domingo, 3 de junho de 2012

Mercado e Desemprego, uma ilustração

Em Carmenia existem dois grandes proprietários de terras: o Abel e o Joel. Existem também 110 camponeses.

O Abel tem minas de cobre, e alguns terrenos pouco férteis.
O Joel tem vinhas de elevada qualidade, e um vasto lago, mas com poucos peixes. À volta destas terras existem montanhas estéreis, e a povoação mais próxima fica muito distante.

Por cada trabalhador nas suas minas de cobre, Abel consegue ganhar 25 moedas (sempre por ano). Mas não é possível manter mais de 40 pessoas a trabalhar nas minas: acima deste valor, novos trabalhadores atrapalham os restantes, sem qualquer produção adicional.
Nos terrenos pouco férteis Abel consegue ganhar 2 moedas por pessoa, e podem trabalhar lá até 300 pessoas.
Abel também está interessado em comprar os serviços de 2 pessoas: um bobo (pagaria até 30 moedas por umas boas gargalhadas) e alguém para efectuar algumas tarefas domésticas (consideraria preferível pagar 35 moedas para não as fazer ele próprio).

Joel consegue ganhar 15 moedas por cada pessoa que trabalhe nas suas vinhas. Até 50 pessoas podem trabalhar nestas vinhas. No lago podem trabalhar até 20 pessoas, mas o máximo que cada trabalhador consegue pescar pode ser vendido por 2 moedas. Joel também está disposto a pagar os serviços de um guarda costas, pelo que estaria disposto a pagar até 100 moedas.

Assumamos que 2 moedas é o suficiente para que um camponês sobreviva com dificuldade, sem dinheiro para poupar para a velhice ou para se precaver para a doença. Imaginemos que 5 moedas é o suficiente para conseguir sobreviver e deixar alguma - quase nenhuma - riqueza aos descendentes, tendo em conta os gastos associados à doença e à velhice.

O que é que acontecerá em Carmenia se os camponeses não se organizarem? Tendo em conta que existem mais camponeses do que trabalhos lucrativos, Abel e Joel não têm de competir pela mão de obra. O primeiro pode oferecer 3 moedas pelo trabalho doméstico, pelo trabalho como bobo e na mina, e o segundo pode oferecer a mesma quantia pelo trabalho de segurança e pela labuta nas vinhas. Contratarão todos os camponeses que desejarem, e ainda sobrarão 17 à procura de emprego pior pago. Estes receberão pouco menos de 2 moedas, e todos terão emprego. Ninguém terá uma vida segura e próspera, a não ser Abel e Joel que terão lucros muito elevados.

E se os camponeses fossem capazes de se organizar, o que aconteceria? Eles poderiam acordar entre si exigir um mínimo de 7 moedas para prestarem qualquer serviço, impondo esta exigência a todos.
Abel contrataria 42 pessoas, pois todos estes serviços valeriam para ele mais do que as sete moedas exigidas. Joel contraria 51 pessoas pelas mesmas razões. Se cada um dos 93 contratados pusesse uma moeda de parte para pagar às 17 pessoas por contratar, estas poderiam receber 5 moedas, e ainda sobraria dinheiro. Abel e Joel continuariam a ter lucros generosos, mas ligeiramente menores.

Claro que, se fossem gananciosos, Abel e Joel amaldiçoariam o acordo dos camponeses, culpando-o pelo suposto ócio remunerado das 17 pessoas por contratar. Mas se o seu objectivo de destruir este acordo fosse alcançado, em Carmenia viver-se-ia muito pior.

Serve esta história para ilustrar o perigo de acabar com as leis que colocam restrições à contratação.

4 comentários :

António Parente disse...

As contas estão mal feitas. O Joel abandonaria a pesca porque só podia vender por 2 moedas e teria de pagar 7. Logo, teríamos 37 desempregados em vez de 17. O custo do subsídio seria 185 e o que sobrava seria 1. Isto retrata, muito bem, duas evidências:

1) Os físicos são tão bons como os economistas a fazer previsões;

2) Mesmo num modelo simples a segurança social entra rapidamente em falência.

Ide levar no déficite ide disse...

Na Joâniabaskânia existem dois proprietários de terras um aparentemente tem minas de cobre nas terras ou então anda a fazer prospecção ilegalmente pois só nos estados unidos e pouco mais ...o direito de propriedade vai muito abaixo ....jãbaixo da superfície

Montanhas estéreis? mas elas parem mesmo ratos?
a joâniabaskânia é peor quaquele planeta cheo de azulóides man...

asserve esta histéria para explicar que o simplício
é doença peor que o panarício...afecta o doente permanentemente e nã tem cura

João Vasco disse...

O António Parente foi quem se enganou a fazer as contas. Claro que o lago estaria abandonado - e bem, tendo em pouca que pouco mais permite que a subsistência - mas haveriam apenas 17 camponeses sem ocupação.

Ora veja: o Joel contrataria 50 pessoas para as vinhas, e o Abel 40 para as minas. O Joel ainda contrataria o segurança, e o Abel o bobo e o trabalhador doméstico. 50+40+1+2=93. 110-93=17, e 17 é diferente de 37. Portanto o António enganou-se nas contas, e dessas premissas erradas decorreu todo o seu raciocínio erróneo (que não se justificaria nem sequer se eu tivesse efectivamente cometido algum lapso).

António Parente disse...

Tem razão, vi mal. Li 30 onde estava 50. Considerando isso, o seu exemplo numérico está correcto.