Uma diferença fundamental entre a República e a monarquia é a relação com o tempo. A monarquia fundamenta-se (entre outras justificações) numa pretensa necessidade de assegurar uma «ligação» ao passado, numa valorização da «tradição», ou na preservação da «identidade» e da «cultura» nacionais.
A República é o contrário de tudo isto. Um regime republicano não está ao serviço do passado, pelo contrário pretende construir o futuro. Não sendo o passado indiferente, o que interessa à República não é o que fomos, mas sim o que seremos.
Não é por tudo sempre se ter feito de determinada forma que deve continuar a sê-lo dessa forma. A República existe, portanto, para resolver os problemas presentes da população, não para manter ou até impôr, contra os seus interesses actuais, os costumes, a religião ou as instituições que serviram às gerações que precederam biológica ou territorialmente essa população. A ligação ao passado é memorial, mas não nos pode impedir de decidir o que queremos para o futuro.
A República é o regime que assume que as instituições políticas e as opções colectivas não são definitivas. São sempre um ensaio que pode servir as gerações presentes, mas que terá que passar pelo escrutínio dos vindouros para subsistir.
Ser republicano, no fundo, passa por assumir que a mudança é parte da vida, e que é melhor lidar com ela do que tentar desesperadamente amarrarmo-nos ao passado.
7 comentários :
A republica é presente... mas um presente falido e esgotado; o futuro tem que reaver o da estabilidade esegurança do passado - por isso será a monarquia.
Ricardo,
Mais uma vez digo que concordo com a moralidade do teu argumento mas não com as conclusões que desenhas. Sim a mudança faz parte da vida, sim tudo o que fazemos é um ensaio no sentido de melhorar o que já temos, sim o facto de algo existir não lhe confer qualquer valor moral. Mas o argumento que usas para atacar a ideia monárquica é falacioso.
No fundo apenas criticas a ideia monárquica do PPM e meia dúzia de lambe botas que rodeiam o representante dos Bragança e não o principio de organização social da monarquia - que no fundo não tem que preservar qualquer familia em particular no poder nem sequer tem que conferir cargos hereditários. Aliás muitas republicas usam elas próprias o manto da antiguidade para tapar as suas falhas (a tradição "republicana dos EUA é um bom exemplo dissso mesmo) o que me leva a pensar que o argumento tradição não é apanágio das monarquias; é antes o último refúgio de qualquer sistema político que já esteja instalado há algum tempo.
Parece-me a mim que fazes mais uma exposição das diferenças entre progressitas e conservadores do que entre monárquicos e republicanos.
Pedro,
eu nunca vi argumentar a favor da monarquia com argumentos anti-tradicionalistas, ou com o argumento de que os cidadãos devem poder decidir ao contrário da cultura que os envolve e da História que os precedeu. Pelo contrário, vejo os monárquicos invocarem habitualmente a «tradição», os «oito séculos», a «identidade cultural» e a «continuidade» com o passado. E fazem-no com justiça, porque a democracia pretende preservar/celebrar/valorizar isso tudo.
Hás-de concordar que «monarquia progressista» faz tanto sentido como «democracia ditatorial». ;)
Quanto ao circo que rodeia o PPM e a família Bragança, de acordo.
Quanto ao «principio de organização social da monarquia», não sei o que queres dizer.
Ricardo,
A implantação da república em Portugal deve muito à "Pátria intemporal", ao nacionalismo, aos "oito séculos" e à "identidade cultural", conceitos cultivados e usados como arma de arremesso contra o estrangeirado rei pelos intelectuais republicanos.
Trocas a igreja pelo paganismo mação e aquilo que alguns monárquicos de agora invocam bebe do mesmo idealismo de Oliveira Martins, de Antero e do Teófilo Braga dos "Contos Tradicionais do Povo Português". Só difere no sujeito.
A maçonaria é pagã desde quando? Nunca ouvi nenhum culto pagão a falar do arquitecto...
Eu diria mesmo mais: nunca ouvi um arquitecto egípcio a falar de maçonaria.
lol :)
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