quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Revista de blogues (28/1/2009)

  1. «A realidade resiste bem à má-língua. A religião é que não. O ritual, a suposta virgem, o sagrado e essas tretas, por ser tudo mera invenção e palavreio, são muito vulneráveis à crítica. Ironicamente, a lei só protege a religião da “ofensa” porque a religião não merece respeito. Se merecesse respeito não precisava ser protegida das críticas de ninguém. Quando temos razão não precisamos de nos fazer de ofendidos por discordarem de nós nem pedir que nos protejam da crítica. Nem o crente precisa disso. O religioso é que não pode fazer mais nada a não ser ofender-se a ver se têm pena dele. (...)» (Ludwig Krippahl no Que Treta!)
  2. «A nova Constituição boliviana (...) foi antecedida de uma feroz campanha política em que a religião foi a protagonista. (...) «Sabeis que querem tirar Deus da Bolívia?», «Não sejas cúmplice do pecado. Vota não» e «Escolhe Deus. Vota Não». Noutro momento de propaganda a favor do Não, dois rapazes beijam-se enquanto uma voz off condenatória carpe : «se aprovar a Constituição será permitido o casamento de homens com homens e mulheres com mulheres». De facto, embora nada na nova constituição contemple o aborto ou o casamento homossexual, esta não consagra a sacralidade de óvulos, espermatozóides e embriões. Para além disso, garante a auto-determinação sexual e reprodutiva (...)» (Palmira Silva na Jugular.)

11 comentários :

Héliocoptero disse...

A respeito do primeiro ponto, humor religioso pelos próprios praticantes:

http://www.manygods.org.uk/humour/

E há mais exemplos. Cansa um bocado que as fés abraamicas sejam a medida de todas as religiões e formas de as viver.

Ricardo Alves disse...

As fés abraâmicas são muito referidas porque, bem, em primeiro lugar são as mais numerosas nesta parte do mundo. ;) Em segundo lugar, são as que se queixam mais de serem ofendidas. Nunca vi os pagãos queixarem-se de falta de respeito, embora em princípio não devessem faltar ocasiões: nem sequer podem usar os templos dos seus antecessores! ;)

Mas já vi pelo site referido que os pagãos reconstruídos têm sentido de humor. Portanto, o post do Ludi não é com eles... ;)

JDC disse...

"Quando temos razão não precisamos de nos fazer de ofendidos por discordarem de nós nem pedir que nos protejam da crítica."

O mesmo raciocínio pode ser aplicado a comentários de inferioridade racista ou étnica, a comentários homofóbicos, etc etc. Será assim tudo tão preto ou branco, sim ou não?

Ricardo Alves disse...

JDC,
há uma diferença entre insultar pessoas (és uma besta porque és azul, porque és cientologista, porque és lésbica, etc) ou criticar ideias. Dizer que a cientologia é uma besteira não é o mesmo que dizer que o cientologista é uma besta.

JDC disse...

Então de que forma a lei protege a religião? É proibido dizer que Deus não existe?

Ricardo Alves disse...

Existem limites legais ao discurso sobre religião, por incrível que pareça.

Héliocoptero disse...

Os limites legais existem, embora estejam longe de reunir consenso. No auge da polémica em torno das caricaturas de Maomé, um conjunto de juristas portugueses defendeu a blasfémia como parte integrante da liberdade de expressão. Eu até imprimi a notícia para a poder usar num dia em que fosse preciso.

E, para além de não reunirem um apoio unânime, têm o seu quê de arbitrário precisamente porque conseguem ser arrastadas para a zona cinzenta entre a ofensa gratuita e a liberdade de expressão. Recorde-se o caso de uma campanha publicitária francesa que retratava uma Última Ceia só com mulheres e que foi proibida por ser considerada ofensiva. Curiosamente, o «Código de da Vinci» é muito mais agressivo e nem por isso foi proibido em França (acho...). Talvez seja um problema de memória colectiva: proibir livros soa a abusos do passado, campanhas publicitárias nem por isso.

Ricardo Alves disse...

Héliocoptero,
o cartaz da «Última Ceia» foi proibido por razões muito especiais. Lembro-me de ler na altura que o problema não era o cartaz em si, mas estar exposto de forma bastante impositiva - por exemplo, à saída de estações de metro de forma a que quem saía não podia deixar de olhá-lo. Numa galeria de arte, por exemplo, não creio que fosse retirado.

Héliocoptero disse...

Mesmo que o motivo tenha sido a forma de exposição, continuo a achar o critério dúbio.

Dois homossexuais a darem um beijo numa rua movimentada também pode chocar uma série de pessoas, mas duvido muito que isso seja argumento para proibir essa troca de afectos em público. A menos, é claro, que se considere a religião como um caso especial, o que levanta a questão original dos limites legais particulares.

E do caso do anúncio de Natal das Amoreiras, alguém se lembra?

Ricardo Alves disse...

Sim, na altura pareceu-me dúbio.

O anúncio das Amoreiras recordo-me que chegou a originar manifestações (católicas) de protesto. Como é que acabou?

Héliocoptero disse...

Se bem me lembro, o anúncio foi retirado...

Há pessoas a quem só fazia bem uma dose forte de Monty Python 0:)