sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Reconhecer a verdade?

É surpreendente ver um bispo católico integrista a reconhecer a verdade, que «a 1ª República deu à Igreja mais liberdade» (evidentemente, a notícia pode não estar a reproduzir fielmente o sentido da intervenção; mesmo assim...).

Na realidade, a 1ª República libertou a ICAR portuguesa das amarras do regime de «religião de Estado» monárquico, que incluía o controlo estatal da nomeação de bispos e dos professores dos seminários. No entanto, à época a ICAR reagiu violentamente e criou o mito da «horrível perseguição», que dura até hoje. Talvez agora venham dar razão aos republicanos. A seguir.

7 comentários :

dorean paxorales disse...

na transcrição do público, não estou a ver onde o 'mito da perseguição' foi desmentido, pelo contrário, parece confirmá-lo.

por exemplo: "Fernando Rosas alinhou pela mesma avaliação positiva: "A obra de laicização da República, com os seus desvios, com os seus exageros jacobinos, com as suas perversões, é uma das obras modernizadoras mais importantes do século XX português."

Ricardo Alves disse...

O mito da «perseguição horrível» é desmentido nas declarações do Rosas que fizeste o favor de citar, mas também pelo próprio bispo Azevedo (que não é conhecido propriamente por ser «progressista» ou «social», note-se): «O bispo auxiliar de Lisboa, D. Carlos Azevedo, defende que "a I República deu à Igreja mais liberdade, mesmo cortando algumas liberdades". (...) Carlos Azevedo recordou os "muitos custos" que os privilégios da Igreja tinham durante a Monarquia constitucional: o governo controlava as dioceses, os dirigentes e os compêndios dos seminários ou os professores, entre outros factores».

Luís Lavoura disse...

Pois, e, de certo modo, a Igreja ainda ganharia mais liberdade se a atual Concordata fosse alterada.

Seria, por exemplo, vantajoso para a Igreja que o casamento religioso deixasse de implicar o casamento civil. As pessoas passariam a poder casar pela Igreja continuando oficialmente solteiras - o que tem alguns benefícios nalguns casos.

tempus fugit à pressa disse...

horrível, não foi
mas houve alguma
em 1923 um cabo e dois soldados da GNR foram levar para interrogatório um membro proeminente de uma organização católica beirã
em consequência desse episódio, alguns anos depois o cabo em questão foi dar com os costados em patrulhas na serra da estrela
havia pequenos atritos

e o que os padres chamavam desconsiderações
perderam poder e status
até ao advento do estado novo
e devido às suas orientações monárquicas
participavam em muitas das conspiratas e manifestações de desagravo

Ricardo Alves disse...

Luís Lavoura,
a ICAR tornou-se realmente mais livre quando os padres deixaram de ser funcionários públicos. E tornar-se-á ainda mais livre quando deixar de ter «capelães» (pagos pelo Estado) hospitalares, prisionais e nas FA´s.

dorean paxorales disse...

o FR fala em "desvios" e "exageros jacobinos"... talvez seja um salto de fé meu mas interpretei como referência a essas perseguições.

Ricardo Alves disse...

Foi mesmo salto de fé, porque o Rosas mete uns «ses» e «mas» no início da frase para depois dizer o essencial «A obra de laicização da República [se, mas, etc] é uma das obras modernizadoras mais importantes do século XX português».