Fica muito bem a José Socrates querer Defender Portugal, e Construir o Futuro, mas é pena que não tenha ideias muito concretas sobre como alcançar esse objectivo. De resto, em matéria de slogans, o Defender Portugal, e Construir o Futuro – não ganharia nenhum prémio de marketing político; é um slogan insípido e sem identidade ou imagem de marca. E já que falamos de estilo, é também uma pena o partido não utilizar os recursos literários (e poéticos) que possui para escrever o programa eleitoral em português limpo e directo que não recorre ao jargão deselegante das escolas de gestão (alguém que explique ao eleitor português o que significa «a qualificação dos serviços públicos »). Numa altura em que a crise da dívida soberana exige sacríficios sobre-humanos aos portugueses, uma dose pequenina de poesia política não ficaria mal. Pelo menos poderia ajudar a inspirar nos portugueses a capacidade para imaginar melhores dias.
Em política, o estilo conta. Quanto mais não seja para convencer o eleitorado a ler 64 longas páginas de promessas. Mas ao fim de 64 páginas de leitura, o eleitor fica com uma ideia muito vaga sobre o que o PS deseja para o país. É que em vez de fazer propostas concretas, o programa socialista enuncia uma série de aspirações bem-intencionadas. Por exemplo, o PS diz querer “apoiar o crescimento económico, reduzir o desemprego” e “reduzir as desigualdades”. Estas aspirações ficam muito bem ao lider socialista, mas o eleitorado merecia saber que medidas tenciona pôr em prática para as concretizar. Os socialistas também querem “internacionalizar a economia”, mas que sector? A indústria das rolhas, ou a das novas tecnologias? E, já agora, que medidas concretas é que têm em mente?
É também notória a falta de imaginação dos socialistas no que se refere a ideias para a aprofundar a democracia (e não é por falta de inspiração : de Norte a Sul da Europa, o que não falta são projectos de democracia participativa e de maior envolvimento de cidadãos na vida pública). Mas a única ideia proposta é a reforma do sistema eleitoral, e nem aqui o PS arrisca uma ideia concreta.
Numa das poucas áreas (e convenhamos que ninguém vota em partidos com base em propostas para a gestão das florestas ou de como melhorar o programa SIMPLEX) onde há de facto um conjunto de propostas concretas é na área das políticas sociais e de promoção de emprego (programa das Novas Oprtunidades). Mas em vez de chamar para a primeira página – e de construir uma narrativa da campanha em torno de oportunidades de estudo e emprego para os jovens (que representam o futuro) esta área fica enterrada nas páginas 58 e 59 do programa.
Nas democracias maduras, em altura de eleições os partidos políticos apresentam pelo menos uma meia dúzia de propostas concretas sobre as quais a sua visão assenta. Estas são depois escrutunidas pela oposição e pelos media, e do debate o eleitor consegue apurar se estas são viáveis ou se foram escritas nas costas dum envelope.
Infelizmente, o PS dá a entender que o eleitor português ainda não é nem suficientemente maduro para tomar decisões com base em ideias concretas devidamente debatidas, nem intelectualmente sofisticado para querer algo mais do que slogans gastos. Ora, isso é uma pena. É que em vez de ir participar nas eleições de domingo com entusiasmo, o eleitorado de esquerda foi mais uma vez convidado a votar no mal menor.
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