Que as pessoas gostem de futebol, râguebi, judo ou hóquei em patins, deve ser politicamente indiferente. Há uma parte lúdica da vida sobre a qual a política não tem nada que fazer ou saber (a não ser deixar espaço para que exista).
Que as pessoas projectem relações de poder políticas no futebol (e.g., entre Estados), ou que efabulem sobre um suposto conteúdo político das tácticas e dos «estilos de jogo», é perigoso não tanto por politizar o que deveria ser politicamente indiferente, mas mais por romantizar uma indústria que a partir das emoções da bola se constrói uma imunidade à crítica.
O que interessa no futebol, politicamente, é ser uma das actividades económicas mais mafiosas da Europa actual. Os dirigentes são os seres mais corruptos e broncos que alguma vez são tratados com respeito pelos media, os jogadores são meninos mimados que provavelmente pagam menos IRS do que o mais modesto dos merceeiros, e os «torcedores» legitimam tudo isto quando abdicam da sua razão a favor de emoções que são aceitáveis na privacidade das quatro paredes, mas que se tornam perigosas quando obstaculizam qualquer crítica pública à indústria futeboleira.
E há os políticos, claro. Que geralmente tentam encostar-se às emoções colectivas que o futebol gera para terem eles próprios imunidade à crítica, e que pagam esse «encosto» com o nosso dinheiro, em estádios e urbanizações que beneficiam apenas os dirigentes corruptos e os autarcas de bandeirinha e cachecol.
Alguns blogues de esquerda (e não apenas o Arrastão e o Cinco Dias, mas principalmente o Vias de Facto) passaram as últimas semanas a dissertar sobre as emoções da bola. Seria positivo que aplicassem agora 10% dessa energia na crítica racional da indústria futeboleira. É que o monstro não morreu com o último apito do árbitro.
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