terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Bom demais para ser verdade Sr. Presidente

Os lucros de 140% obtidos por Cavaco na venda de acções do BPN em apenas dois anos estão bem acima da média dos lucros dos investidores de Bernard Madoff. Para atrair novos investidores Madoff gabava-se em festas de ricos de ter obtido retornos de 18% para os seus melhores clientes. Se há alguma coisa que a leitura de "Too Good To Be True" de Erin Arvelund revela é que a fraude de Madoff foi possível e tomou a dimensão que tomou porque os clientes nunca questionaram os métodos empregados para obter tamanhos lucros. Quem tinha uma formação mínima em economia sabia que aquilo era bom demais para ser verdade e foi essa linha que definiu o que era credível do que era uma fantasia financeira, que distinguiu entre os economistas, investidores e analistas honestos, os que se recusaram a aprovar o negócio de Madoff, e todos os desonestos que foram cúmplices da fraude.

Cavaco é um economista. Sabe muito bem que um lucro de 140% em dois anos (ou mesmo em quatro) requer uma justificação muito forte para ser credível. Aliás foi o próprio Cavaco que em 1987 utilizou a expressão "gato por lebre" para classificar lucros estratosféricos da bolsa de Lisboa que resultaram no maior crash da bolsa nacional até então. A única fuga possível de Cavaco na entrevista de ontem foi dizer que não sabia quanto tinha ganho. O que contradiz as palavras que profere logo a seguir quando se classifica de "muito rigoroso" e de "mísero professor". Se é tão rigoroso não sabe que ganhou 140% num investimento? Não sabe quanto investe? Que rigor é esse? Um "mísero professor" (de economia) não se interessa por um investimento que dá 140%? Então para que investe? Um mísero qualquer interessa-se por um investimento que dá 140% nem que sejam 10€, o mísero ganha 24€, não despreza ganhos desta ordem.

Se há alguma coisa verdadeiramente honesta a concluir é que Cavaco não foi honesto. Não violou nenhuma lei, mas não foi honesto com a economia e nem sequer foi honesto com a sua própria ideologia política. A sua linha política, uma democracia-cristã conservadora, também desaprova este tipo de práticas. Cavaco foi cúmplice de uma onda de xico-espertismo que teve consequências nefastas na nossa economia, que produziu desemprego e prejuízos de milhares de milhões de euros. Os portugueses devem por isso sancioná-lo nas urnas.

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