terça-feira, 7 de setembro de 2010

Tempo de Antena para um Manipulador

Independentemente de Carlos Cruz vir a ser confirmado culpado ou conseguir ser pronunciado inocente, acho chocante a deferência para com o imenso poder manipulador deste indivíduo e para com as suas jogadas à margem da lei. Desde o famoso directo simultâneo em três telejornais, passando pela sua exibição em programas de variedades durante o processo, até à conferência de imprensa e o Prós e Contras de hoje, Carlos Cruz não perdoou uma. O que é mais lamentável é o serviço público televisivo ter alinhado num programa de pós-julgamento na praça pública - as questões puramente de justiça discutidas eram perfeitamente banais - em que o principal assunto foi o branqueamento dos crimes pelos quais foi dado como culpado Carlos Cruz. Vimos um verdadeiro manipulador em acção, um indivíduo que não tem problemas em fazer uso da boa vontade dos seus ex-colegas, fazendo-se tratar por tu pela apresentadora e pedindo para ter "mais 2 ou 3 minutos de tempo de antena" após ter falado bem mais do que qualquer elemento do público. Vimos um manipulador que usa passagens cirúrgicas das palavras prudentes de uma vítima, de um psicólogo e de um advogado das vítimas, para as colar ao seu discurso de defesa. Assistimos a referências da treta a apoios nas redes sociais e a comentários em que admite violar a lei para defender os seus interesses. E assistimos a um painel que na prática alinhou naquilo, uns por ingenuidade ao citar passagens e problemas do processo lançados pela defesa de Cruz outros por pura passividade crítica à manipulação permanente de Carlos Cruz. A única coisa que há a louvar neste programa é a posição das pessoas que se recusaram a participar naquilo. Uma verdadeira náusea televisiva.

PS- Já que Carlos Cruz gosta tanto de citar as passagens convenientes do processo, gostava que explicasse o ACASO do seu motorista (Carlos Mota) ser um fugido à justiça por pedofilia. Há pessoas a quem neste mundo ocorrem ACASOS tão bizarros como ganhar duas vezes o totoloto. A bizarria prova-se através dos bilhetes registados no quiosque. Onde estão os "bilhetes" que provam o ACASO ocorrido com Carlos Cruz?

9 comentários :

Anónimo disse...

Há que esperar pela publicação do acórdão, sem isso é "chover no molhado" no entanto, se Carlos Cruz, e só falo neste porque o post só a este se refere, se foi condenado com base naquilo que a defesa diz parece-me curto, existe de tudo para a condenação, datas imprecisas, descrições não esclarecedoras, casas não existentes ou se existentes a descrição das mesmas não corresponde à realidade, testemunhas crediveis existem? nada! Datas concretas e conclusivas, que podem não ser provadas pela acusação mas que a defesa também não tem meio de provar o contrário, existem? não! mas existem datas não conclusivas com intervalo de espaço de um trimestre, um trimestre? mas isso são 90 dias... pois são.

Independentemente do Carlos Cruz ser pedófilo, é necessário provar os factos de pedofilia e esses, a julgar por aquilo que a defesa diz e a acusação não desmentiu, no meu parecer como cidadão atento não foram provados.

Hoje é o cidadão Carlos Cruz amanhã pode ser o cidadão António Costa e este cidadão não quer ser julgado por esta justiça.

Dr.Phil disse...

Da violação da lei:
"comentários em que admite violar a lei para defender os seus interesses"


in http://www.smmp.pt/?p=9863
"Ministério Público recusou obedecer a ordem de juiz

A juíza de um processo de tráfico pediu o relatório de acção encoberta da PJ. Cândida Almeida ordenou ao procurador João Melo que não o desse."

Desobedecer à ordem de um Juiz pode ser considerado crime...

Ricardo Alves disse...

Totalmente de acordo, Rui.

Assisti a grande parte do programa. Vi a apresentadora/moderadora a fazer questão de tratar Carlos Cruz por "tu". Vi o brilhantismo das intervenções, talvez muito ensaiadas, de Carlos Cruz (um génio da comunicação televisiva... ou da manipulação). Vi um painel preocupado com questões laterais (Daniel Oliveira e JMF devem andar a basear as suas "opiniões" na leitura do site de Carlos Cruz, que desde a sentença, e na ausência de detalhes públicos das condenações, está a "formatar" a opinião pública). E vi aquela rábula inenarrável de CC a distorcer a seu favor as palavras do único queixoso presente.

No fundo, seria melhor que não se tivesse feito aquele programa.

Uma vergonha.

Luís Lavoura disse...

Não vi o programa. Mas aquilo que me perturba, em geral, é exatamente o mesmo que António Costa descreveu no primeiro comentário a este post. Carlos Cruz, Ferreira Diniz, e outros, podem perfeitamente ser pedófilos, podem perfeitamente ter cometido crimes de pedofilia, mas tenho a vaga ideia de que a acusação não conseguiu provar com um mínimo de firmeza qualquer crime concreto deles. Não soube provar uma data, um local, em que um crime concreto tenha ocorrido. Tenho a impressão de que estas pessoas, e quiçá outras, foram condenadas apenas porque era imprescindível condenar alguém para satisfazer a opinião pública e os mídia, e para escorar a reputação da Polícia Judiciária, do Ministério Público, e talvez dos próprios juízes. Ao fim e ao cabo, era preciso justificar todo o dinheiro e todo o tempo que se gastou com esta porcaria da Casa Pia, e para isso, tenho a ideia, condenou-se sem provas sólidas. O que é extremamente grave.

Ricardo Alves disse...

Luís Lavoura,
«tem a ideia», «tem a vaga ideia». Baseada em quê? Nas declarações públicas dos condenados? Baseada no site de Carlos Cruz?

Como sabe que o MP «não conseguiu provar»? Teve acesso à sentença? A desconfiança sistemática dos tribunais parece fazer escola, neste momento...

Tonibler disse...

Eu estava a ver a SIC Notícias quando foi noticiado, há uns séculos atrás, que Carlos Cruz tinha sido preso por pedofilia no Algarve, juntamente com Ferreira Diniz em Lisboa e Marçal em Évora e que o apresentador estava a ser conduzido a Lisboa para prestar declarações.

Como tal informação só poderia ter saído dos procuradores, porque só eles teriam conhecimento da detenção simultânea dos três, percebi como funciona o sistema de justiça português.

O Carlos Cruz pôs as coisas na televisão? Então? Não é assim que funciona?


PS: Há um nome que ninguém menciona e que deve ser levado em conta quando se fala de justiça em Portugal, porque foi a pessoa que melhor interpretou o valor que a justiça portuguesa tem para o país e a forma de lidar com ela : Fátima Felgueiras.

Doti disse...

Uma pessoa é inocente até prova em contrário, isto é a base de tudo, e é um principio que não pode ser nunca deturpado, certo?

Neste caso porque há de ser diferente? o tribunal condenou CC e considerou-o culpado, mas até agora não apresentou qualquer prova nem ao CC, nem à opinião publica.

A que propósito é que um comum mortal que observa este caso há de considerar Carlos Cruz culpado? com base em quê?

É que concretamente, e legalmente, não foram apresentadas quaisquer provas até ao momento pelo tribunal, mas simultaneamente já se intoxicou a opinião publica durante 8 anos em que se deu um enorme destaque ao CC, e desde dia 3 de Setembro fez-me muito pior do que isso: Culpou-se um individuo sem provas, indiviuo esse que por principio é inocente até prova em contrário, logo culpou-se um inocente sem provas, violando-se o principio base da nossa sociedade de direito!

Vir agora falar-se de manipulação de informação, chamar o CC de manipulador de tempo de antena? que lógica é que isso tem?

Quer dizer, o CC está 8 anos praticamente calado, a ser acusado por todos os lados, a ser usado como manchete de jornais para vender papel, sem se puder defender.
Utiliza a justiça para provar a sua inocência, a justiça falha e mesmo assim culpa-o sem provas. E querem que o homem esteja calado?

O que fariam nessa situação? estariam calados?
Será que não entendem que quem cala... consente!

O facto de CC estar a falar, a aproveitar todo o tempo de antena que consegue, a publicar milhares de provas, a apelar para que o público investigue, etc... isso tudo, por si só é uma prova de inocência.

Reparem, se ele fosse culpado dos 3 crimes de que o acusam, alegadamente não teria cometido apenas esses 3 crimes numa "carreira" de pedófilo, certo? E reparem que ao instigar toda a população a investigar o caso, arriscar-se-ia a que descobrissem muito mais, certo? arriscar-se-ia a em vez de estar 7 anos preso estar porventura muitos mais.

Não se vê culpados a fazer todo este barulho e a instigar a população a investigar o caso... os culpados depois de condenados, quando muito dizem que estão inocentes e calam-se a partir dai.

Carlos Cruz é inocente, até que se prove o contrário, e faz ele senão bem em aparecer, esclarecer, endereçar questões e dúvidas, para que a população não fique embebecida com as informações dadas por um dos piores sistemas judiciais do mundo ocidental e por um jornalismo de algibeira.

Sejam maduros, antes de condenarem alguém nas vossas cabeças, pensem primeiro se tem provas para tal, caso contrário estão a ser muito primários.

Doti disse...

para Ricardo Alves em resposta a isto:
«Como sabe que o MP «não conseguiu provar»? Teve acesso à sentença? A desconfiança sistemática dos tribunais parece fazer escola, neste momento...»

Então e o Ricardo como sabe que o MP conseguiu provar ? teve também acesso à sentença?

É que até agora temos apenas 6 condenados, mas não sabemos nada de provas... sabiamos que estas deveriam ter sido dadas no dia 3, sabiamos que deviam ter sido dadas na quarta feira, na quinta de manhã, na quinta a hora de almoço, na sexta, e neste momento sabemos que tem de ser dadas hoje...

Desconfiança do nossos sistema judicial, nahhh... claro que não, estou confiante que hoje explicam tudo, se não for de manhã, será à tarde, e se não for hoje, há de ser amanhã...

Entretanto temos pessoas condenadas em praça publica sem provas, mas claro que confiamos... e claro que que os condenados (que são inocentes até prova em contrário) tem é de estar caladinhos que nem uns ratos.

Ricardo Alves disse...

«Doti»,
CC e restantes foram condenados pelos tribunais. Já não são inocentes, são culpados. A prova estará na argumentação do acórdão, e não é por ainda não a termos visto que ela deixa de existir.