Não me indigna nem me entusiasma a proibição do abate ritual de animais (kosher ou halal). Se concordo que não anestesiar um animal antes de o matar é uma crueldade desnecessária (ainda pior quando se reza aos ouvidos do pobre bicho enquanto se lhe corta o gasganete), parece-me um exagero sentimentalista a ideia de que os animais de outra espécie que não a nossa têm direitos inalienáveis. Todavia, por princípio não aceito que um grupo de indivíduos se reclame o direito de fazer qualquer coisa que me é proibida por lei só porque seguem uma religião, seja ela qual for. Portanto, estou a favor. Porque, embora resolutamente antropocêntrico, não entendo por que a religião ou a tradição hão-de ser fonte de direitos, como pretende certo reaccionarismo pós-modernista.
E mais: como temem alguns judeus, ficaria realmente entusiasmado se se proibisse a circuncisão, sem motivo médico, de menores de idade. A integridade dos órgãos sexuais das crianças parece-me mais importante do que qualquer fantasma de «anti-semitismo» ou «islamofobia» que se queira invocar. Apedrejai-me, clericais.
[Esquerda Republicana/Diário Ateísta]
16 comentários :
Portanto, o Ricardo Alves está a favor da lei apenas porque é a lei, e apenas porque quem discorda da lei o faz por seguir uma religião.
São argumentos muito fracos.
Luís Lavoura,
há duas partes.
1. Porque aceito esta lei (sem grande fervor): «(...) concordo que não anestesiar um animal antes de o matar é uma crueldade desnecessária (...)».
2. Resposta a uma objecção habitual: «(...) não aceito que um grupo de indivíduos se reclame o direito de fazer qualquer coisa que me é proibida por lei só porque seguem uma religião, seja ela qual for (...)».
Ricardo Alves, a sua frase crucial é, precisamente, "não aceito que um grupo de indivíduos se reclame o direito de fazer qualquer coisa que me é proibida por lei".
Quer isto dizer que, qualquer coisa que seja proibida por lei, o Ricardo Alves acha muito bem e não protesta, e fica chateado se algum grupo de indivíduos violar essa lei. Ou seja, o Ricardo Alves é sempre a favor de todas as probições legais, ainda que eventualmente elas sejam estúpidas ou injustificáveis.
Segundo percebi, aquilo a que o Ricardo se opõe é o direito à excepção com base na filiação religiosa.
Eu também me oponho a isso, seja a lei idiota ou não. A lei é igual para todos.
Ricardo,
Acho pouca piada a textos que argumentam como se salivassem. Mas isso é apenas uma questão de gosto. Quanto a eu ser reaccionário, ou escrever reaccionarisses, admito que seja uma questão de opinião, embora ache um pouco triste essa mania de ler de forma simplista o que os outros escrevem. Já quanto a eu escrever coisas pós-modernas, aí acho que o delírio passa os limites da credibilidade que um autor deve exigir de si mesmo.
Cumprimentos.
Não sendo este texto um exemplo, a proibição de certas práticas só porque são práticas religiosas é, em si, a imposição de uma concepção do mundo. Basta olhar para o que se passa no PAN e perceber que, não sendo uma religião, assume exactamente os mesmos contornos.
isso da integridade dos orgãos sexuais das creanças
soia ser uã frase do Michael Jackson?
Porfírio,
não sei onde é que há saliva. O tema não me entusiasma. E foi o Porfírio quem enveredou pela caricatura dos «iluministas» mauzões que são contra a tradição. Fazer isso equivale a defender... a tradição pela tradição.
Exacto, Francisco.
JDC, o líder do PAN é também presidente da União Budista portuguesa. Espanta-me que as pessoas não tenham compreendido isso.
Só o espanta se achar que o budismo é uma religião, que não é. No budismo não há Deus. É, quando muito, um misticismo... Além disso, o programa do PAN pode ser defendido sem recorrer ao budismo, embora eu ache os argumentos inválidos ou fracos.
É evidente que todo o programa do PAN pode ser defendido por um não budista. A maior parte dos vegetarianos nem sequer são budistas. Mas o budismo é uma religião. Até tem esse estatuto reconhecido por lei...
E o panteismo, Ricardo Alves? Também é uma religião?
Há várias religiões panteístas, como há várias religiões monoteístas.
Ricardo,
O budismo pode ser reconhecido legalmente como religião, mas é uma religião sem deus. É assim uma religião ateia, vá. É uma filosofia de vida com fundamentos que vão para lá daquilo que pode ser cientificamente comprovado e, por isso, necessita de fé. Fala-nos de reencarnação e de um Nirvana final, tudo ideias muito místicas e não verificáveis.
Mas tirando a visão estritamente biológica da vida, todas as correntes de pensamento têm os seus "saltos de fé". O comunismo, por exemplo, acredita num super-homem, num objectivo final, numa superação do ser humano quando nada na evolução de Darwin nos diz que a evolução das espécies se faz segundo uma linha condutora mas sim sempre em adaptação ao meio.
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