«As medidas de austeridade recentemente anunciadas pelo governo vieram mostrar, uma vez mais, a persistência de um fenómeno que corrói as bases de um sistema democrático. Nas horas e dias que se seguiram à conferência de imprensa de José Sócrates e de Teixeira dos Santos, os órgãos de comunicação social, nomeadamente as televisões, empenharam-se mais em tornar as referidas medidas inevitáveis do que em promover efectivos espaços de debate em torno das grandes opções político-económicas.
De facto, os diferentes painéis de comentadores televisivos convidados para analisar o chamado PEC III foram sistematicamente constituídos a partir de um leque apertado e tendencialmente redundante de opiniões, que oscilou entre os que concordam e os que concordam, mas querem mais sangue; ou entre os que acham que o PEC III vem tarde e os que defendem ter surgido no timing certo. Para lá destas balizas estreitas do debate, parece continuar a não haver lugar para quem conteste, critique ou problematize o quadro conceptual que está em jogo e as intenções de fundo, ou o sentido e racionalidade dos caminhos que Portugal e a Europa têm vindo a seguir, em matéria de governação económica.
Por ignorância, preguiça, hábito, desconsideração deliberada ou manifesto servilismo, os canais televisivos têm sistematicamente tratado a análise da crise económica como se o intenso debate quanto aos fundamentos doutrinários e às opções políticas que estão em jogo pura e simplesmente não existisse. Com a particular agravante de a crise financeira, iniciada em 2008, ter permitido uma consciencialização crescente em relação às diferentes perspectivas, no seio do próprio pensamento económico, no que concerne às responsabilidades da disciplina na génese e eclosão da crise.
Com efeito, diversos sectores político-sociais e reputados economistas têm contestado a lógica das medidas adoptadas, alertando para o resultado nefasto de receitas semelhantes aplicadas em outros países e denunciado a injusta repartição dos sacrifícios feita por politicas que privilegiam os interesses dos mercados financeiros liberalizados. Mas a sua voz permanece, em grande medida, ausente dos meios de comunicação de massas.
Não se trata de criticar o monolitismo das opiniões convocadas para o debate, partindo do ponto de vista de quem nelas não se revê. Uma exclusão daqueles que têm tido o privilégio quase exclusivo de acesso aos meios de comunicação seria igualmente preocupante. O problema de fundo reside em ignorar, nos dias que correm, o pluralismo de interpretações e perspectivas sobre a crise, sobre os seus impactos e sobre as opções de superação.
Somos cidadãos e cidadãs preocupados com este silenciamento e monolitismo. E por isso exigimos aos órgãos de comunicação social – em particular às televisões, e sobretudo àquela a quem compete prestar “serviço público” – que respeitem o pluralismo no debate político-económico de modo a que se possa construir uma opinião pública mais activa e informada. Menos do que isso é ficar aquém da democracia e do esclarecimento.»
5 comentários :
Pois Agostinho de Campos disse:
um povo que só sabe ler e escrever asneiras não é
um povo feliz
a doença nacional não é o analfabetismo intelectual dos governados
mas sim o analfabetismo moral dos governantes
(leia-se Almeida Santos e similares, monárquicos e republicanos de esquerda e direita incluídos)
isto a propósito de:
Presidência da República em Portugal não tem a mesma função que a Casa Real em Espanha.
A primeira é um órgão político, com toda uma equipa de técnicos,
que pouco fazem e muito ganham....
e uma catrefada de consultadorias
a segunda é pouco mais que um ornamento...pelo menos é comercial
atrai turistas
e a revista ola
um pouco mais de senso crítico ajudava
eu só ganhei $ à custa do Exmo Sampaio...se tivesse ganho à custa de outros
também esses teriam sido bons presidentes
ninguém repara em debates
só meia dúzia de (dezenas de milhares) pessoas vê os debates
cada um enxerga o seu umbigo e pouco mais
e desse estreito ponto de vista
as televisões proporcionam espectáculo
e não vagas noções de pluralismos
e pseudo públicos serviços
João Vasco,
concordo plenamente com a petição
Concordo com a petição, mas não vou assinar uma petição em que o número de BI fica público.
precisamente ricardo: já tinha concordado com o teor da petição quando a li no arrastão, mas nessas condições nem pensar em assinar...
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