sábado, 6 de novembro de 2010

Revista de imprensa (6/11/2010)

  • «O pior que Manuel Alegre poderia fazer seria tentar agradar às segundas, quartas e sextas ao PS; às terças, quintas e sábados ao Bloco; e aos domingos aos seus antigos apoiantes. Quem tenta agradar a todos ao mesmo tempo quase nunca agrada a ninguém. Há equações impossíveis: em tempo de crise, não há como casar as direcções destes dois partidos. O mesmo não se pode dizer dos dois eleitorados: nem o eleitor do BE é estruturalmente anti-PS, nem o eleitor socialista está satisfeito com as grandes opções deste Governo.

    Manuel Alegre tem um caminho e tem sido esse que, nos últimos meses, tem seguido: não se preocupar com esta contradição. Dizer o que pensa e confirmar a independência que o levou a contestar José Sócrates quando muitos socialistas que agora mostram incómodo seguiam o chefe. Sabemos que irá muitas vezes desagradar a direcção do PS, que o gostava de ver convertido a porta-voz do Governo, e que irá desagradar à direcção do BE, que o gostava de ver como uma farpa no pé de José Sócrates.

    Acontece que Manuel Alegre não é candidato a primeiro-ministro. É candidato a Presidente da República. Ninguém pergunta a Cavaco Silva como votaria este Orçamento do Estado. É natural. Não o vai votar. Ninguém tem de perguntar a Manuel Alegre como votaria o Orçamento. Não é ao lugar de deputado que se candidata.


    O que interessa em Alegre e em Cavaco não é se apoiam ou se se opõem a este Governo. Até porque não sabemos se conviverão muito tempo com ele. O que interessa é saber que valores fundamentais defenderão no seu mandato. E aí Manuel Alegre tem um discurso claro. Bem mais claro do que o de Cavaco Silva, para dizer a verdade: a defesa do Estado Social, da Escola Pública, do Serviço Nacional de Saúde e de direitos laborais fundamentais. A agenda que pode hoje definir aquilo a que genericamente chamamos de "esquerda". E que une, se não as direcções do PS e do BE, as suas respectivas bases sociais de apoio.
    » (Daniel Oliveira)

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