sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Serviço Público da Grande Entrevista...

Nas últimas 5 edições, a Grande Entrevista, aquela que deveria ser a entrevista de referência em horário nobre da televisão pública, que deveria reflectir as principais preocupações do país, recebeu dois treinadores de futebol (Queiroz e Bento), um presidente de um clube (Bettencourt) e um ex-colega da RTP condenado a 7 anos por pedofilia (Carlos Cruz). Do ponto de vista do serviço público pior que isto era difícil. Aproveita-se apenas a condenação da RTP pela ERC no branqueamento de Carlos Cruz.
Num período de crise profunda seria bem mais interessante dissecar com responsáveis económicos e políticos o processo BPN e BPP que originou o buraco de 4,5 mil milhões de euros com repercussões nos salários em 2011. Seria mais interessante entrevistar equitativamente quem defende políticas de austeridade (como as que afundaram a Irlanda) e quem defende a linha do nobel Krugman, de estímulo da economia através do investimento público. Ou entrevistar os responsáveis dos partidos ideologicamente ligados ao modelo económico que provocou esta crise: CDS, PSD e este PS. Ou ainda convidar um dos responsáveis da banca nacional que participaram na recente especulação financeira de que fomos alvo. Por exemplo, Fernando Ulrich declarou recentemente que não existia especulação. Seria interessante confrontá-lo com a realidade. Dissecar se o seu banco participou ou não nas recentes operações especulativas. E se participou pouco ou se participou muito. E que consequências teve essa especulação para a nossa economia e para os bolsos dos especuladores.
Mas nada disto interessa, está-se já a ver mais servicinho público na próxima semana com o presidente do Benfica, o treinador do Porto, um dirigente da arbitragem ou (anotem bem, porque há lata para tudo) o candidato à presidência da FPF casado com a própria entrevistadora.

3 comentários :

Miguel Carvalho disse...

1. O BPN não foi comprado pelo Estado, mas pelo CGD - logo não há impacto no défice nem nos salários.

2. Os valores que eu vejo para o BPN estão entre os 1 e 2 mil milhões de euros, e o BPP poucas centenas. Nada de 4,5 mil milhões.

3. Esta quantias não foram um custo a fundo perdido. Foram bens que passaram para a posse da CGD.

4. Qual é a actividade especulativa que fomos alvo?

5. Onde é que Ulrich diz que não há especulação? Isso não faz qualquer sentido.

Rui Curado Silva disse...

1- Sendo a CGD do Estado explica-me como é que 4,5 mil milhões de euros não têm impacto na economia, logo nem que seja indirectamente nos défices deste e dos próximos anos.
O impacto nos salários resulta das medidas tomadas pelo governo, não do buraco de 4,5 em si.

2- São efectivamente mais de 4 mil milhões, o último número que vi publicado arredondava mais para 4,5 do que para 4. Estou a falar de BPN+BPP. Ver aqui:
http://www.ionline.pt/conteudo/72717-estado-vende-bpn-livre-da-obrigacao-pagar-os-4-mil-milhoes-injectados-pela-caixa

3- certo. Mas o dinheiro injectado ficou "empatado". E não sabemos durante quanto tempo.

4- Apostas de dívida portuguesa, entre outras. Mas foi nas apostas de dívida que a nossa banca mais desbundou. Gostava de ver o Fernando Ulrich responder em directo sobre essas operações, principalmente as operações relativas a Abril e Maio.

5- Disse em directo no Prós e Contras de 3/10, acrescentou que era tudo uma fantasia, etc.

Song The Sangue disse...

se todos ganham com pareceres jurídicos e consultadorias milionárias que custam mais que os fins a que se destinam

porque é que um banqueiro
não há-de tentar ganhar reservas à custa de um estado que é um risco financeiro cada vez mais elevado para os bancos que o subsidiaram