sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A esquerda portuguesa não evoluiu nada desde o 25 de Novembro

Para chegar a esta conclusão basta ler os debates travados no Cinco Dias a propósito de textos como este, este, este, este e, mais recentemente, este. Quais são as grandes questões? Os grandes motivos de polémica? Basicamente, deveria haver uma manifestação enquanto decorria a greve geral? Ou isso de manifestações é para precários não sindicalizados que só querem chamar a atenção, e o que se deveria fazer seria mesmo colaborar com os sindicatos nos piquetes de greve? Nos comentários a estes textos encontram-se pérolas de sectarismo que não julguei que fosse possível alguma vez ler. Infelizmente, os autores são anónimos, excetuando o inefável Carlos Vidal. Mas a discussão não deixa de ser profunda e, sinceramente, para além do sectarismo, comprrendo os motivos de ambas as partes.
Também não me é fácil tomar partido na outra questão "fraturante", as manifestações anti-NATO (deve ter sido por isso que eu não fui a nenhuma) e o comportamento dos manifestantes. A questão principal é a seguinte: uma manifestação é aberta a todos os que nela quiserem participar. É deplorável estar a pedir como que um cartão de militante para "autorizar" que alguém se junte a uma manifestação, como fizeram setores afetos ao PCP. Mas por outro lado uma manifestação ("demonstration" em inglês) é a demonstração coletiva de uma posição e não deve servir para iniciar uma revolução. Não devem fazer parte de uma manifestação desacatos nem atos violentos. Compreende-se assim que o PCP queira demarcar-se desses atos, sendo que recentemente (o ataque a Vital Moreira em 1 de Maio de 2009) tenha ficado com a reputação de ter causado esse ataque sem ter em relação a ele a mínima responsabilidade. Não se aceita que persista em considerar-se o único dono da esquerda, fingindo ignorar que há outros movimentos.
A necessidade de demarcação da extrema esquerda por parte do PCP vem de longe e teve o seu momento mais tenso há 35 anos: Álvaro Cunhal já dissera que não contassem com o PCP para o aventureirismo que poderia dar em guerra civil. Mas a 25 de Novembro de 1975 um grupo de estarolas quis iniciar um golpe que à partida estava evidentemente condenado ao fracasso. Mesmo assim ainda hoje há quem confunda a extrema esquerda com o PCP e diga que este partido é o responsável pelo 25 de Novembro.
Olhando para trás e comparando com hoje, tem-se um PCP que se considera o único representante da "verdadeira esquerda", mas que tem que partilhar os protestos com uma extrema esquerda que não tem grande respeito pela democracia e por eleições. Do outro lado temos um PS que, está certo, não pode aliar-se a esta gente, mas em minoria teima em aliar-se ao grande capital e praticar políticas de direita. Persiste de todos os lados um sectarismo que não traz nada de bom, mas que nos últimos anos só se tem acentuado. Pelo meio temos o Bloco de Esquerda, a única verdadeira novidade à esquerda nestes 35 anos, mas que não conseguiu inverter esta situação. As guerras à esquerda são sempre as mesmas.

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