domingo, 3 de outubro de 2010

Negligência política? Um grave precedente

O ex-primeiro-ministro islandês Geir Haarde vai ser levado a tribunal - um tribunal criado especialmente para o efeito - pelos seus actos alegadamente negligentes enquanto chefe do governo. Este dado é por si só suficiente para que populistas e demagogos comecem a pular de alegria. A estes pouco importa a acusação, o enquadramento legal do julgamento e as possibilidades de defesa. Se juntarmos o facto de ele ter seguido uma política assumidamente neo-liberal, então a festa está feita.
Como republicano choca-me esta tendência de tratar os políticos como uma espécie sub-humana que deve ser espezinhada. Sejamos claros, a justiça portuguesa tem um registo muito deficitário de políticos levados a tribunal, mas os casos que ficaram por julgar (a meu ver) envolvem apropriação de dinheiros públicos, favorecimentos, tráfico de influência, etc. Negligência política é algo diferente, radicalmente diferente. E Geir Haarde é apenas acusado disso, não de ter agido para aproveitamento próprio ou de alguém, ou de ter praticado atos ilegais.
Um médico pode ser julgado por negligência, por não ter tomado as devidas precauções dada a informação que tinha disponível. Mas um médico ocupa um cargo técnico, o procedimento a seguir está bem definido e este é baseado em critérios claros.
Um primeiro-ministro, por outro lado, tem um cargo político e segue uma ideologia, ideologia essa aliás aprovada pela população. Não há um guião claro pelo qual se deve seguir, nem um critério pelo qual deve ser julgado pelos seus pares. Um neo-liberal defende um mercado onde o único papel do Estado é prezar pelo seu enquadramento legal, um marxista-leninista defende a posse coletiva dos meios de produção. Eu discordo de ambos mas isso não os torna errados ou negligentes.
Se esta caça às bruxas política avançar, será um grave precedente para a política europeia.

4 comentários :

Semisovereign People at Large disse...

Se esta caça às bruxas política avançar, será um grave precedente?'

já houve anteriormente precedentes

relacionados, se um presidente declara a guerra a um estado dentro de uma confederação de estados que se desmorona
não o faz sozinho

no entanto em Haia o parlamento sérvio não foi julgado em bloco

nem nenhum ministro ou responsáveis militares e políticos de menor grau
arranjaram meia-dúzia de bodes expiatórios

aqui é só um ....que responde pela queda do nível de vida de 100mil europeus

Luís Lavoura disse...

Bom post. Concordo.

Anónimo disse...

e podiamos deixar os Fujimoris e quejandos deste mundo saquear países?

para as suas camarilhas


só porque governaram com um programa vago que ninguêm lê?


é a lavoura anda mesmo em baixo


assinado :Chico Barata

ou Francisco Gomes de Azevém e Murilhas Blatta Gomes

Viseu Esquerda disse...

Negligentes foram os eleitores que foram legitimando o percurso islandês rumo ao abismo.
A política é um mero reflexo da respectiva sociedade. Muitos resumem a cidadania a um voto ou a um "gosto" no facebook, depois vêm sempre com a cantiga dos maus políticos que já não suporto ouvir.
Que se cheguem à frente.