu.
– Deixe lá, padre Natário, deixe lá! – disse o abade – Olhe que há pobreza deveras. Por aqui há famílias, homem, mulher e cinco filhos, que dormem no chão como porcos e não comem senão ervas.
– Então que diabo querias tu que eles comessem? – exclamou o cónego Dias lambendo os dedos depois de ter esburgado a asa do capão. – Querias que comessem peru? Cada um como quem é!
O bom abade puxou, repoltreando-se, o guardanapo para o estômago, e disse com afecto:
– A pobreza agrada a Deus Nosso Senhor.
– Ai, filhos! – acudiu o Libaninho num tom choroso – se houvesse só pobrezinhos isto era o Reininho dos Céus!
O padre Amaro considerou com gravidade:
– É bom que haja quem tenha cabedais para legados pios, edificações de capelas...
– A propriedade devia estar na mão da Igreja – interrompeu Natário, com autoridade.
O cónego Dias arrotou com estrondo e acrescentou:
– Para o esplendor do culto e propagação da fé.”
Eça de Queiroz
6 comentários :
Viva,
Divulguem, por favor!
No próximo dia 10, Domingo, Lisboa manifestar-se-á contra a Pena de Morte, juntando-se assim ao conjunto de cidades de todo o mundo onde será lembrado o 8º Dia Mundial contra a Pena de Morte. Apela-se à participação e divulgação deste evento.
10-10-2010
17:30h
Largo de Camões (Lisboa)
Todos vestidos de preto contra a pena de morte!
Mais info, cartaz e sticker para o blog no link abaixo:
http://www.facebook.com/event.php?eid=155343071164720
Trata-se de uma iniciativa conjunta da ATTAC, Colectivo Mumia Abua-Jamal, Comité de Solidariedade com a Palestina, Não Te Prives, SOS Racismo, Panteras Rosa, Pobreza Zero Precários Inflexíveis e Solidariedade Imigrante.
come-se pão de bolota senhor....queremos conduto
e a guarda disparou
e a carnificina começou e terminou
sem aparecer nos jornais
que a república portuguesa tem uma imprensa onde estão arquivados alvitres, ideias, propostas e críticas, em número mais que suficiente para se salvarem dez países do tamanho do nosso
infelizmente não tem espaço para um morto e dez feridos duma greve de ceifeiros, compreende-se pois que quando O Dia me bateu à porta a título de ter criticado a república das cidades mas não dos campos, fiquei grato à honra que me faziam, mas scéptico a respeito dos resultados
Não vejo a grande crise em Portugal.Vejo progresso lento, desordenado e entrecortado,e não me admiro,nem me aflijo.
Milagrosa seria, a meu ver, a existência de uma evolução gradual e contínua duma república que em quási nada se distingue da monarquia moribunda que sufocou
Julho de 1924
não é Eça mas também escreveu nos jornais....
uns excertos
a fome, os famintos e os esfomeados
são personagens distintos
há os que vão aos caixotes e os que vão às caixas
reduzir a realidade da monarquia a um parágrafo
é reduzir a república a uma linha
Eu não tenho é tempo, senão podia transcrever milhares de páginas sobre a monarquia: o Eça, o Ramalho, o Antero... ou leia os livros de história sobre o taliban D. Miguel, ou as histórias tresloucadas da Dona Maria, ou o desprezo do D. Carlos pelo país e pelos súbditos, o analfabetismo, a pobreza, o colonialismo inglês, os complexos de inferioridade, se quiser vá até ao século XVIII e leia sobre as angústias do marquês de Pombal perante uma aristocracia suja, burra, ignorante e caceteira, que se recusava a aprender o abecedário...
Filipe Castro disse...
Eu não tenho é tempo
vejamos se nos comprendemos
a culpa não é de um sistema
a fome a miséria resultam de todo um povo
e de um sistema de vida
seja monarquia ou república tanto faz
e as conjunturas históricas que lhes determinam o horizonte.
E nada defende melhor os seres vivos contra a estupidez dos preconceitos, do racismo, da xenofobia, das obtusidades localistas do sectarismo religioso ou político, ou dos nacionalismos discriminatórios, do que a comprovação constante que sempre aparece na grande literatura: a igualdade essencial de homens e mulheres em todas as latitudes, e a injustiça representada pelo estabelecimento entre eles de formas de discriminação, sujeição ou exploração."
Mario Vargas Llosa
compreendido?
isenção deve existir
perante sistemas pretéritos
assim como perante os césares loucos
registados pelos historiadores
que sonhavam com a romana república
E nas palavras de um pequeno grande homem António Ferro, que também agigantou anões e diminuiu gigantes...
aplica-se a todos os grandes pequenos humanos
contrasensos de grandes almas em pequenos corpos
desejamos para lograrmos a rara felicidade de não alcançar...
se acaso o nosso desejo se realiza, longe de sermos felizes, sentimo-nos prejudicados, roubados, com um sonho a menos.
todos os homens são almas gémeas mesquinhas corruptas altruístas assassinas e santas
é essa a marca do homem
Filipe Castro disse...
Eu não tenho é tempo
vi muitos que perderam o último tempo que tinham
vi-os escorrer pelas areias
acreditar que um sistema supera outro
ou que um Cavaco eleito respeita mais o povo que o Dom pela graça de Deus que os desprezava
são ilusões
se o Bin-laden republicano
e o D.Miguel monárquico
aspiravam a sistemas similares
tal deve-se à sua natureza como seres humanos
e só parcialmente aos regimes que almejavam implantar
seja a república islâmica
ou a monarquia grega ou egípcia
os malogros dependem dos homens
que as dirigem
mas também dos povos que aceitam o mando
quanto aos frades armados de D.Miguel
e aos cortejos de funcionários famintos que abandoram Lisboa aos liberais
e ao povo em armas que na serra algarvia espoliou aqueles que lhes tinham roubado o pão
há milhões de páginas
e o exército de D.Pedro liberal requisitou mais fome no Algarve
que o absolutista Miguel
e em Portugal não há disso...há escravos, há egoístas,há indiferentes, há pândegos em grande quantidade e há uma minoria buliçosa que se destaca desta multidão de inertes, se apodera dos seus direitos desprezados e das suas riquezas mal defendidas
Agostinho de Campos
isto resume tudo
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