Todos os analistas políticos concordam que, este ano, as celebrações da «revolução» líbia serão bastante diferentes do habitual. No 41º aniversário da ditadura, há cinco mesitos apenas, a estrela da noite foi um tal de José Sócrates. Só três democracias estavam representadas ao nível de Presidente ou Primeiro Ministro: Malta (que é da vizinhança), a Sérvia (ok, uma «democracia») e Portugal. Não faltavam ditadores africanos (como Ben Ali da Tunísia), para o que foi uma não anunciada festa de despedida.
Eu sei, a política real, os negócios e tal. Mas Kadhafi/Cadáfi/Gadafi, ao contrário de Ben Ali ou Mubarak, não fingia estar a democratizar o regime, e todos sabíamos que era (e ainda é) um louco furioso, com uma longa história de apoio ao terrorismo e capaz de matar o próprio povo. Um pouco menos de cinismo e um pouco mais de inteligência teriam sido atitudes avisadas. A real politik tem os seus novos ricos precipitados.
Como se não bastasse, o desastre Amado fez hoje a sua enésima figura triste, quase lamentando que estejam em queda regimes com os quais havia «boa vizinhança», e queixando-se da «simples leitura ideológica em torno da democracia e dos direitos humanos». Ah, o realismo, tanto realismo. Quando os mortos chegarem aos milhares, o inefável Amado manterá o seu «realismo»? E Sócrates o seu silêncio? Para quando uma diplomacia portuguesa de que nos orgulhemos?
Há quem não fique bem nesta fotografia.
Há quem não fique bem nesta fotografia.
6 comentários :
Um crente na revolução permanente é um excêntrico e não um louco
Apegado ao poder, decerto
Megalómano em algumas coisas
Terrorista como os minutemen americanos?
provavelmente
tirando isso
é sempre fácil ser moralista quando não tem que se "baixar as calcinhas" à realpolitik. mas, da esquerda à direita, não há actor político que não tenha já sujado as mãos (eventualmente para mais tarde se arrepender). a crítica certeira deve ser ao que se vai passar daqui para a frente.
mais ainda, lendo a declaração de amado:
http://www.tsf.pt/PaginaInicial/Internacional/Interior.aspx?content_id=1790706
pode não ser a posição ideal, mas é algo ponderada sem ser aberrante...
Se queriam ser cínicos e fazer real politik, podiam ter sido mais prudentes e ter evitado tirar fotografias na tenda do facínora, ou, pior ainda, ter participado nas celebrações do aniversário da ditadura. É que uma coisa é ser cínico, outra é ser parvo.
E mais, nesta fase poderiam admitir o erro que cometeram e criticar Cadáfi/Kadhafi com um mínimo de veemência. E Amado faz o contrário.
Curiosamente, já tínhamos discutido neste blogue a atitude da diplomacia portuguesa face à Líbia:
http://esquerda-republicana.blogspot.com/2009/09/e-que-tal-discutirpolitica.html
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