- «Os Tratados vinculam os Estados-membros e era previsível que o Tribunal de Justiça Europeu decidisse pela ilegalidade das acções com direitos especiais na PT, por violação do princípio da livre circulação de capitais. Mas o direito é também um reflexo de opções ideológicas e políticas e não uma codificação de escolhas neutras. (...) Hoje, os Estados têm menos direitos que o mercado e, consequentemente, os poderes políticos nacionais encontram-se feridos de morte, sem que exista uma entidade europeia que desempenhe as funções que no passado cabiam ao Estado. (...) O bem comum precisa de mercados livres, mas, como provam muitos exemplos pela Europa fora, requer também uma dose de proteccionismo. A menos que a Europa passe a desempenhar a função protectora que no passado desempenharam os Estados-nação. No fundo, a questão política e ideológica que não tem sido debatida.» (Pedro Adão e Silva)
- «Impunidade, falta de responsabilidade social, falta de ética política, empresarial e pessoal - foi no que deram as receitas da ideologia neo-liberal que prevaleceu nas últimas décadas, contaminando até a esquerda socialista democrática. E que explica a crise económica e financeira sem precedentes que a Europa e o Mundo hoje atravessam. (...) Depois do Governo ver esse interesse nacional traído por banqueiros e empresários compráveis por uns mi(ga)lhões, e de, em estado de necessidade, ter sido obrigado a accionar os direitos especiais que detinha na PT (apesar de poder antecipar a condenação pelo Tribunal Europeu de Justiça), é tempo dos socialistas portugueses pararem de fazer cedências à ruinosa lógica neo-liberal.
É tempo de rever o programa de privatizações previsto pelo Governo, de forma a garantir posições de controlo accionista por parte do Estado em empresas ou serviços de interesse geral ou estratégico, como os CTT, a EDP, a GALP, a REN, as Águas de Portugal, a TAP, e, obviamente, a Caixa Geral de Depósitos.» (Ana Gomes)
E, subitamente, os socialistas (ainda) no poder descobriram que não querem um Estado mínimo, desarmado perante as oligarquias económicas, pelas privatizações, e até põem em causa a União Europeia que ajudaram a construir na forma actual. Onde estavam quando foi aprovado o Tratado de Lisboa, e todos os outros Tratados desde Maastricht que foram feitos justamente para desmantelar o Estado social abrindo novas áreas de negócio para os privados, à escala de todo um continente? Nessa época, qualquer crítico era insultado de «anti-europeu» para baixo.
E, se querem realmente inflectir a viragem à direita dos socialistas europeus, porque não começam por livrar-se de Sócrates? A política de esquerda vai necessitar de novos protagonistas.
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