segunda-feira, 14 de maio de 2012

Mais sobre a Primavera Global

Há dias escrevi: «Se desde dia 12 até dia 15 ocorrerem debates, actividades culturais, uma reflexão conjunta de vários movimentos sociais com naturezas e objectivos muito distintos, que possa abranger pessoas distantes do activismo e envolvê-las na necessidade de participar politicamente, esta iniciativa será um sucesso.
Espero que seja uma iniciativa pacífica, e uma mera semente, que possa germinar numa participação política de mais e mais pessoas, cada vez mais consistente e consequente.»


Esta expectativa cumpriu-se? Em relação aos dois primeiros dias posso dizer que nim.

Sim, porque «ocorrerem debates, actividades culturais, uma reflexão conjunta de vários movimentos sociais com naturezas e objectivos muito distintos», porque o ambiente foi sempre pacífico e tranquilo, porque os participantes mantiveram um clima de boa disposição e cooperação suficiente para manter as infra-estruturas, uma boa ocupação do espaço, uma estadia agradável.

Não, porque a iniciativa não ganhou (ainda?) dimensão suficiente para atrair pessoas que desconhecessem os promotores, numa dinâmica de crescimento impossível de ser ignorado. Pelo contrário: apesar de toda a vida que aquele espaço ganhou, poucos souberam destas actividades, e menos ainda foram por elas atraídos ao activismo. Existiu um grande esforço de divulgação, mas parece ter sido insuficiente.

Curiosamente, a actividade chegou em força aos jornais por causa do episódio das vaias a Passos Coelho. Tem o seu lado irónico que, estando eu no Parque Eduardo VII, tivesse sido informado sobre o que tinha acontecido a esse respeito por alguém de fora. Tratou-se de um gesto espontâneo de alguns dos participantes, sendo que a maioria continuou a participar nas actividades programadas para esse dia.
Há formas mais edificantes de travar o debate político, mas perante tanto autoritarismo, corrupção e hipocrisia é difícil não nos envolvermos emocionalmente. Dei por mim a aplaudir o rapaz que fez o relato das vaias.

1 comentário :

Anónimo disse...

João,

«porque o ambiente foi sempre pacífico e tranquilo, porque os participantes mantiveram um clima de boa disposição e cooperação suficiente para manter as infra-estruturas, uma boa ocupação do espaço, uma estadia agradável.»

E porque não havia álcool nem pessoas suficientes para degenerar fosse o que fosse. O cavalheiro que, no 15 de Outubro, resolveu ir para cima das escadarias, já inebriado, provocar a polícia estava lá mesmo ao nosso lado. Desta vez, sóbrio.

Não confundas a minha decepção com cinismo. Mas aquilo mais não era do que um domingo pacato. Até para os padrões da Feira do Livro. Não era, de todo, a manifestação que os cartazes prometiam. O que não é para admirar, tendo sido organizada por quem foi.

O que aconteceu em Madrid e Nova Iorque foi bastante significativo, apesar da dispersão policial. E não digo "mais significativo" porque a comparação não é nada pertinente...