Caro Filipe Moura, para além de ser um bom escritor, o Vargas Llosa não é tão ultra-mega-hiper-neoliberal como alguma direita blogo-esférica gostaria que o fosse. Considera o seguinte.
- «With regard to religion, gay marriage, abortion and such, liberals like me, who are agnostics as well as supporters of the separation between church and state and defenders of the decriminalization of abortion and gay marriage, are sometimes harshly criticized by other liberals who have opposite views on these issues. These discrepancies are healthy and useful because they do not violate the basic precepts of liberalism, which are political democracy, the market economy and the defense of individual interests over those of the state. For example, there are liberals who believe that economics is the field through which all problems are resolved and that the free market is the panacea for everything from poverty to unemployment, marginalization and social exclusion. These liberals, true living algorithms, have sometimes generated more damage to the cause of freedom than did the Marxists, the first champions of the absurd thesis that the economy is the driving force of the history of nations and the basis of civilization. It simply is not true. Ideas and culture are what differentiate civilization from barbarism, not the economy. The economy by itself, without the support of ideas and culture, may produce optimal results on paper, but it does not give purpose to the lives of people; it does not offer individuals reasons to resist adversity and stand united with compassion or allow them to live in an environment permeated in humanity.» (Mario Vargas Llosa, Confessions of a Liberal)
3 comentários :
Eu nunca o ataquei: não atacaria o meu escritor favorito vivo. Defendê-lo de mim é que não tens. Agora um tipo não precisa de ser o João Miranda para ser de direita. E o Vargas Llosa é de direita.
não é chomsky mas é muito lúcido
se é hetero homo formicida fascizóide ou o que quer que seja isso pouco importa
um homem mede-se pela extensão do seu raciocínio
lógico
e pela beleza dos pensamentos que produz
A especialização leva à incomunicabilidade social, à fragmentação do conjunto de seres humanos em guetos culturais de técnicos e especialistas, aos quais a linguagem, alguns códigos e a informação progressivamente setorizada relegam naquele particularismo contra o qual nos alertava o antiquíssimo adágio: não é necessário se concentrar tanto no ramo nem na folha, a ponto de esquecer que eles fazem parte de uma árvore, e esta de um bosque. O sentido de pertencimento, que conserva unido o corpo social e o impede de se desintegrar em uma miríade de particularismos solipsistas, depende, em boa medida, de que se tenha uma consciência precisa da existência do bosque. E o solipsismo - de povos ou indivíduos - gera paranoias e delírios, as deformações da realidade que sempre dão origem ao ódio, às guerras e aos genocídios. A ciência e a técnica não podem mais cumprir aquela função cultural integradora em nosso tempo, preci-samente pela infinita riqueza de conhecimentos e da rapidez de sua evolução que levou à especialização e ao uso de vocabulários herméticos.
A literatura, ao contrário, diferentemente da ciência e da técnica, é, foi e continuará sendo, enquanto existir, um desses denominadores comuns da experiência humana, graças ao qual os seres vivos se reconhecem e dialogam, independentemente de quão distintas sejam suas ocupações e seus desígnios vitais, as geografias, as circunstâncias em que se encontram e as conjunturas históricas que lhes determinam o horizonte. Nós, leitores de Cervantes ou de Shakespeare, de Dante ou de Tolstoi, nos sentimos membros da mesma espécie porque, nas obras que eles criaram, aprendemos aquilo que partilhamos como seres humanos, o que permanece em todos nós além do amplo leque de diferenças que nos separam. E nada defende melhor os seres vivos contra a estupidez dos preconceitos, do racismo, da xenofobia, das obtusidades localistas do sectarismo religioso ou político, ou dos nacionalismos discriminatórios, do que a comprovação constante que sempre aparece na grande literatura: a igualdade essencial de homens e mulheres em todas as latitudes, e a injustiça representada pelo estabelecimento entre eles de formas de discriminação, sujeição ou exploração."
Mario Vargas Llosa
por mim até podia ser monárquico da esquerda republicana
quem escreve assim não tem tendências absolutistas
não é o meu favorito que não os tenho
vivos ou mortos
todos desde o Aquilino ao Chomsky
e do Greene ao Stein
têm algo de interessante em muitas das suas palavras cheias da vida das gentes
mas isenta das ideologias pessoais
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