quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Ganhaste o Nobel da Literatura, Zavalita

Nasceste em Arequipa. Andaste num colégio interno, o Colégio Militar Leôncio Prado. Frequentaste a Universidade Nacional de São Marcos (contra a vontade do teu pai, que queria que estudasses na Católica). Sentiste a ditadura do Odria. Casaste com a Tia Júlia. És tu, Zavalita. És tu o sartrezinho valente que se candidatou à Presidência do Peru com um plano de privatizações à Margaret Thatcher (apesar de tudo, antes tu que o Fujimori) e hoje escreve artigos (no nada conservador El País) a apoiar o PP espanhol. És um gajo de direita, Zavalita – esta frase demonstra-o inequivocamente. Os blogues de direita hoje exultam com o teu prémio, Zavalita. Provavelmente só te conhecem enquanto comentador político. É que, enquanto romancista, continuaste sempre perfeitamente de esquerda – de direita é que não tens nada, em nenhum dos teus livros. Apetecia-me estar contigo hoje, na Catedral, a beber uma cerveja – ou, melhor ainda, um pisco, dedicado a ti. Parabéns, Zavalita: ganhaste o Nobel da Literatura. E continuas fodido.

4 comentários :

tempus fugit à pressa disse...

meu bom senhor

come-se pão de junça

e analisa-se o livro esquerdista da alma direitista

é como dizer que o Steinbeck é ideológico

nos livros um e outro descreveram realidades
isentas de grafismos ideológicos

descreveram más vidas e boas mortes

logo dizer que os seus livros são de esquerda, são visões embaciadas mas compreensíveis

Ricardo Alves disse...

Continua o quê, Filipe?

Filipe Moura disse...

Continua fodido... Tinhas que ler a "Conversa na Catedral" para perceberes.

Para a Posteridade e mais Além disse...

A literatura, ao contrário, diferentemente da ciência e da técnica, é, foi e continuará sendo, enquanto existir, um desses denominadores comuns da experiência humana, graças ao qual os seres vivos se reconhecem e dialogam, independentemente de quão distintas sejam suas ocupações e seus desígnios vitais, as geografias, as circunstâncias em que se encontram e as conjunturas históricas que lhes determinam o horizonte.
Nós, leitores de Cervantes ou de Shakespeare, de Dante ou de Tolstoi, sentimos-nos membros da mesma espécie porque, nas obras que eles criaram, aprendemos aquilo que partilhamos como seres humanos, o que permanece em todos nós além do amplo leque de diferenças que nos separam.
E nada defende melhor os seres vivos contra a estupidez dos preconceitos, do racismo, da xenofobia, das obtusidades localistas do sectarismo religioso ou político, ou dos nacionalismos discriminatórios, do que a comprovação constante que sempre aparece na grande literatura: a igualdade essencial de homens e mulheres em todas as latitudes, e a injustiça representada pelo estabelecimento entre eles de formas de discriminação, sujeição ou exploração."

Mario Vargas Llosa

continua e continuará a ser um escritor.(ponto final)