sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Hitchens: do ateísmo ao combate ao islamismo

Foi uma excelente iniciativa da Casa Pessoa, a conferência de ontem com Christopher Hitchens. É raro podermos sentir que Portugal não fica de fora do movimento global de ideias.

Hitchens começou com uma citação de Marx, e com algumas memórias, dos anos 70, dos seus contactos com revolucionários africanos de língua portuguesa.

A citação do «ópio do povo», descontextualizada como habitualmente, é reduzida a um bitaite anti-religioso. Na opinião de Hitchens, é mais do que isso: Marx entendia a crítica da religião como o início do processo que liberta o homem para questionar a sua condição.

No início da parte mais formal da sua conferência, Hitchens sublinhou como «Deus» retira o homem da sua liberdade, ao condicionar o seu pensamento ao de um «criador» que estabeleceu o que é certo e errado. Precisou a distinção entre o deísmo (mera fé) do teísmo (que já presume uma religião revelada, com os seus textos dogmáticos e as suas regras normativas inquestionáveis).

Christopher Hitchens é um bom conferencista. Exprime-se com clareza, em frases curtas, leu os clássicos do iluminismo (mais os anglo-saxónicos, todavia), acompanha as descobertas científicas actuais, e trata de questões complexas com frases certeiras, rematadas com o humor altivo típico da sua formação oxfordiana.

Existem, sem dúvida, boas razões para o regresso de um ateísmo combativo: a persistência de irracionalidades supersticiosas que impedem um mundo mais justo; as tentativas renitentes de interferir na política das democracias; e o islamismo radical.

Foi só na parte final da sua intervenção, e em particular no período de perguntas, que Hitchens insistiu mais na questão do islamismo radical enquanto movimento global. Está correcto quando afirma que se trata do único movimento totalitário global em ascensão no mundo actual; e quando acrescenta que boa parte da esquerda europeia renunciou a confrontar esse movimento, com o argumento do «anti-imperialismo»; é injusto quando diz que a Europa, toda, desistiu. Porque, na verdade, muitas correntes políticas na Europa percebem bem o que o extremismo islâmico na Europa significa. A proibição do véu nos serviços públicos, na França de 2004, é um sinal claro de que pelo menos um país ainda entende que o laicismo não se resume à separação entre o Estado e a igreja (católica).

A pretexto de um autógrafo, troquei mais algumas palavras com o homem. Interessava-me sobretudo entender que limites entende que se devem colocar no combate contra o islamismo. Disse-me que Geert Wilders apela aos «sentimentos errados» mas que, se fosse suíço, não saberia como votar no referendo sobre os minaretes («que são a coisa mais bonita no Islão»). Mostrou-se também sensível ao perigo que representam a Arábia Saudita e o Paquistão. A insistência no Irão aparece, portanto, como escusada. E como um alinhamento excessivo com a política externa dos EUA. O que me parece desnecessário.

No fundo, Hitchens ainda tem algo de marxista: a convicção de que é viável uma «guerra permanente» contra os movimentos reaccionários activos no mundo. Mas é lamentável que não tenha retirado a lição do que isso significou no Iraque.

13 comentários :

NG disse...

Tocou-lhe com um dedo, Ricardo?

Ricardo Alves disse...

Não. Ele ainda fez menção de me apertar a mão, mas eu ia com pressa.

Anónimo disse...

Sim... sim... o profeta Hitchens odeia tanto o islam ke nada fala dop affair de sua GB natla com a "malvada" Libia de Kadafi.. ou com Pakistan ou A.Saudita....

Iran?? vão inventar desculpa pra invadir essa nação.. pelo visto...

essa paranoia antislam já me enoja... não passa de novo "macartismo"

Ricardo Alves disse...

Stefano,
não tente dizer isso aos homens e às mulheres que aturam a opressão islamofascista do Hamas, do Hezbollah, do regime torcionário da Arábia Saudita ou do Irão. Respeite essas pessoas.

Anónimo disse...

Hamas e Hezbollah Iran fascistas?? Quem disse isso?? Israel e seus comparsas?
A.Saudita?? Ah.. akele pais amiguinhos dos EUA?? Caramba!!

ta certo... padre Hitchens disse .. tá falado!!

Filipe Castro disse...

:o) Acho que era um comediante inglês que dizia que a única coisa boa no islão é que o símbolo deles não tem ninguém lá pregado.

Stefano: claro que são fascistas. São uns trogloditas violentos e perigosos que nos querem matar a todos.

Anónimo disse...

é verdade!! Fui morto por eles!!!

JDC disse...

Incrível como, para o Stefano, todos os males do mundo são culpa da ICAR mas os radicais islâmicos são uns coitados perseguidos...
Veja o que está a acontecer na Suécia, por exemplo. Nem falo do que se passa na Arábia Saudita, Irão, etc, uma vez que toda a informação que nos chega é manipulada pela CIA e pela Mossad, certo? Aqui na Europa somos todos uns ingénuos paus-mandados, autenticos fantoches dos EUA/Israel, certo?

Anónimo disse...

Stefano,

Os radicais islâmicos pretendem, entre outras coisas, restaurar o califado até à Península Ibérica, tal como era há séculos. Querem mesmo um império islâmico.

Se isto não é imperialismo, não sei o que é o imperalismo.

E o mote do Hamas, que defende a obliteração de Israel, diz bem sobre os seus valores: "Alá é o seu alvo, o Profeta o seu modelo, o Corão a sua constituição: a Jihad é o seu caminho e a morte em nome de Alá é o mais grandioso dos seus desejos."

Anónimo disse...

A.Saudita que é abençoada pelo Ocidente... diga-se de passagem!!
A midia tenta me vender ideia ke Israel é democratico e não é teocratico...

"Os radicais islâmicos pretendem, entre outras coisas, restaurar o califado até à Península Ibérica, tal como era há séculos. Querem mesmo um império islâmico."

PROVAS???

Israel dá motivo pro Hamas ser o "malvadão"

João Vasco disse...

O problema stefano, é que a lógica do "inimigo do meu inimigo, meu amigo é" é uma lógica estúpida.

Os EUA apoiaram os Talibans quando os soviéticos ocupavam o Afeganistão. Agora lutam contra eles. Tu achas que os Talibans se tornaram bons entretanto?
No Irão, idem aspas aspas, com o escândalo dos contras estar relacionado com a venda de armas ao Irão. Agora achas que se tornaram bons?

Aqui não se está a falar em invasões e guerras. Saddam era um ditador (muito apoiado pelos EUA antes de invadir o Kwait, por sinal) e mesmo assim a invasão do Iraque foi um crime.

Mas tens de reconhcer o fascismo e a opressão onde os encontras. Não podes assumir que todos aqueles que lutam contra os EUA são campeões da liberdade, isso é um enorme erro.

Anónimo disse...

Caro Stefano,

As provas são o facto de os próprios radicais o dizerem.

Basta ler Al Zawahiri, por exemplo, que é um dos grandes mentores do radicalismo islâmico moderno, e que queria colocar o Egipto no centro desse movimento. O fundador da Irmandade Muçulmana, Hassan al Banna, desejava a restauração do califado. Também bin Laden já mencionou várias vezes o mesmo objectivo.

Anónimo disse...

Ele, se fosse honesto, admitia que todo aquilo que se passa no Médio Oriente é por causa de Israel.

Quem manda na politica norte-americana são judeos-sionistas e cristãos-sionistas.

Se Hitchens fosse contra o sionismo não tinha carreira...abram os olhos...