terça-feira, 15 de maio de 2012

A cortina, o fumo e o fogo

Os últimos episódios da «novela» das secretas são bastante ridículos. É irrelevante se Miguel Relvas recebeu ou não emails e até SMS´s de Silva Carvalho. Qualquer um de nós recebe emails não solicitados (chama-se «spam»). Na semana após o PSD ter ganho as eleições, Relvas deve ter recebido 500 CV´s acompanhados de votos de parabéns, sugestões, ideias brilhantes e pedidos de emprego. Diferente seria se se provasse que Miguel Relvas pediu informação classificada a Silva Carvalho, ou um plano de reestruturação das secretas.

Posto isto, é mera chincana política o Parlamento ter chamado Relvas. Note-se que é o mesmo Parlamento que, quase sem pestanejar, elegeu há seis meses (por dois terços) um «fiscalizador» das secretas que declarara «aceitar» a realização de escutas telefónicas em violação da Constituição. Eleger um fiscalizador que não fiscaliza foi rotina sonolenta. Chamar um ministro dá notícias e faz ferver o sangue. Mas é apenas uma cortina que tapa o fumo e o fogo.

Há largos anos que o SIS e o SIED fazem campanha pública pela alteração da Constituição. Já disseram explicitamente que querem violar a nossa privacidade, escutar as nossas conversas telefónicas, seguir-nos por GPS e etc. O fumo estava lá e ninguém dizia nada. Houve até um ministro de Sócrates, Alberto Costa de seu nome, que chegou a apoiá-los sem que a oposição da época reagisse. E eis senão quando nos últimos meses se provou abundantemente que o SIED e o SIS fazem escutas e outras vigilâncias na ilegalidade. E não é só aos dois islamistas do Laranjeiro. É a grupos económicos e até a inimigos pessoais. É este fogo que a opinião pública não pode agora negar que existe e que há que extinguir.

Pois alguém acredita mesmo que um personagem como Silva Carvalho ter chegado a Director do SIED foi um acaso? Que todas as outras chefias e funcionários do SIS e do SIED são gente impoluta? É que o Ministério Público pode vir a investigar mais duas chefias do SIED, para já. E alguém acredita que depois de anos liderados por quem usou o cargo para fins pessoais, exigindo dos subordinados o cometimento de crimes, as gentes do SIS e do SIED tiveram um rebate de consciência e vão porfiar no caminho da virtude e da dignidade cívica? Seria muita ingenuidade. Só quem não compreende o papel das instituições na estruturação das mentalidades e dos hábitos é que acreditaria numa regeneração. A única solução limpa é acabar com o SIS e o SIED. Cortar o mal pela raiz. Até porque ninguém consegue explicar que género de serviço público aquela porcaria poderia alguma vez realizar...

2 comentários :

Unknown disse...

http://abcdosportuguesinhos.blogspot.pt/2012/03/um-avental-de-respeito.html
Temos em comum uma visão similar de um mesmo personagem, que se irá tornar mais influente, consoante for capaz de gerir fácilmente os seus contactos e tramóias.

Ricardo Alves disse...

Acho que não entendeu o artigo. O que eu acho é que, neste caso, não é o ministro que importa. É a instituição «serviços secretos» que não presta mesmo.