terça-feira, 24 de maio de 2011

O Bloco e as sondagens

Se há dois ou três anos, alguém referisse uma situação em que
há um governo de centro-esquerda muito desgastado;
o desemprego chegou a níveis inimagináveis;
a Comissão Europeia - secundada pelo BCE e o FMI - vai forçar várias medidas de liberalização económica;
o mundo atravessa uma crise provocada pelos excessos da alta finança;
o PCP não tentou ocupar o espaço político do Bloco;
o PS é liderado pela sua ala direita;
a agitação política de rua está ao rubro;
a UE mostra mais que nunca falta de democracia e coesão interna - uma acusação constante do Bloco;

concordaríamos que estaria montado o cenário ideal para um grande resultado eleitoral do Bloco. Dificilmente alguém acreditaria que o Bloco não estivesse bem acima dos 10%. A realidade é bem diferente como indicam as intenções de voto no BE das últimas sondagens (já sem indecisos):
Eurosondagem 6,6%
CESOP 6%
Intercampus 5,6%
Aximage 5,7%

Tenho alguma dificuldade em explicar isto. Será voto útil no PS? Desencanto com os partidos do eleitorado habitual do Bloco?
Alguém?

15 comentários :

António P. disse...

Caro Miguel Carvalho,
E umas explicações simples ( ou simplórias ):
- o Bloco está velho;
- é um partido unipessoal : Louçã
E uma pergunta :
porque é que o BE nunca fez um congresso e aprovou um programa ?
Cumprimentos

JDC disse...

O bloco é um partido de guerrilha, de oportunidade e aquela imagem de arrogância intelectual do Louçã nunca descolou. Assim sendo as pessoas desconfiam e não se revêm num partido que parece andar à deriva.

Luís Mota disse...

Ó Miguel:

e não poderá ser uma questão de sub-avaliação das sondagens? Admito que possa ter influência.

Além disso, acho que pouca gente dá verdadeira credibilidade ao Bloco. Por isso, quando as coisas estão menso más, o pessoal sente-se tentado a dar um voto mais, como dizer, rebelde...

Agora, em fase de negro presságio, a malta acobarda-se. E fica com menos vontade de arriscar... Estão à rasca...

Filipe Moura disse...

Já tinha reparado nisso que escreves aqui, Miguel. Se não fosse andar tão ocupado por mais uma semana já teria escrito sobre o assunto.

Repara nas eleições todas desde 1990 (pelo menos): a esquerda à esquerda do PS só tem bons resultados quando é garantido que o PS ganha (1999 e 2005). Quando a vitória do PS está em dúvida, PCP e (agora) Bloco vêm por aí abaixo (mais o Bloco, presentemente). Há um potencial eleitorado destes dois partidos que, apesar de naturalmente votar neles, claramente prefere o PS no poder. E não há maneira de estes partidos perceberem isso.

João Vasco disse...

O creio que o Ricardo Alves acertou em cheio quando escreveu este texto:

http://esquerda-republicana.blogspot.com/2011/05/tem-os-dois-razao.html

e depois fez o seguinte comentário: sim, têm os dois razão. O BE tentou uma estratégia de indefinição para ter sol na eira e chuva no nabal - não perder os votos daqueles que querem ver o BE como um partido de protesto anti-poder, ou mesmo revolucionário; nem os votos daqueles que querem ver o BE como um partido à direita do PCP, capaz de exercer o poder em aliança com o PS.

Mas esta indefinição acabou por ter o resultado oposto: o BE perdeu de ambos os lados. Quem quer o protesto ou a revolução vai votar CDU ou não votar, os outros vão votar PS.

Mas do meu ponto de vista um voto no BE justifica-se perfeitamente nas circunstâncias actuais. Será o meu voto.

Ricardo Alves disse...

Miguel,
as sondagens tradicionalmente sobrestimam o BE e subestimam a CDU. Não sei se desta vez está a acontecer o contrário.

O Filipe Moura chama a atenção para um facto relevante: o pior resultado da «esquerda radical» no pós-cavaquismo foi em 2002, justamente num contexto em que se esperava uma vitória da «direita». Em 1999, 2005 e 2009, com a expectativa de vitórias do PS, esse sector subiu sempre. Não sei se essas pessoas fogem para a abstenção ou se votam «útil» no PS justamente quando o PS está em risco de perder. Mas concordo com o JV com as razões pelas quais o BE será mais castigado do que a CDU: o número de equilibrismo do BE chegou ao seu limite. Sem que se saiba se cai para o lado da «esquerda de governo» (parecia isso quando apoiou Alegre) ou para o lado da «esquerda de protesto» (quando apoiou o derrube do governo).

Miguel Carvalho disse...

1. Algumas das razões que avançaram (partido unipessoal, partido de protesto) são argumentos que também fariam sentido nas eleições anteriores - ou seja não explicam a queda actual. Dada as novas circustâncias que elenquei, seria de esperar sondagens acima dos 12%.

2. Subavaliação - custa-me a crer. Nunca li nenhuma análise detalhada sobre a sub/sobre-avaliação nas sondagens de algum partido, mas ela estará ligado ao tipo de eleitorado e ao tipo de sondagem. Dado que um e outro não mudaram, não me parece um factor determinante.

3. A única razão que me parece válida, a do Filipe Moura, foi exactamente aquilo que referi no post: voto útil no PS.

Mas insisto, mesmo que em 2002 já tenha sido assim - há aqui dois problemas:

1. 2002 foram as segundas eleições legislativas a que o Bloco concorreu! Era um partido novo ainda em crescimento.

2. Nunca como hoje, se juntaram tantas características conjunturais com um potencial de crescimento do Bloco.

João Vasco disse...

«1. Algumas das razões que avançaram (partido unipessoal, partido de protesto) são argumentos que também fariam sentido nas eleições anteriores - ou seja não explicam a queda actual. Dada as novas circustâncias que elenquei, seria de esperar sondagens acima dos 12%.»

Não percebeste o que quis dizer. Durante anos o BE conseguiu com a indefinição estratégica a esse respeito cativar essas duas franjas inconciliáveis do eleitorado, cada uma com o seu pensamento propiciatório e algum desconhecimento.
Quando confrontado com a necessidade de definição (consequência do apoio a Manuel Alegre, da votação do PEC, dos cenários de moção de censura, etc.), o BE poderia ter feito uma opção e perder uma dessas franjas, ou tentar continuar com o equilibrismo num jogo de tudo ou nada.

Optou por esta segunda opção, só que em vez do tudo, como antes, foi o nada.

João Vasco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miguel Madeira disse...

"porque é que o BE nunca fez um congresso e aprovou um programa ?"

O BE faz congressos de dois em dois anos (o último foi há umas 3 semanas).

HY disse...

Que tal pensar que alguns eleitores potenciais do Bloco não apreciaram nada ver o Bloco a votar ao lado da direita mais radical dos últimos anos para fazer cair o governo do PS e contribuir para um governo de direita ultraliberal que só fará amargurar ainda mais aqueles que o Bloco diz defender?... Pode dar jeito para ir para a rua - embora eu ache que a rua é mais pavorável ao PC do que ao Bloco - mas não convence quem acredita que o Bloco devia contribuir para defender as as camadas populares, não para atirá-las à feras...

Maquiavel disse...

Sempre a ladainha do costume "ai o BE e o PCP conjuraram para fazer cair um governo do PS e abrir as portas à direita".

A malta cobarda-se, e como tal leva com o que merece. Noutros países o BE funcionaria como contrapeso aos desvios de direita do PS dentro do Governo. Mas o PS näo se quer aliar ao BE nem ao PCP (cruzes!) para formar Governo, prefere o PSD (Soares II)... ou o CDS (Soares I, Guterres II).

Se o PS fosse de esquerda como apregoa aos 10.000 ventos, teria metido o BE no governo em 2009. Mas isso implicaria voltar a política à esquerda.
O PS só quer agradar é à direita, e joga com a cobardia eleitoral dos portugueses. Simples.

Miguel Carvalho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miguel Carvalho disse...

Maquiavel,

discordo totalmente. Se há na esquerda quem mais se tem afastado é o BE e o PCP. Quem é muito claro a pôr condições prévias tem sido o BE e o PCP, ainda há dias o Jerónimo deixava isso claro. O PS não faz o discurso do "só queremos o BE, se A e B e C".

"Mas isso implicaria voltar a política à esquerda. " - lá está!! Exactamente essa a ideia, o PS que se adapte. Numa possível coligação, onde um dos parceiros tem SEIS vezes mais deputados do que o que o outro, parece-me mais óbvio quem é que deveria estar disponível para fazer mais concessões.
Mas isso não passa pela cabeça da esquerda de protesto.

Com grande pena minha.

João Branco (JORB) disse...

o Bloco tem caído porque é fraquinho e tem feito uma campanha fraquinha.

e também porque nas últimas eleições propunha que o país se endividasse mais um bocado

e agora, o que é que propõe o bloco?