Ao debater com crentes (aparentemente católicos) nas caixas de comentários de outro blogue, apercebi-me de como muitos crentes (talvez uma esmagadora maioria), não conseguem separar a questão da existência de «Deus» da respectiva bondade.
Ora, «Deus» existe ou não independentemente da sua «bondade» (ou da sua «maldade»). Mais: antes de abordar a questão das escolhas morais que «Deus» faz (ou não), antes sequer da questão de saber se «criou» um mundo injusto (ou justo), está a questão da existência.
Penso que a confusão dos católicos a este respeito tem duas origens. Por um lado, acham que sem acreditar em «Deus» não há razões para ser «bom». Por outro, acham que o universo tem um propósito (ético).
A primeira ideia é ofensiva, e é desmentida pelos factos. A segunda apela a um desejo de conforto com o cosmos, a uma esperança de que o universo seja mais do que poeira e pedra. É tocante, mas enganoso. E não me parece que seja conciliável com o que observamos na natureza, da violência entre espécies à morte térmica das estrelas, passando pelos tsunamis e pelo cancro da mama.
(Mas é sempre fascinante entender com que medos e desejos joga a religião.)
[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
Ora, «Deus» existe ou não independentemente da sua «bondade» (ou da sua «maldade»). Mais: antes de abordar a questão das escolhas morais que «Deus» faz (ou não), antes sequer da questão de saber se «criou» um mundo injusto (ou justo), está a questão da existência.
Penso que a confusão dos católicos a este respeito tem duas origens. Por um lado, acham que sem acreditar em «Deus» não há razões para ser «bom». Por outro, acham que o universo tem um propósito (ético).
A primeira ideia é ofensiva, e é desmentida pelos factos. A segunda apela a um desejo de conforto com o cosmos, a uma esperança de que o universo seja mais do que poeira e pedra. É tocante, mas enganoso. E não me parece que seja conciliável com o que observamos na natureza, da violência entre espécies à morte térmica das estrelas, passando pelos tsunamis e pelo cancro da mama.
(Mas é sempre fascinante entender com que medos e desejos joga a religião.)
[Diário Ateísta/Esquerda Republicana]
5 comentários :
"Por um lado, acham que sem acreditar em «Deus» não há razões para ser «bom»."
A meu ver, que vale o que vale nem tenho formação em ética, sem Deus não é que não haja razões para se ser bom, simplesmente não há um imperativo, isto é, terá de ser eticamente aceitável ser-se bom ou ser-se mau, uma vez que a moral fica confinada à esfera pessoal. Sem Deus, parece-me, a única forma que a sociedade tem de condenar os seus elementos que optam por serem "maus" é o utilitarismo, como forma de maximizar o bem-estar geral da sociedade, o que será sempre (lá está) relativo...
...E com «Deus» enquanto única garantia do «imperativo ético», caímos numa visão utilitária da divindade.
Parece que não há saída para esta «pescadinha-de-rabo-na-boca».
A menos que aceitemos que sermos «bons» é uma expressão dos nossos deveres para connosco e para com os outros.
O Nietzsche escreveu palavras muito sábias sobre este assunto :o)
Que Deus lhe acuda Ricardo!
Porque razão você tem que meter sempre Deus nos Negócios dos homens?
Ele é bem mais omnipresente na sua vida do que na de um crente!!!
Um crente tem principios e valores - segue-os e não se preocupa mais. O crente sabe que Deus percebe as suas fraquesas, que o ampara, que lhe estende a mão... Mas você passa a vida a mendigar socorro, borrado de medo, mas armado em corajoso - cão que ladra não morde!
Esse Deus, de que você fala, é feito à medida da sua imperfeição e da sua imaginação. Não é o Deus que os católicos seguem!
Zeca:
Obrigado por ilustrar o texto do Ricardo. Acredito que involuntariamente, mas isso não tira eloquência à ilustração, pelo contrário.
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