Aqui há uns anos (menos de dez) costumava irritar os meus amigos europeístas dizendo-lhes que não havia nada de comum entre Portugal e a Finlândia. Eles chamavam-me «eurocéptico», e diziam que eu tinha preconceitos contra esse grande projecto de unir politicamente toda a Europa, fadado ao sucesso e capaz de garantir democracia e prosperidade perpétuas para todo um continente. Eu tentava, sem êxito, explicar-lhes que as motivações de cada Estado para aderir à UE tinham sido radicalmente diferentes, que potencialmente divergiriam e que a solidariedade não se decreta.
Chegamos a 2011 e um partido com uma agenda política explicitamente anti-portuguesa teve 19% dos votos na Finlândia (mais 40 mil votos e o seu líder teria sido, presumo eu, convidado para Primeiro Ministro). Os «Verdadeiros Finlandeses» prometem votar contra a ajuda europeia a Portugal. Não sentem qualquer solidariedade, esses «Verdadeiros Finlandeses», com os Estados europeus do sul, que lhes compram os produtos (telemóveis, por exemplo) e deixam os seus reformados adquirir casas de férias ao sol. Não sentem e não sei como alguém tenha podido esperar que sentissem.
A história dos Estados europeus é a de uma construção, muitas vezes violenta, e quase sempre autoritária, de nações uniformes a partir de um centro forte que unificou grupos de pessoas que nem sempre estavam convencidas a viver juntas. A existência do Estado social é uma anomalia europeia continuamente ameaçada por ricos que não querem pagar o conforto dos pobres. Não sei como convencer os finlandeses de que devem ajudar os portugueses. A solidariedade não se decreta. Mas devo acrescentar, contra mim, que eu também costumava argumentar que não havia nada de comum entre gregos e irlandeses. E que hoje, há. E esse é o único ponto que traz algum optimismo.
2 comentários :
ao nível das minhas relações pessoais, noto bastante solidariedade dos gregos e irlandeses por portugal. o mmo já não posso dizer dos espanhóis ou italianos, parece-me q por se julgarem, com razão, noutro campeonato.
A agenda dos Persut näo é anti-portuguesa, é anti-europeia, e näo é de agora, sempre foi. Eles (e a maioria do povo finlandês, diga-se) já näo gostaram de ter que ajudar gregos e irlandeses. Os finlandeses andam a levar cortes nos serviços públicos e prestaçöes sociais em tempo de crise, logo näo lhes apetece entregar o dinheiro dessa poupança a outrém. É natural
Mas também, como pessoa pensante também näo quero mais ajudas aos bancos e políticos corruptos. Nisso concordo com esses "Verdadeiros Idiotas".
As casas no Sul säo dos suecos, que os finlandeses näo gostam do sol nem da boa comida. E continuem a insistir nessa dos telemóveis, que näo väo a lado nenhum. Säo *todos* feitos na China, ainda näo achindraram? Na Finländia sobrou a sede. Ide entäo pedir emprestado à China!
Enviar um comentário