quarta-feira, 7 de abril de 2010

Pedofilia e Homossexualidade

A alegação de que existe uma relação estreita entre pedofilia e homossexualidade é bastante comum. Mais recentemente tem tomado a forma da seguinte alegação feita por João César das Neves:

«80% dos pedófilos são homossexuais»

É falso. É mentira.

Aqui tomei contacto com o que tem sido estudado a esse respeito, cujo essencial traduzo:

«Não há pesquisa científica legítima que estabeleça ligação entre homossexualidade e pedofilia. [...] Num estudo analisando 269 casos de abuso de menores, apenas dois abusadores eram homossexuais. Mais relevante foi a descoberta de que, em 74% dos casos envolvendo molestação de um rapaz por parte de um homem, este mantinha ou havia mantido uma relação heterossexual com a mãe do rapaz ou outra mulher. Foi possível concluír que o risco de um rapaz ser molestado por um familiar heterossexual era cem vezes maior do que por alguém indentificado como homossexual.»

13 comentários :

João Vasco disse...

Tinha escrito a respeito do facto de César das Neves ter sido condenado por ter feito esta mesma associação falsa entre homossexualidade e pedofilia.

Afinal, parece que foi absolvido em segunda instância. Menos mal, e até parece estranho: um tribunal que valorizou a liberdade de expressão ao ponto de considerar que César das Neves tem o direito de divulgar estas mentiras, como acredito terminantemente que deve ter.

E nós temos a obrigação moral de as denunciar.

João Vasco disse...

Nota:

Eu acrescento "é mentira" depois de dizer "é falso".

Não e por acaso. Precisamente por ter sido julgado em Tribunal, César das Neves está consciente da falsidade das suas afirmações.

Assim, esta afirmação não se limita a ser falsa: ela é desonesta.

Ricardo Alves disse...

JV, realmente a liberdade de expressão inclui o direito de escrever mentiras - por exemplo, que todos os homossexuais são pedófilos. Mas também inclui o direito dos visados de processarem JCN por difamação - que creio que foi o que aconteceu nesse caso.

Por exemplo: imagina que todos os colunistas de jornais começam a escrever que tu és um homicida. É liberdade de expressão? Creio que sim. Mas tens o direito de te sentires difamado e de os processar, reclamando uma indemnização.

no name disse...

bom, difamação não é liberdade de expressão: é punível judicialmente! mesmo com a justiça que temos em portugal parece-me difícil um jornalista dizer que o JV é um homicida e não sair condenado...

Ricardo Alves disse...

Mas é liberdade de expressão no sentido em que não há censura prévia: pode publicar. E até nem vai para a prisão por publicar uma coisa dessas...

no name disse...

nessa lógica eu também sou "livre" de roubar um banco, pelo menos se não avisar a polícia antes por forma a que não me "censurem" ;-)

(naturalmente, crimes diferentes têm penas diferentes...)

João Moutinho disse...

Acredito que o vosso blog tem uma certa dívida para com o César das Neves.
É que se este Senhor quer ser levado a sério não deve tomar essas considerações.
Ou seja, não acredito que a maioria dos católicos romanos se reveja nesses "tratados".

João Vasco disse...

João Moutinho:

Eu não falei na maioria dos católicos. Mas falei numa alegação que tenho lido com frequência. Que é falsa.



Ricardo Alves:

Se eu disser que acredito que os militantes do PSD são menos inteligentes que os militantes de outros partidos (atenção: isto é apenas um exemplo!!), e depois vier a verificar-se que eu não tenho forma de provar esta alegação, acredito que seria injusto, errado e perigoso que acabasse por vir a ser punido por esta alegação.

Caberia a outros desmentir-me, caberia a quem me lê constatar a falta de fundamentos para a minha afirmação. Temos de desenvolver este espírito crítico de não acreditar acriticamente no que outros escrevem.

Se a lógica é "podemos acreditar, se fosse falso ele levava um processo em cima", são os ricos e poderosos, com mais recursos para pagar a advogados e recorrer as vezes necessárias, que ficam favorecidos pela lei e pela sociedade.

Se disseres que sou um homicida sem fundamentos que o suportem, eu quero que não te levem a sério. Não quero que pensem que se fosse falso eu te estaria a processar, pois posso não ter tomado contacto com a tua acusação, ou posso não ter recursos para tentar a minha sorte nos tribunais portugueses, pouco conhecidos pela celeridade, eficácia, e previsibilidade das decisões.

Isto é particularmente importante quando muitas vezes é importante criticar os juízes, os tribunais, que geralmente punem quem o faz. Falando em julgar em causa própria... O caso mais recente é o do Emídio Rangel.

Também é particularmente importante quando a questão da corrupção se torna tão preemente, e nãopode ser discutida de frma franca.

Anónimo disse...

Não será antes 80% dos pedófilos são P.S. e da Maçonaria ?

João Vasco disse...

Anónimo:

Faz bem! Não deixe que a realidade, as notícias e os factos destruam os seus preconceitos mais acarinhados!

Ricardo Alves disse...

João Vasco,
o homicídio é uma acusação mais objectiva do que a «falta de inteligência».

O que eu estava a frisar é que a liberdade de expressão não exclui a existência de outros valores, como o direito ao bom nome. E se se pode atacar o bom nome de outrém, também se pode responsabilizar quem o faz sem ter razão.

João Vasco disse...

Ricardo Alves:

A primeira objecção que eu quis deixar clara com o exemplo era que uma coisa é atacar o bom nome de uma pessoa, e outra é atacar o bom nome de um grupo.

Dizer que 80% dos pedófilos são homossexuais é uma mentira clara e objectiva e é muito simples mostrar o disparate que representa. Dizer que existe uma ligação entre pedofilia e homossexualidade, sendo também falso, já é menos óbvio. E acredito que qualquer um deveria ser livre de defender que esta relação existe mesmo não sendo verdade.

Mas aparte desta diferença entre grupo e pessoa, creio que o mais importante são os pressupostos sociais implícitos.
Está implícito que devemos confiar no que é dito publicamente. E o facto de podermos responsabilizar criminalmente quem ofende o bom nome de alguém publicamente reforça essa confiança.

Ora essa confiança é perniciosa, e é em si uma enorme ameaça ao bom nome de quem tem poucos recursos para se defender.

O essencial para proteger o bom nome de todos é duvidar de alegações que não estejam devidamente fundamentadas. Perceber que uma acusação não passa de uma opinião, e que o seu valor é portanto limitado.

Ricardo Alves disse...

A verdade é que os abusos homem-rapaz representam uma percentagem do total de abusos adulto-criança superior à percentagem de homossexuais na população em geral. Os psiquiatras dizem que esses pedófilos nem sequer são homossexuais - e que regra geral até têm relações estáveis com uma mulher - e eu acredito.