quarta-feira, 20 de abril de 2011

O FMI não se transmite por via oral

Que o PCP não reúna com o FMI, parece-me lógico. O PCP vive numa esquizofrenia permanente em que se confunde a contaminação ideológica no debate político (por exemplo, o slogan "esquerda patriótica" é bem capaz de ter vírus de direita) com uma efectiva contaminação física e material. Só isto explica que em diversas manifestações não poucos militantes do PCP adoptem mímicas próprias de quem foge de doentes altamente contagiosos quando se cruzam com aderentes do BE. Se não o tivesse visto com os meus próprios olhos não acreditava. É infantil e é uma espécie de McCartismo revisitado: convives com um traidor, logo és traidor. Versão FMI: estiveste fechado numa sala com traidores, logo és traidor.

Já li e ouvi as justificações de recusa da reunião com o FMI da parte de Louçã e do BE. Acrescento apenas um elemento para reflexão: sabe-se que há técnicos do FMI a defender a reestruturação da dívida em off. Não é esta uma das soluções preconizadas pelo BE? Concordo com os argumentos utilizados na justificação, mas não vejo como podem justificar a recusa em reunir. Resta o factor simbólico do contacto físico, ou seja a higiene política levada ao extremo, à PCP. Não gosto e faço votos para que não se volte a repetir.

6 comentários :

João Vasco disse...

Pelos vistos foi um tiro que saiu pela culatra.

Para melhor passarem a sua mensagem de aversão ao FMI, decidiram não comparecer. Outros aproveitaram para reforçar a mensagem de que estes partidos só protestam e não oferecem soluções, e essa mensagem está a colar bem melhor.


Mas na verdade eu acho que este caso é mesmo pouco importante. Melhor teria sido comparecerem, mas sejamos realistas e reconheçamos a irrelevância dessa comparência.

O que quer que dissessem não iria fazer qualquer diferença. Sejamos realistas.

Ricardo Alves disse...

Eu concordo com o João Vasco: não sei porque se dá tanta importância a estas negas de entrevistas. Eles iriam lá para ouvir diktats. Decididos por burocratas estrangeiros, que eles não convidaram. E que não serão eles a aplicar. Não fazia sentido. E não tem grande importância. Ou achas realmente que iam acordar a reestruturação da dívida com o Jerónimo e o Louçã?

no name disse...

mas, ricardo e joão, não são o bloco e o pcp que querem ser a "grande" alternativa de esquerda que vai governar o país a partir do verão? pois das duas uma: ou querem, acreditam, e nesse caso teriam ido às reuniões, pois o fmi cá estará no(s) verão(ões); ou não querem, não acreditam, efectivamente já reconhecem a sua derrota, e nesse caso para quê perder tempo... concordo com o rui (e com o miguel uns posts mais abaixo).

João Vasco disse...

Ricardo Schiappa,

O facto de não terem feito nenhuma coligação pré-eleitoral responde à tua pergunta...

Pelos vistos estão a concorrer só por deputados, o que já é bastante.

João Vasco disse...

Dou como certo que a direita conquiste o governo. O que está em questão é se conseguem (PSD+PP) a maioria do Parlamento, ou não.

Filipe Moura disse...

Rui, a verdade é que, na prática, tudo o que dizes sobre o PCP se aplica ao Bloco. O Bloco tem medo de perder terreno para o PCP, e por isso segue todos os seus passos. Isto apesar de, nas últimas legislativas, ter ficado à sua frente! Já foi assim na moção de censura e é agora neste caso das reuniões com a troika.