Em resposta a estas palavras, o leitor Octávio dos Santos escreveu um comentário pedindo-me exemplos. O problema deste pedido é que os exemplos são tantos, que qualquer selecção da minha parte não faz justiça a toda a dimensão do problema em causa. Ainda assim, com algum esforço é possível dar alguns exemplos mais relevantes, e é isso que tenciono fazer neste texto:
Discurso extremista:
Arlen Specter abandonou o partido Republicano alegando que este partido estava a tornar-se cada vez mais extremista, mencionando um obstrucionismo sem precedentes.
Os números dão-lhe razão: desde o número de usos do procedimento parlamentar Filibuster (e da forma dúplice como essa questão é encarada), até ao bloqueio de nomeações (60-4!), passando por todo o tipo de ameaças de obstrucionismo feitas sem pudor.
A este respeito será interessante lembrar as declarações de John C. Danforth, um ex-senador republicano do Missouri, que acreditava que caso Dick Lugar «tendo servido cinco mandatos no Senado dos EUA e sendo a pessoa mais respeitada do Senado, a maior autoridade nas questões de política externa» fosse seriamente contestado nas primárias por outro republicano mais radical, o partido teria ido tão longe que estaria «para além da redenção». O que efectivamente veio a acontecer.
Discurso violento:
Note-se que não pretendo defender limitações legais aos discursos em causa, apenas caracterizá-los como aquilo que são: discursos carregados de violência. Veja-se o caso do ataque a Gabrielle Giffords, alguns dos discursos que o antecederam, e a relação entre ambos aqui analisada:
E há uma série de outros exemplos...
Discurso infantil e irracional
Eis as previsões dos congressistas republicanos a respeito daquilo que iria ocorrer pouco depois do programa de saúde proposto por Obama (já aqui criticado) ser aprovado:
5 comentários :
Quando li isto fiquei a pensar quem é que duvidaria que os republicanos são hoje um partido de idiotas violentos e racistas, empenhados em sabotar o país para não verem Obama triunfar sobre a crise que Bush criou. Fui ver e o sr. Otávio dos Santos acredita que Obama é nigeriano. :o)
sobre a crise que Bush criou?
ó filha a crise é filha de clinton
o Bush só lhe deu um empurrão dos grandes
desregulação da banca e a banca de investimento predatória vem desmandada desde clinton
O Bill da Gaita, o tipo que afundou a Somália ainda mais do que estava...
a luta política pelo ridículo e pelo slogan simplex vem de longe é apelar ao jão baskismus primário
Antes de mais, esclareço o Sr. Filipe Castro que: o meu nome é Octávio, com «c» antes do «t»; a crise foi criada pelos democratas e não por George W. Bush. E pergunto-lhe onde é que ele leu que eu, supostamente, acredito que «Obama é nigeriano».
«Idiotas violentos e racistas» são os democratas, e sempre foram: o Partido Democrata foi, como qualquer pessoa minimamente informada sabe, o partido da escravatura, da segregação e do Ku Klux Klan. O Partido Republicano foi fundado para abolir a escravatura e teve em Abraham Lincoln a sua primeira grande figura. Jefferson Davis, o presidente da Confederação (de estados sulistas) durante a guerra civil, era democrata.
Ao Sr. João Vasco eu pergunto: no que respeita a alegado «discurso extremista, violento, infantil, racional» por parte dos (congressistas) republicanos... é só isto que tem? Muito pouco ou nada. A única pessoa do Congresso referida é Michele Bachmann, e mesmo assim só por causa de uma mensagem em que ela alerta para o perigo de se «matar o conservadorismo». Quer exemplos de verdadeiro discurso extremista, violento, infantil e racional? Consulte o meu blog Obamatório, e em especial o texto «Chamem a polícia!..»
Sobre o ataque a Gabrielle Giffords: o atirador, Jared Loughner, é um esquerdista que gosta(va) de ler o «Manifesto Comunista» e de ver vídeos da bandeira americana a arder. E antes de Sarah Palin utilizar «mapas com alvos» já os democratas o faziam.
«Obstrucionismo» dos republicanos? Pois, eles são tão «obstrucionistas» que, na semana passada, o Senado reprovou por unanimidade (99 a zero!) o orçamento apresentado pela Casa Branca... ou seja, incluindo todos os democratas, que estão em maioria naquela câmara!..
... E, por último, aconselho-o a diversificar as suas fontes de informação. Porquê só ouvir/ver Cenk Uygur? Existem muitos outros cretinos «progressistas» com programas de televisão onde se pode «abastecer» de disparates, insultos e de mentiras: Al Sharpton, Bill Maher, Chris Matthews, Lawrence O'Donnell, Martin Bashir, Soledad O'Brien, Rachel Maddow...
Octávio dos Santos,
«o Partido Democrata foi, como qualquer pessoa minimamente informada sabe, o partido da escravatura, da segregação e do Ku Klux Klan. O Partido Republicano foi fundado para abolir a escravatura e teve em Abraham Lincoln a sua primeira grande figura. »
Isso é verdade. Mas também é verdade que desde então os eleitorados se inverteram completamente (exemplo: o Texas era uma «fortaleza» democrata), e inverteram-se porque as propostas políticas a este respeito também se inverteram: quem foi contra o apartheid e a favor dos direitos civis independentemente da cor da pele foram os democratas, daí essa curiosa inversão do eleitorado.
«A única pessoa do Congresso referida é Michele Bachmann» não, não é. Além de Joe Barton, no vídeo inicial, temos a chefe de pessoal de Allen West. Noutro dos vídeos temos Newt Gingrich, e foram só os exemplos mais à mão. Pediu-me exemplos, tem logo aí uns tantos.
«é um esquerdista que gosta(va) de ler o «Manifesto Comunista»» ah!ah!ah! Por essa lógica o Vítor Gaspar também é marxista - é sabido que leu essas obras e gostou, simplesmente discordou do conteúdo. «ver vídeos da bandeira americana a arder», sim porque era um extremista «libertarian» e acreditava que o estado lhe cobrava impostos ilegitimamente, e por isso é que atacou uma representante democrata.
Caramba, qualquer dia o Ron Paul também é esquerdista, vamos a ver...
«Pois, eles são tão «obstrucionistas» que, na semana passada, o Senado reprovou por unanimidade (99 a zero!) o orçamento apresentado pela Casa Branca...»
Um episódio particular não muda os factos: o número recorde de obstruções usando o Filibuster, o número recorde de não aceitação de nomeações, etc..
«Existem muitos outros cretinos «progressistas» com programas de televisão onde se pode «abastecer» de disparates, insultos e de mentiras: Al Sharpton, Bill Maher, Chris Matthews, Lawrence O'Donnell, Martin Bashir, Soledad O'Brien, Rachel Maddow...»
Pois é, mas este vídeos tinham uma boa compilação daquilo que queria demonstrar. São vídeos de opinião, mas que expõem factos concretos que o Octávio não disputou. Eram esses fatos que queria expor sem ter muito trabalho (podia procurar cada uma das citações originais que é mencionada, mas tenho mais que fazer. Se o Octávio disputar uma em particular, procurá-la-ei).
Caro João Vasco, começo por lhe revelar um «segredo»: quando eu era (mais) jovem e estúp… quero dizer, ignorante e inconsciente, assumia-me como de esquerda e republicano. Porém, cresci, amadureci, li mais e melhor, informei-me, e hoje não sou nem uma coisa nem outra… excepto em relação aos EUA, única circunstância em que sou… pró-(partido) republicano. Sim, antes também eu pensava que os democratas eram os «bons»… ou, vá lá, os «menos maus». Como estava enganado…
Repare: eu não nego que, da parte do GOP, também existem, por vezes, afirmações infelizes e algo incendiárias. Mas são muito, muito, MUITO menos do que as que são proferidas pelos «burros». Mais uma vez aconselho-o a consultar, se ainda não o fez, o meu blog, onde encontrará provas abundantes (registos áudio e vídeo) desse facto. E que bom que seria que os problemas apenas se limitassem às palavras: mais democratas são acusados e condenados por crimes – em especial desvio de fundos e fraude eleitoral, mas não só – do que republicanos. Rod Blagojevich, ex-governador do Illinois, amigo e comparsa de Barack Obama em Chicago, é apenas o exemplo mais recente e notório disso mesmo.
Voltando à História. Houve uma «inversão», mas não aquela que disse. Ao votarem crescentemente no PR, os sulistas são cada vez menos racistas. O PD continua a ser racista, quanto mais não seja porque muitas das suas figuras recorrem constantemente à raça como um factor na política e na sociedade em geral – quando não é ou não devia ser. Ainda agora é frequente acusar-se os críticos de Obama de «racistas», apesar de apenas discordarem das suas ideias e/ou decisões e nunca se referirem à cor da pele – e esta não é importante mas sim o conteúdo do carácter, como afirmava Martin Luther King (que também era republicano).
Sobre quem apoiou, sempre e principalmente, os afro-americanos, não tenha dúvidas: foram os republicanos. Ainda na década de 50, o presidente Dwight Eisenhower (republicano) enviou a Guarda Nacional para o Sul para impor a integração racial nas escolas, uma atitude que foi continuada, e bem, pelos seus sucessores «azuis» John Kennedy e Lyndon Johnson. Porém, não faltavam governadores democratas nos anos 60, como George Wallace no Alabama, a lutar pela manutenção da segregação. E tinham muitos colegas de partido no Congresso a pensarem da mesma maneira: em 1964 a percentagem de congressistas republicanos que aprovaram a lei dos direitos civis foi superior à dos democratas – e entre os que votaram contra estava Al Gore Sr. (exactamente, o pai do «vice» de Bill Clinton). Robert Byrd, senador democrata durante décadas e falecido em 2010, foi uma das grandes figuras do KKK.
Regressemos ao presente… e falemos a sério, com honestidade intelectual. «Gostar de ler» significa, obviamente, concordar com o que se lê… e não só Vítor Gaspar e Ron Paul nunca foram, que eu saiba, marxistas, como não acredito que alguma vez pensassem em pegar numa arma e tentar matar os seus opositores e queimarem as bandeiras dos seus países.
E uma reprovação u-nâ-ni-me (todos os republicanos E todos os democratas!) de um orçamento… democrata no Senado é apenas um «episódio particular»? Pois, tão «particular» que… foi uma repetição do que já acontecera na Casa dos Representantes! Por isso, não me venha com a treta do «obstrucionismo». Os democratas tiveram dois anos, entre 2008 e 2010, em que controlaram tudo – presidência e as duas câmaras do Congresso – e perderam esse tempo aprovando: um «estímulo à economia» de um trilião de dólares que deu em (quase) nada; o «ObamaCare», que como que quer criar um gigantesco «SNS à portuguesa»; e a revogação da «Don’t Ask, Don’t Tell», que havia sido proposta por… Bill Clinton. Para os democratas, «não obstruam» significa «aceitem tudo o que quisermos» e «desistam de defender aquilo em que acreditam».
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